“Aí está um verdadeiro israelita, em quem não há fraude”
29 de setembro de 2018Quem é o mais importante (LC 9,46-50)
1 de outubro de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, move-me a escutar a Palavra.
Espírito Santo, toca-me para que possa viver a Boa Nova.
Espírito Santo, renova-me para que neste mês da Bíblia,
me encontre com Jesus presente no Evangelho e nos irmãos.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 9,38-43.45.47-48
Quem não é contra nós é por nós
Lucas 9.49-50
38João disse:
— Mestre, vimos um homem que expulsa demônios pelo poder do nome do senhor, mas nós o proibimos de fazer isso porque ele não é do nosso grupo.
39Jesus respondeu:
— Não o proíbam, pois não há ninguém que faça milagres pelo poder do meu nome e logo depois seja capaz de falar mal de mim. 40Porque quem não é contra nós é por nós. 41Eu afirmo a vocês que isto é verdade: quem der um copo de água a vocês, porque vocês são de Cristo, com toda a certeza receberá a sua recompensa.
O perigo do pecado
Mateus 18.6-9; Lucas 17.1-2
42Jesus continuou:
— Quanto a estes pequeninos que creem em mim, se alguém for culpado de um deles me abandonar, seria melhor para essa pessoa que ela fosse jogada no mar, com uma pedra grande amarrada no pescoço. 43Se uma das suas mãos faz com que você peque, corte-a fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna com uma só mão do que ter as duas e ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga. 45Se um dos seus pés faz com que você peque, corte-o fora! Pois é melhor você entrar na vida eterna aleijado do que ter os dois pés e ser jogado no inferno. 47Se um dos seus olhos faz com que você peque, arranque-o! Pois é melhor você entrar no Reino de Deus com um
olho só do que ter os dois e ser jogado no inferno. 48Ali os vermes que devoram não morrem, e o fogo nunca se apaga.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. O que fazem os discípulos quando encontram um homem que não pertence ao grupo e expulsa demônios em nome de Jesus?
2. Como Jesus julga tal proibição? O que lhes diz?
3. O que Jesus pensa daqueles que levam os outros a pecar?
4. O que diz Jesus para fazermos com nossas partes do corpo que nos incitam a pecar?
5. Como devemos entender estas expressões de Jesus?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O evangelho de hoje contém duas partes: 9.38-41 e 42-48, cuja autonomia literária é evidente (omitem-se os versículos 44 e 46 porque faltam nos principais manuscritos). O texto da primeira parte começa algo surpreendentemente com uma espécie de “interrupção” do apóstolo João a informar a Jesus de que viram “um homem” – permanece anônimo – expulsando demônios em seu nome e que não é um de seus seguidores; e, por isso, cuidaram de proibi-lo de fazer isso.
No livro dos Atos, encontramos que os apóstolos realizavam exorcismos e curas invocando o nome de Jesus (cf. At 3.6; 9.34; 16.18). Ao que parece, era costume invocar um nome poderoso durante a prática de tais ações. João pensa que não convém alguém invocar o nome de Jesus se não pertence ao grupo de seus seguidores.
A resposta de Jesus é clara: “Não o proíbam, pois não há ninguém que faça milagres pelo poder do meu nome e logo depois seja capaz de falar mal de mim. Porque quem não é contra nós é por nós” (Mc 9.39-40).
Nesta resposta, vemos que Jesus faz uma avaliação positiva desta personagem anônima porquanto o invoca, reconhecendo o poder que seu nome encerra e, portanto, é evidente que não será contra ele, não falará mal dele.
Na frase seguinte, observamos que Jesus tem um critério ainda mais aberto: quem não está contra, está a favor. Ou seja, ele aceita diversos níveis ou graus de adesão à sua pessoa, valorizando-os positivamente, ao
passo que considera como contrárias somente aquelas pessoas que assim se manifestam aberta ou explicitamente.
O dito que se segue promete recompensa inclusive a quem fizer o menor gesto – como dar um copo de água – em favor de seus discípulos pelo fato de serem de Cristo.
A segunda parte agrupa uma série de quatro ditos unidos por um tema comum: fazer com que alguém peque ou abandone Jesus. Esta expressão, que aparece no início de cada um dos quatro ditos na voz ativa, significa provocar escândalo no sentido de ser ocasião de pecado, de queda ou de tropeço.
Os quatro ditos começam com orações no condicional (se alguém… se uma de suas mãos) que se referem a possíveis situações de escândalo, seguidas de uma ação que é preferível a que aconteça o escândalo ou pecado.
O primeiro dito refere-se a não levar os pequenos que creem a abandonar Jesus. Observemos que aqui se trata de alguém que escandaliza, que provoca escândalo porque coloca em ocasião de pecado ou de fazer perder a fé os “pequeninos que creem”.
A segunda parte do dito indica que é preferível afogar-se no rio a escandalizar os pequeninos que creem. A medida pode parecer-nos exagerada, tal como os ditos subsequentes quando dizem que é preferível cortar-se os membros que podem ser ocasião de pecado. Expliquemos que se trata de um modo de expressão chamado por alguns de hiperbólico, o qual, mediante o exagero, procura chamar a atenção do ouvinte/leitor para que tome consciência da gravidade do escândalo. Em conclusão, justamente por tratar-se de uma hipérbole, de uma linguagem simbólica, a sentença não pode ser tomada ao pé da letra.
Nos três ditos imediatos, o escândalo não vem de fora, de um terceiro, mas da própria concupiscência. Temos os membros que podem ser ocasião de pecado: mão, pé, olho. Para a Bíblia, as mãos simbolizam a obra do homem; os pés, seu caminhar, seu andar, e seus olhos, o desejo ou projeto.
Diante da possibilidade real do pecado, Jesus ordena uma ação rápida e eficaz: cortar ou arrancar. Logo se segue a motivação desta drástica ação: é preferível perder um destes membros a ficar fora da Vida ou do Reino (são equivalentes) e ir para a condenação do inferno (Geena) por mantê-los. A Geena (ou inferno) é um nome tirado do vale de Ben Hinnon, ao sul de Jerusalém, que com o tempo se transformou em uma espécie de lixão onde o fogo ardia sempre. Daqui foi tomado como imagem do lugar da condenação eterna (inferno).
Portanto, Jesus exorta a evitar firmemente toda ocasião de pecado, com a motivação de fugir à condenação escatológica (ser jogado na Geena e ficar fora do Reino/Vida).
O que o Senhor me diz no texto?
Hoje ouvimos falar muito de tolerância, mas com muitas contradições. Exige-se que sejamos tolerantes com tudo e em tudo; ao mesmo tempo, porém, pede-se tolerância zero para os abusos e delitos.
O evangelho deste domingo convida-nos a meditar sobre a tolerância tal como Jesus a entende e ensina.
De fato, a primeira parte do evangelho é um convite a uma ampliação de mente para não fecharmos em nossos esquemas a ação de Deus, pois não se podem impor barreiras de fora ao Espírito “que sopra onde quer”; porque o Espírito Santo, posto que aja certamente através da Igreja, também pode exercer sua ação benéfica além dela mesma, ainda que de modo misterioso, sempre orientado para ela. Vale aqui o que disse o Papa Francisco aos consagrados em Cuba: “Santo Ambrósio tem uma frase que a mim me comove muito: ‘Onde há misericórdia, está o espírito de Jesus. Onde há rigidez, estão apenas seus ministros’”. Ou seja, toda obra boa é inspirada por Deus; embora quem a realiza não pertença a nosso grupo, quem somos nós para impedi-lo?
Na segunda parte, temos de distinguir entre o primeiro dito e os três restantes. Com efeito, a primeira sentença é uma chamada de atenção para o perigo de escandalizar os pequenos/fracos na fé com condutas incoerentes. Trata-se, neste caso, de um tipo de escândalo de raiz moral, evitável e condenável. Aqui, Jesus pede “tolerância zero”. Em sentido positivo, o Papa Francisco pede-nos para “cuidar da fragilidade”: “Jesus, o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa, identificou-se especialmente com os mais pequeninos (cf. Mt 25.40). Isto recorda-nos, a todos os cristãos, que somos chamados a cuidar dos mais frágeis da Terra. Mas, no modelo ‘do êxito’ e ‘individualista’ em vigor, parece que não faz sentido investir para que os lentos, fracos ou menos dotados possam também singrar na vida” (Evangelii gaudium, nº 209).
Quanto aos outros três ditos, trata-se, antes de mais nada, de um convite à renúncia firme a tudo o que possa ser ocasião de pecado, de ofensa a Deus. Isto nos dá ensejo para insistir na necessidade de recuperar a dimensão de luta própria da vida cristã, com a consequente necessidade de praticar uma autêntica ascese.
Da nossa parte, não nos esqueçamos da motivação que Jesus oferece para tão drástica renúncia: entrar na Vida, entrar no Reino. Em função disto, exige-se de nós a renúncia, a ascese; ser intolerantes em relação a tudo o que nos possa afastar do caminho do Senhor.
Em conclusão, Jesus convida-nos a ser tolerantes, abertos com relação aos diversos carismas que o Espírito Santo suscita na Igreja. Não pretendamos ser os únicos e os exclusivos, tampouco os melhores. Não façamos de nossos grupos cristãos seitas que se fecham em si mesmas e se isolam do corpo da Igreja e do povo de Deus. Contudo, também nos convida a não sermos tolerantes com a tentação e com o pecado, pois não se pode brincar com eles, porque, certamente, a aposta que está em jogo é muito alta.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Que sentimentos experimento ao perceber que existem maneiras diferentes de seguir Jesus?
2. Aceito que haja caminhos e modos diversos de viver a fé cristã, ou considero que minha fé é a única e a melhor?
3. Estou atento para não escandalizar outros com meus comentários e minhas atitudes?
4. Procuro fazer com que minhas palavras e minhas ações deem testemunho de meu amor pelo Senhor e sejam edificantes para os outros?
5. Brinco com a tentação que me leva ao pecado?
6. Tenho firmeza e coragem para romper com o que faz mal à minha vida cristã?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por estares disponível e atender a cada um.
Faze-me tolerante com os que pensam e agem diferentemente.
Que eu sempre cuide da fragilidade do irmão e esteja disposto a amá-lo mais.
Arranca de mim toda necessidade de ser melhor e de ter sempre a última palavra em tudo.
Faze-me dócil a teu Espírito, para que traga sempre tua jovialidade e novidade.
Assim, o Reino será visível e palpável, sentindo-me, junto a outros, comunidade.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, ajuda-me a ser tolerante, respeitando as diferenças”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Esta semana, tentarei ouvir e respeitar alguém que pensa diferente de mim”.
“Visto que sou imperfeita e preciso da tolerância e da bondade dos outros,
também hei de tolerar os defeitos do mundo.”
Santa Teresa de Calcutá