“E todos quantos o tocavam ficavam curados.”
5 de fevereiro de 2018Olhar… escutar… refletir… e orar
7 de fevereiro de 2018Leitura: Marcos 7, 1-13
Alguns fariseus e alguns mestres da Lei que tinham vindo de Jerusalém reuniram-se em volta de Jesus. Eles viram que alguns dos discípulos dele estavam comendo com mãos impuras, quer dizer, não tinham lavado as mãos como os fariseus mandavam o povo fazer.
(Os judeus, e especialmente os fariseus, seguem os ensinamentos que receberam dos antigos: eles só comem depois de lavar as mãos com bastante cuidado. E, antes de comer, lavam tudo o que vem do mercado. Seguem ainda muitos outros costumes, como a maneira certa de lavar copos, jarros, vasilhas de metal e camas.)
Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram a Jesus:
— Por que é que os seus discípulos não obedecem aos ensinamentos dos antigos e comem sem lavar as mãos?
Jesus respondeu:
— Hipócritas! Como Isaías estava certo quando falou a respeito de vocês! Ele escreveu assim:
“Deus disse:
Este povo com a sua boca diz
que me respeita,
mas na verdade o seu coração
está longe de mim.
A adoração deste povo é inútil,
pois eles ensinam leis humanas
como se fossem mandamentos de Deus.”
E continuou:
— Vocês abandonam o mandamento de Deus e obedecem a ensinamentos humanos.
E Jesus terminou, dizendo:
— Vocês arranjam sempre um jeito de pôr de lado o mandamento de Deus, para seguir os seus próprios ensinamentos. Pois Moisés ordenou: “Respeite o seu pai e a sua mãe.” E disse também: “Que seja morto aquele que amaldiçoar o seu pai ou a sua mãe!” Mas vocês ensinam que, se alguém tem alguma coisa que poderia usar para ajudar os seus pais, mas diz: “Eu dediquei isto a Deus”, então ele não precisa ajudar os seus pais. Assim vocês desprezam a palavra de Deus, trocando-a por ensinamentos que passam de pais para filhos. E vocês fazem muitas outras coisas como esta.
Oração:
A Igreja dá-nos, hoje, para nossa oração, mais uma leitura que relembra um dos embates entre Jesus e um grupo de judeus daquele tempo.
O primeiro ponto para nossa oração talvez seja a contemplação da cena. Há dois grupos: de uma lado, os discípulos de Jesus, que são também judeus, mas pessoas mais simples; do outro lado, outro grupo de judeus, fariseus e escribas, certamente menos simples, observadores fiéis da tradição judaica. Os discípulos de Jesus, não se sabe por que exatamente, não cumpriam – ou não tinham cumprido – uma regra da tradição. Os do outro grupo, vendo aquilo, questionam: por que eles não seguem os ensinamentos dos antigos?
Havia utilidade naquela regra; hoje mesmo, quem discordará da razoabilidade por trás das medidas de higiene como lavar as mãos antes das refeições ou os alimentos antes de consumi-los? Jesus, no entanto, não entra nessa discussão. Sabendo que os fariseus perseguiam seu grupo porque já fazia algum “barulho” entre o povo judeu, sabendo que eles queriam demonstrar que seu grupo e ele próprio não eram dignos representantes daquele povo, Jesus leva o “papo” para outro caminho…
Este povo com a sua boca diz que me respeita, mas na verdade o seu coração está longe de mim. A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem mandamentos de Deus. Jesus cita uma advertência de Deus ao seu povo, feita pela boca do profeta Isaías. Jesus afirma aos fariseus que aquela crítica lhes caía bem. Na oração, deixemos que a fala de Isaías, repetida por Jesus, nos interrogue: é algo que serve também a mim? Há alguma chance de que eu fale de Deus, de Jesus, dos santos todos, tendo, porém, o coração distante deles? A boca, órgão exterior, é mais facilmente manipulável… O coração, por outro lado, não é dissimulado. Por onde anda o meu?
Jesus continua a sua crítica. O mandamento de Deus, dado ao povo por Moisés, exigia que se honrassem pai e mãe. Com o passar do tempo, convencionou-se, entre os judeus, que a oferta feita “a Deus” isentava do cuidado com os pais. Ninguém duvidaria da correção ética de um judeu que agisse conforme essa tradição… afinal, Deus em primeiro lugar. E, para os judeus, talvez fosse mais “gostoso” seguir a tradição, pois a oferta a Deus, à vista dos outros, massageia o ego, mas o cuidado com os de casa, muitas vezes, é apenas trabalho. Vendo isso, Jesus não rodeou; disse: Assim vocês desprezam a palavra de Deus, trocando-a por ensinamentos que passam de pais para filhos. E vocês fazem muitas outras coisas como esta.
Ora, a Igreja não nos desincumbe do cuidado com os pais por meio do dízimo. Porém, porque Jesus disse que eles faziam muitas outras coisas como aquela, convém que nós, também hoje, abramos nosso coração ao discernimento. Será que sigo regras – e imponho atitudes – que não representam exatamente o amor do Pai, o cuidado da Trindade pelo ser humano? Será que, como os fariseus faziam, também priorizo a tradição, especialmente aquela que distorce o cerne da Palavra e é, portanto, contra a vontade de Deus? Será que me coloco no lugar do Criador, do Cuidador, estabelecendo, eu, o que deve ser ou não ser, caminhando despreocupado com o que de fato Eles – a Trindade – têm como vontade? Será que eu sou um fariseu ou um escriba do ano 2018? Como é o olhar de Jesus para mim? Quais são os “pais” que eu deixo descuidados com as tradições que eu crio ou apoio? O que é o meu “eu dediquei isso a Deus”, que me deixa em paz comigo, com a comunidade, mas que me coloca cada vez mais longe do coração de Deus?
À luz do Espírito, respondamos a essas perguntas. Peçamos a Ele que nos dê seus dons, que podem nos tornar menos fariseus e mais discípulos. Peçamos a Ele que nos dê os dons que nos ajudam a percorrer o caminho de uma igreja farisaica à Igreja onde Eles vivem – conosco – com alegria.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte