Árvore boa dá bons frutos (Lucas 6, 43-49)
13 de setembro de 2014Encontro de Capacitação Lectionautas – Rio de Janeiro
14 de setembro de 2014PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
“Vem, ó Santo Espírito!
Ilumina meu entendimento, para conhecer teus mandatos.
Fortalece meu coração contra as armadilhas do inimigo.
Inflama minha vontade…
Ouvi tua voz e não quero endurecer-me nem resistir, dizendo: ‘depois…, amanhã…’
Agora! Pois pode acontecer que o amanhã me falte.
Oh, Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de conselho,
Espírito de alegria e de paz!
Quero o que quiseres, quero porque o queres
quero como quiseres, quero quando quiseres…”.[1]
TEXTO BÍBLICO: Mateus 18.21-35
O empregado mau
21Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
— Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
22— Não! — respondeu Jesus. — Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes.23Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. 24Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata.25Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. 26Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor.”
27— O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. 28O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: “Pague o que me deve!”
29— Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo.”
30— Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. 31Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. 32Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: “Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. 33Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você.”
34— O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
35E Jesus terminou, dizendo:
— É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Padre Fidel Oñoro CJM
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Que respondeu Jesus quando Pedro lhe perguntou quantas vezes devia perdoar? O que o rei ordenou quando se deu conta de que o funcionário não tinha com que pagar? Que atitude assumiu o companheiro do funcionário quando este lhe rogou que tivesse paciência com ele? O que o rei ordenou fazer com este companheiro? Segundo o texto, como se deve perdoar ao irmão?
Algumas considerações para uma leitura proveitosa…
O Evangelho deste dia, situado no discurso de Jesus sobre as relações fraternas próprias da comunidade dos discípulos (cf. Mateus 18), coloca-nos diante de um ensinamento de Jesus sobre a necessidade do perdão.
Nosso texto tem duas partes:
(1) O diálogo de Pedro com Jesus (18.21-22)
(2) A parábola do servo sem misericórdia (18.23-34)
1. O Diálogo de Pedro com Jesus: o “perdão” confere identidade à comunidade
Pedro toma a iniciativa e se aproxima de Jesus para perguntar-lhe: “Quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?” (18.21).
A pergunta de Pedro deixa entrever que ele já havia compreendido muito bem que a comunidade de Jesus se constrói no perdão mútuo. Desta maneira é que somos identificados como filhos do Pai celestial (cf. Mt 5.43-45 e 6.14-15).
Na pergunta, Pedro colocou um limite: “Sete vezes?”. A resposta de Jesus, por sua vez, abre o perdão do discípulo a um horizonte ilimitado: “Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes” (18.22). Portanto, o perdão do discípulo não conhece limites, assim como tampouco têm limites o perdão e a misericórdia do Pai para conosco.
2. A parábola do servo sem misericórdia (18.23-34): desproporção entre a misericórdia recebida e a dureza de coração demonstrada
A parábola é construída a partir do contraste entre a misericórdia de um rei que perdoa a um servo seu uma dívida incalculável (18.23-27) e a crueldade e dureza deste mesmo servo, que não perdoa a seu companheiro, que lhe deve uma pequena soma de dinheiro (18.28-30).
Perante o servo que lhe suplica dizendo: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor”, o rei “teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora” (18.27).
O rei deixa-se tocar o coração pela angústia e pela necessidade do pobre que suplica. Não pensa na grande soma de dinheiro que corre o risco de perder, não insiste em fazê-lo cumprir com a justiça; ao contrário, cheio de compaixão e de misericórdia, perdoa-lhe tudo e o deixa ir-se em liberdade. A magnanimidade de seu coração superou imensamente aquela dívida que, de fato, ultrapassava toda medida.
Chega, pois, o momento cruel, quando o servo maltrata física e moralmente seu companheiro: “Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: “Pague o que me deve” (18.28b).
Diante da súplica de seu companheiro, que usou exatamente as mesmas palavras que ele pouco antes expressara a seu senhor (18.29; cf. o v. 26), “ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida” (18.30). No fim das contas, não teve “paciência” com ele. Observamos uma desproporção imensa entre a misericórdia que havia recebido e a dureza de coração que demonstrou perante os demais.
A história coloca na balança a prodigalidade de perdão recebido (do Pai, dos outros) e a estreiteza e dureza de nosso coração, dos que somos incapazes de perdoar.
O perdão que recebemos de Deus fornece-nos a medida do perdão que devemos oferecer aos irmãos. Este é o sentido da resposta de Jesus a Pedro: “Até setenta e sete vezes” (18.22). Com outras palavras: o que Deus faz comigo é o princípio de quanto devo fazer para o irmão; a misericórdia que o Pai derrama sobre nós sem medida, acolhida em nosso coração, deve transbordar gratuitamente para os outros, como gratuitamente nos foi dada.
Contudo, é preciso observar a última frase desta passagem: o perdão que Jesus pede é um perdão que vem do coração (18.35). Neste “coração”, ou seja, no mais profundo de mim mesmo, deve permanecer não o rancor pela pequena ofensa que recebo do irmão, mas o amor infinito e incondicional do Pai.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
O Papa Francisco convida-nos a refletir a respeito do perdão na homilia que proferiu durante a visita à Coreia, por ocasião da VI Jornada da Juventude Asiática (agosto de 2014).
“No Evangelho de hoje, Pedro pergunta ao Senhor: «Quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?» O Senhor responde: «Digo-te, não até sete vezes, mas até setenta vezes sete» (Mt 18. 21-22). Estas palavras tocam o coração da mensagem de reconciliação e de paz indicada por Jesus. Obedientes ao seu mandamento, pedimos diariamente ao nosso Pai do Céu que perdoe os nossos pecados, ‘assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’. Mas, se não estivéssemos prontos a fazer o mesmo, como poderíamos honestamente rezar pela paz e a reconciliação?
“Jesus pede-nos para acreditar que o perdão é a porta que leva à reconciliação. Quando nos manda perdoar aos nossos irmãos sem qualquer reserva, pede-nos para fazer algo de totalmente radical, mas dá-nos também a graça de o cumprir. Aquilo que, visto duma perspectiva humana, parece ser impossível, impraticável e às vezes até repugnante, Jesus torna-o possível e frutuoso com a força infinita da sua cruz. A cruz de Cristo revela o poder que Deus tem de superar toda a divisão, curar toda a ferida e restaurar os vínculos originais de amor fraterno”.[2]
Agora perguntemo-nos:
Já experimentei o perdão de coração? Quando você se sentiu perdoado, que atitude assumiu perante os demais? Perdoou-lhes também? Tenho clareza de que o Senhor é quem me concede a graça para perdoar? Que senti quando perdoei?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Senhor Jesus,
peço especialmente a graça de perdoar a essa pessoa que mais me feriu na vida.
Peço a graça de perdoar a meu pior inimigo, à pessoa a quem mais me custa perdoar
ou à pessoa de quem eu tenha dito que jamais perdoaria.
Obrigado, Jesus, porque me estás libertando do mal de não perdoar
e peço perdão a todos aqueles a quem eu também ofendi.[3]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Amigo Jesus,
Desejamos experimentar a alegria e a paz
que vêm do perdoar com sincero coração.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Em um momento de silêncio e a sós, trarei à minha mente aquela pessoa que me ofendeu e, em oração, abraçá-la-ei com os braços de Jesus, dizendo: “Perdoo-te como Jesus te perdoa”.
“Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão”.
São Francisco de Assis