A árvore e as suas frutas (LC 6,43-49)
16 de setembro de 2017Confiar plenamente
18 de setembro de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito de Jesus, Espírito Santo de Deus,
força de vida nova, encoraja-nos,
dá-nos esperança,
constrói um coração novo em cada um,
para que façamos juntos a grande fraternidade
sonhada, vivida, oferecida pela entrega de Jesus
e confirmada pelo Pai na Ressurreição.
Vem a nós, para que aprendamos a ser comunidade,
para que mudemos de vida, para que sigamos Jesus.
Vem, Espírito, vem![1]
TEXTO BÍBLICO: Mt 18.21-35
O empregado mau
21Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
— Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
22 — Não! — respondeu Jesus. — Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes. 23Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. 24Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. 25Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. 26Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor.”
27 — O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. 28O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: “Pague o que me deve!”
29 — Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo.”
30 — Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. 31Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. 32Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: “Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. 33Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você.”
34 — O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
35E Jesus terminou, dizendo:
— É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Qual foi a pergunta que Pedro fez? Quantas vezes se deve perdoar ao irmão? Quem são os protagonistas da história que Jesus contou? Como agiu o rei com seu devedor? Em contrapartida, como agiu este devedor em relação àquele que lhe devia? Qual foi a reação do rei quando soube do acontecido? O que fará Deus com quem não perdoa?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[2]
Depois das instruções sobre o modo pelo qual se deve corrigir o pecador e sobre a oração em comum, Pedro intervém com uma pergunta ao Senhor: “— Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?”. Na maioria das traduções, Jesus responde à pergunta de Pedro primeiramente com um número cujo valor é, antes de tudo, simbólico; em seguida, exemplifica-o e justifica-o mediante uma parábola sobre o perdão.
Enquanto Pedro pensa que está sendo muito generoso, de sua parte, ao chegar a perdoar até sete vezes, Jesus responde-lhe que deve perdoar “setenta e sete vezes”, cujo valor simbólico é claro: é preciso perdoar sempre.
Logo em seguida vem a parábola que tem justamente como pano de fundo o diálogo entre Pedro e Jesus (vv. 21-22) e uma aplicação exclusiva de ordem geral (v. 35).
Podemos reconhecer três atos na parábola:
No primeiro, enfatiza-se a ação do rei que, diante da súplica de piedade do devedor, finda por ter compaixão e perdoar-lhe a dívida.
No segundo ato, contrastando claramente com o primeiro, temos este servo perdoado que não é capaz de perdoar a quem lhe devia. Observemos que há uma grande diferença no montante da dívida. No primeiro caso, fala-se de dez mil talentos, que é uma cifra milionária, impossível de ser paga. No segundo, trata-se de cem denários, que seriam uns três meses de salário, aproximadamente. Muito pouco em comparação com o anterior. Ulrich Luz, em seus comentários ao Evangelho de Mateus, diz que a dívida perdoada pelo rei seria de “bilhões”, e que o que se devia ao servo perdoado seria a 1/6.000.000 parte da cifra anterior. Tentando atualizar as cifras, podemos dizer que um talento equivalia a 21.000 gramas de prata, e um denário a 4 gramas de prata; portanto, um talento seriam 6.000 denários. O denário era a paga por um dia de trabalho; portanto, para ganhar um talento, era preciso 6.000 dias de trabalho, quase 20 anos. Alguns pensam que hoje se pagaria por um talento uns 6.500 dólares; assim, 10.000 talentos seriam: 65.000.000 (65 milhões de dólares). Um denário seria 0,75 de dólar.
Justamente este contraste, nas cifras e nas atitudes, é o que revolta tanto os outros empregados que foram contar ao patrão, tal como se narra no começo do terceiro ato. Nesta terceira cena, o rei e o devedor voltam a encontrar-se, e o rei repreende sua atitude mesquinha ou miserável. O versículo chave está justamente aqui, com as palavras do rei: “Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você” (v. 33). Observemos que se faz dupla referência à palavra “compaixão/pena”: isto é uma clara vinculação e dependência entre a atitude humana exigida e a atitude divina: “Deus teve compaixão/misericórdia/pena de você; você deve ter compaixão/misericórdia/pena de seu devedor”.
A conclusão final (v. 35) convida-nos a uma leitura teológica da parábola, pois identifica Deus Pai com o rei da parábola. Portanto, a mensagem é que o perdão de Deus para os homens é a medida e a norma do perdão de cada um para o irmão. Se recordarmos a pergunta inicial de Pedro, vemos que a parábola responde apresentando o perdão de Deus como causa e justificação do perdão ilimitado e incondicional. Esta exigência fraterna deriva da consciência de ter uma dúvida impagável que, perdoada pelo Pai, é um estímulo para que o discípulo aja da mesma maneira em relação aos irmãos. Concluindo, trata-se de ter para com os demais a mesma atitude de misericórdia ou compaixão que o Pai tem para conosco.
O que o Senhor me diz no texto?
Uma reflexão sobre o perdão pode ser muito bela e convincente até… até que recebamos uma ofensa ou mágoa da parte de um irmão. Então, as razões para perdoar se tornam fracas perante a força da paixão, que pede vingança ou revanche. No entanto, é necessário falar sobre o perdão, porque o próprio Jesus dedicou-lhe sua atenção, tal como o atesta Mateus neste sermão ou discurso sobre a vida comunitária.
O mais importante e necessário é que nossa reflexão e exposição sobre o perdão tenham o mesmo fundamento que o evangelho apresenta. Com efeito, é preciso partir da mesma premissa: o perdão de Deus está na raiz da vida cristã. Mais do que uma premissa, deveria ser uma experiência vital: a de saber-se e sentir-se amado/perdoado pelo Pai.
Comentando esta mesma parábola, dizia o Papa Francisco: “A parábola contém um ensinamento profundo para cada um de nós. Jesus declara que a misericórdia não é apenas o agir do Pai, mas torna-se o critério para individuar quem são os seus verdadeiros filhos. Em suma, somos chamados a viver de misericórdia, porque, primeiro, foi usada misericórdia para conosco. O perdão das ofensas torna-se a expressão mais evidente do amor misericordioso e, para nós cristãos, é um imperativo de que não podemos prescindir. Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz. … Enfim, Chegou de novo, para a Igreja, o tempo de assumir o anúncio jubiloso do perdão. É o tempo de regresso ao essencial, para cuidar das fraquezas e dificuldades dos nossos irmãos. O perdão é uma força que ressuscita para nova vida e infunde a coragem para olhar o futuro com esperança”.[3]
A experiência do perdão é válida para a própria origem da Igreja – explica-o hoje o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja está fundada no perdão. A Igreja, em sua essência íntima, é o lugar do perdão, o qual faz desaparecer o caos […]. A Igreja só pode surgir lá onde o homem chega a sua verdade, e esta verdade consiste justamente em que tem necessidade da graça. Onde o orgulho o priva deste conhecimento, não encontra o caminho que leva a Jesus. As chaves do Reino dos céus são a palavras do perdão, que somente o poder de Deus garante”.[4]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Já experimentei o perdão que vem de Deus? Que sentimento me deixou o perdão que uma pessoa me concedeu? Existe alguém a quem ainda não perdoei? Rezo para que o Senhor me dê a graça de perdoar?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Amado Pai Celestial
em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
ponho em tua presença minha vida e a de toda a minha família,
pedindo-te a graça do Espírito Santo para que nos assista no caminho do Perdão.
Peço-te que nos ajudes a que se tirem as vendas de nossos olhos
em relação às ofensas que temos cometido e removas a pedra do rancor e do orgulho
que está a sepultar nosso coração.
Ajuda-nos a pedir perdão com humildade e a perdoar a todas as grandes e pequenas ofensas entre nós.
Ajuda-nos a ser mais pacientes, dóceis e a não reparar – especialmente – nessas pequenas ofensas,
a fim de que nosso coração e nosso olhar não adoeçam.
Concede-nos sabedoria para educar em uma vida de perdão e amor. Amém.[5]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Senhor Jesus, quero perdoar com a infinita misericórdia de Deus, meu Pai“.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Cada dia desta semana, dedicarei um tempo para orar pelas pessoas às quais ainda não pude perdoar e me visualizo perdoando. Sempre terminarei a oração dizendo o nome da pessoa, seguida da frase: “Eu te perdoo, assim como Deus faria comigo”.
“Pedir perdão é próprio de homens inteligentes,
mas perdoar é para almas humildes: somente quem sabe perdoar sabe amar”.
São Pio de Pietrelcina