Amar os inimigos
24 de fevereiro de 2018Misericórdia
26 de fevereiro de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e ensina-me a viver tua Palavra.
Vem, Espírito Santo, para que, com tua força, eu seja um cristão coerente.
Vem, Espírito Santo, para que com tua força, eu seja um cristão coerente.
Vem, Espírito Santo, e faze-me novo, para que com outros eu possa seguir Jesus.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 9.2-10
Jesus, Moisés e Elias
Mateus 17.1-13; Lucas 9.28-36
2Seis dias depois, Jesus foi para um monte alto, levando consigo somente Pedro, Tiago e João. Ali, eles viram a aparência de Jesus mudar. 3A sua roupa ficou muito branca e brilhante, mais do que qualquer lavadeira seria capaz de deixar. 4E os três discípulos viram Elias e Moisés conversando com Jesus. 5Então Pedro disse a Jesus:
— Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias.
6Pedro não sabia o que deveria dizer, pois ele e os outros dois discípulos estavam apavorados. 7Logo depois, uma nuvem os cobriu, e dela veio uma voz, que disse:
— Este é o meu Filho querido. Escutem o que ele diz!
8Aí os discípulos olharam em volta e viram somente Jesus com eles.
9Quando estavam descendo do monte, Jesus mandou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· O que havia acontecido seis dias antes? O que disse Jesus e que relação tem com a transfiguração?
· Aonde vai Jesus e com quais apóstolos? Aparecem juntos em outro lugar?
· O que faz Jesus na presença destes três discípulos e o que este fato revela?
· O que simbolizam Moisés e Elias e por que aparecem ali?
· O que simboliza a nuvem? De quem é a voz que se ouve e o que pede?
· Por que Jesus fica sozinho e Moisés e Elias já não se encontram ali?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O relato da transfiguração é colocado como continuação do primeiro anúncio da paixão e da exigência de renúncia total para seguir Jesus, manifestados seis dias antes. Ligando-se, portanto, a transfiguração com o primeiro anúncio da paixão, podemos dizer que era necessário que ao menos alguns dos discípulos (Pedro, Tiago e João) tivessem uma experiência que dissipasse o temor e a angústia gerados por tal anúncio e, para isso, é-lhes concedida uma visão antecipada da glória prometida depois do padecimento.
Estes três discípulos aparecem junto a Jesus no horto das Oliveiras (cf. Mc 14.33); por conseguinte, estes três discípulos estão associados à agonia e à glória de Jesus.
O relato de Marcos vê a transfiguração de Jesus como a manifestação antecipada do Filho do Homem transcendente, que anuncia a transfiguração definitiva que acontecerá na manhã de Páscoa e se manifestará plenamente na Parusia (vinda definitiva de Jesus). Se a isto acrescentarmos a íntima relação com o primeiro anúncio da paixão que precede esta narrativa, é perfeitamente possível afirmar que a mensagem do evangelho é que não devemos separar a paixão da ressurreição, de certa maneira antecipada na transfiguração.
No alto do monte, junto a Jesus, aparecem Moisés e Elias. É interessante porque, além de representar a Lei e os Profetas, são dois homens de oração, que jejuaram durante 40 dias e subiram ao Sinai para encontrar-se face a face com Deus, para ver seu rosto. De algum modo, pode-se dizer que eles alcançaram a meta de seu caminho “quaresmal” ao encontrar-se com Cristo glorioso.
A nuvem é sinal da presença de Deus. E dali sai a voz do Pai que ordena escutar Jesus, ou seja, obedecer-lhe e segui-lo. A afirmação da voz celestial tem um caráter revelador da identidade de Jesus, tema sobre o qual versava o diálogo com seus discípulos nos versículos precedentes (cf. Mc 8.27-29).
No final, os discípulos “olham em volta e viram somente Jesus com eles”. Isto significa que desapareceram as vozes anteriores de Deus na história: Moisés e Elias, a Lei e os Profetas; agora temos de escutar a Palavra do Filho Amado, Jesus Cristo.
O que o Senhor me diz no texto?
Fomos criados para a luz. Sentimo-nos seguros quando caminhamos na luz, e não nos agrada andar na escuridão. No entanto, a escuridão existe e, com frequência, faz-se presente em nossa vida: uma má notícia que nos chega, a descoberta de uma doença que não esperávamos; a percepção de que realizar nossos projetos implicará muito mais esforço do que havíamos pensado; uma desgraça que nos acontece ou um prejuízo que alguém nos causa. Justamente o primeiro domingo da Quaresma nos convidava a aceitar a presença do mal, da obscuridade em nossa vida. Hoje nos é dito que a luz vence as trevas; somos ensinados a não desesperar e a não nos render diante da presença do mal, da escuridão, porque no final do caminho, espera-nos a luz. A transfiguração é um mistério luminoso que dissipa as trevas e nos permite contemplar a glória de Jesus, uma antecipação de sua ressurreição. Como diz R. Cantalamessa: “Jesus, naquele dia, em sua humanidade, entrou em êxtase […] Ele estava feliz. A Transfiguração é um mistério de felicidade divina. Toda a torrente de alegria que flui entre o Pai e o Filho, que é o próprio Espírito Santo, nessa ocasião ‘transbordou’ no jarro da humanidade de Cristo” 2.
Este texto nos lembra as exigências e as consequências da vida na aliança com Deus e nos ajuda a entender que a paixão é uma passagem ou caminho para a glória. Para viver na aliança com Deus, devemos seguir Cristo pelo mesmo caminho por onde ele passou, que é o caminho da renúncia e da cruz. Não podemos amar a cruz por si mesma, nem podemos comprazer-nos em morrer a nós mesmos mediante a mortificação. Mas podemos, sim, amar e até desejar chegar aonde nos levam a cruz e a mortificação, passagem necessária para a glória. A entrega custa e dói, como custou e doeu a Jesus e ao próprio Pai. E deve ser total, sem reservar-nos nada. Contudo, depois vem o fruto maravilhoso.
A cruz sempre será um mistério de obscuridade em nossa vida, que pode levar-nos à desilusão, à desolação. Por isso, necessitamos tanto de momentos de consolação que nos permitam sentir a proximidade do Senhor, a fim de continuarmos a caminhar em seu seguimento. Precisamos aprender a aceitar e desfrutar os momentos de consolação que o Senhor nos concede. Para nós, é sempre muito simples fazer isso, pois como indica o Papa Francisco: “É curioso, mas muitas vezes temos medo do conforto, de ser consolados. Aliás, sentimo-nos mais seguros na tristeza e na desolação. Sabem por quê? Porque na tristeza quase nos sentimos protagonistas. Na consolação, o protagonista é o Espírito Santo!” 3
Esta é a pedagogia própria da Quaresma, que expressa a mesma pedagogia de Deus: “Apenas tendo começado na Quaresma o caminho da cruz, já nos é proposto o destino último deste caminho: sua glória e a nossa. Depois de ter lido, no domingo passado, a luta contra as tentações e o mal, hoje se nos assegura que o processo termina com a vitória e a glorificação de Cristo, e que também, para nós, a luta contra o mal nos conduz à vida” 4.
Como seguidores do Senhor, temos que assimilar isto em nossa vida para responder-lhe com fidelidade ativa. “Tal como os discípulos, nós também precisamos fazer a experiência da proximidade do Deus consolador. Se nunca vivemos esse tipo de experiências, podemos chegar a duvidar da existência da beleza e ver somente os aspectos opacos da realidade: a mediocridade que progride, os cálculos egoístas que substituem a generosidade, a rotina repetitiva e vazia que ocupa o espaço da alegria e da fidelidade. O relato da transfiguração convida a evocar momentos de graça nos quais vivemos uma experiência de luz e nossa vida apareceu como que transfigurada: o amor transformou-se em certeza, a fraternidade fez-se palpável e toda a
realidade nos falou uma linguagem nova de esperança e de sentido. São lampejos momentâneos que nos revelam o sentido do caminho de fé empreendido” 5.
Além disso, o evangelho da Transfiguração convida-nos a escutar o Filho querido, a Palavra definitiva de Deus. Esta é a exigência que supõe a rejeição de tantas outras vozes ou solicitações que nos invadem.
Viver em aliança é viver na escuta da Palavra. Na Bíblia, escutar é sinônimo de obedecer (dar ouvidos, o verdadeiro significado de obedecer). Portanto, somos chamados à obediência da fé, a escutar Jesus, a crer nele e a segui-lo pelo caminho da cruz até à Páscoa.
Em resumo, o evangelho deste domingo nos lembra aonde nos conduz este caminho quaresmal: a ser transfigurados com Cristo, a participar de sua glória, da aliança definitiva.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Encontro tempo para ficar a sós com Jesus e deixar-me consolar por ele?
· Em que momentos de minha vida senti com maior intensidade a presença de Deus?
· Aceito que a cruz é um meio, uma passagem necessária, uma ponte até à meta da ressurreição?
· Tento, cada dia, escutar Jesus que me fala no evangelho e na vida?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por me levares à montanha.
Vou abrir-te meu coração enquanto subimos.
Às vezes, como Pedro, não sei o que dizer-te e apresento a lista de meus pedidos.
Entrego-te meus medos, meus receios, um a um.
Tua luz faça com que meus egoísmos saltem à vista
e minhas mesquinhezes fiquem evidentes.
A voz do Pai, como esquecê-la? Como negá-la?
És o Filho amado: dá-me ouvidos novos para escutar-te.
Quero seguir-te totalmente e sem reservas.
Neste caminho para a Páscoa, deixa-me ser teu companheiro na cruz,
e consolar outros a fim de partilharmos uma vida nova, transfigurada.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, transfigura-me, faze-me de novo; quero carregar a cruz e partilhar tua glória”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, proponho-me revisar minhas ações e colocar diante do Senhor aquelas às quais ainda não chegou a luz.
“Este corpo que se transfigura diante dos olhos dos Apóstolos é o corpo de Cristo (…), mas é também nosso corpo destinado à glória; a luz que o inunda é e será também nossa parte de herança e de esplendor”.
Beato Paulo VI