Jesus andava anunciando a Boa Nova do Reino (Lc 8,1-3)
19 de setembro de 2014O talento, a semente e a luz (Lc 8,16-18)
22 de setembro de 2014
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
“Vem, ó Santo Espírito!
Ilumina meu entendimento, para conhecer teus mandatos.
Fortalece meu coração contra as armadilhas do inimigo.
Inflama minha vontade…
Ouvi tua voz e não quero endurecer-me nem resistir, dizendo: ‘depois…, amanhã…’
Agora! Pois pode acontecer que o amanhã me falte.
Oh, Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de conselho,
Espírito de alegria e de paz!
Quero o que quiseres, quero porque o queres
quero como quiseres, quero quando quiseres…”.[1]
TEXTO BÍBLICO: Mateus 20.1-16
Os trabalhadores da plantação de uvas
1Jesus disse:
— O Reino do Céu é como o dono de uma plantação de uvas que saiu de manhã bem cedo para contratar trabalhadores para a sua plantação. 2Ele combinou com eles o salário de costume, isto é, uma moeda de prata por dia, e mandou que fossem trabalhar na sua plantação. 3Às nove horas, saiu outra vez, foi até a praça do mercado e viu ali alguns homens que não estavam fazendo nada. 4Então disse: “Vão vocês também trabalhar na minha plantação de uvas, e eu pagarei o que for justo.”
5— E eles foram. Ao meio-dia e às três horas da tarde o dono da plantação fez a mesma coisa com outros trabalhadores. 6Eram quase cinco horas da tarde quando ele voltou à praça. Viu outros homens que ainda estavam ali e perguntou: “Por que vocês estão o dia todo aqui sem fazer nada?”
7— “É porque ninguém nos contratou!” — responderam eles. — Então ele disse: “Vão vocês também trabalhar na minha plantação.”
8— No fim do dia, ele disse ao administrador: “Chame os trabalhadores e faça o pagamento, começando com os que foram contratados por último e terminando pelos primeiros.”
9 — Os homens que começaram a trabalhar às cinco horas da tarde receberam uma moeda de prata cada um. 10Então os primeiros que tinham sido contratados pensaram que iam receber mais; porém eles também receberam uma moeda de prata cada um. 11Pegaram o dinheiro e começaram a resmungar contra o patrão, 12dizendo: “Estes homens que foram contratados por último trabalharam somente uma hora, mas nós aguentamos o dia todo debaixo deste sol quente. No entanto, o pagamento deles foi igual ao nosso!”
13— Aí o dono disse a um deles: “Escute, amigo! Eu não fui injusto com você. Você não concordou em trabalhar o dia todo por uma moeda de prata? 14Pegue o seu pagamento e vá embora. Pois eu quero dar a este homem, que foi contratado por último, o mesmo que dei a você. 15Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com o meu próprio dinheiro? Ou você está com inveja somente porque fui bom para ele?” 16E Jesus terminou, dizendo:
— Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Padre Fidel Oñoro CJM
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Para que o dono da propriedade saiu nas primeiras horas da manhã? Quantas vezes saiu o dono da propriedade e aonde se dirigia? Como devia o encarregado começar a pagar aos trabalhadores? Quanto tempo trabalharam os que chegaram ao final do dia? Na ocasião, quem são os primeiros e quem são os últimos?
Algumas considerações para uma leitura proveitosa…
Com uma parábola, é-nos explicada a inversão de situações próprias do Reino dos Céus: “Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros” (20.16; cf. 19.30).
Não devemos perder de vista que no Evangelho de Mateus ainda se está expondo amplamente a novidade do Reino, cujo sentido último é mostrar-nos a outra face da realidade na qual Deus está agindo e cuja lógica (seus projetos) altera a nossa.
Jesus parte de uma realidade bem conhecida em sua época: o desemprego e o subemprego. Por isso, a parábola tem como cenário uma praça na qual continuamente se encontram desempregados a esperar uma oportunidade de trabalho. Ali se desdobra um movimento que segue as diversas horas de uma jornada: o amanhecer, as nove da manhã, o meio-dia, as três e as cinco horas da tarde, e, por último, o fim do dia – o entardecer.
Um patrão a ir e vir, fazendo contratos continuamente. Os diaristas têm a expectativas de que seu pagamento será proporcional ao tempo trabalhado. No entanto, surpresa! não é assim: todos recebem por igual, e os envolvidos estão a ponto de fazer uma greve de protesto por causa da aparente “injustiça” de seu patrão.
A parábola afirma a soberania de Deus e sua graça, a qual não está baseada no cálculo humano do ganho proporcional ao esforço. O coração de Deus não é medido com esta “régua da recompensa”.
Embora Jesus nos ensine que Deus sempre espera que nos esforcemos ao máximo, que não sejamos passivos, inativos ou indiferentes, exigindo sempre nossa colaboração ativa, ele também nos ensina que somos chamados a uma justiça maior (cf. 5.20), que devemos viver em sintonia com o coração amoroso do Pai (cf. 5.45 e 7.21). Efetivamente, nosso agir justo e nosso compromisso total é necessário, e podemos estar certos do reconhecimento generoso da parte de Deus. Contudo, a relação com Deus não se fundamenta na contraprestação (pagamento pelo que se fez), mas na gratuidade, no deixar de lado qualquer segunda intenção de benefício próprio.
Somos convidados, hoje, a descobrir o coração bondoso de Deus e a superar uma espiritualidade baseada na contraprestação com Deus: “Comporto-me bem para que Deus me premie atendendo a este ou àquele pedido que eu fizer”.
Não devemos jamais dizer a Deus o que é que ele tem que fazer conosco, mas, ao contrário, respeitar sua liberdade e sua bondade, e mais ainda: alegrar-nos com todo sinal de sua bondade que descobrirmos em nossos irmãos, superando, assim, todo sentimento de inveja.
Deus não é um patrão com quem fazemos contratos, mas um Pai de quem recebemos graça e bondade.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Na visita pastoral ao Centro Penitenciário Romano de Rebibbia (18 de dezembro de 2011), o Papa Bento XVI reflete:
“A palavra do Evangelho de Mateus (20.1-16) sobre os trabalhadores chamados ao trabalho na vinha faz-nos compreender em que consiste essa diferença entre a justiça humana e aquela divina, porque se torna explícita a delicada relação entre justiça e misericórdia. A palavra descreve um agricultor que chama operários para a sua vinha. Fá-lo, no entanto, em diversas horas do dia, de tal forma que uns trabalham durante todo o dia e outros somente por uma hora. No momento da entrega da remuneração, o patrão suscita estupor e acende um debate entre os trabalhadores. A questão diz respeito à generosidade – considerada pelos presentes injustiça – do dono da vinha, que decide dar o mesmo pagamento tanto aos trabalhadores da manhã quanto aos últimos da tarde. Na óptica humana, essa decisão é uma autêntica injustiça; na óptica de Deus, um ato de bondade, porque a justiça divina dá a cada um o que é seu e, também, compreende a misericórdia e o perdão.
Justiça e misericórdia, justiça e caridade, pontos-chaves da doutrina social da Igreja, são duas realidades diferentes, sobretudo para nós, homens, que distinguimos atentamente um ato justo como ato de amor. Justo, para nós, é “aquilo que é ao outro devido”, enquanto misericordioso é aquilo que é dado por bondade. E uma coisa parece excluir a outra. Mas, para Deus, não é assim: nele, justiça e caridade coincidem; não há uma ação justa que não seja também um ato de misericórdia e de perdão e, ao mesmo tempo, não há uma ação misericordiosa que não seja perfeitamente justa.
Como é distante a lógica de Deus da nossa! E como é diferente do nosso o seu modo de agir! O Senhor convida-nos a colher e observar o verdadeiro espírito da lei, para dá-la o pleno cumprimento no amor por quem é necessitado. [2]
Agora perguntemo-nos:
Quando faço algo de bom, espero que Deus me pague? Estou disposto a assumir tarefas de minha comunidade sem reconhecimento algum? Senti inveja e aborrecimento em alguma situação na qual Deus “pagou” melhor a outros? Poderia ser tão generoso quanto Deus?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Ensina-me, Senhor,
a servir-te como mereces,
a dar sem contar o custo,
a lutar sem contar as feridas,
a trabalhar sem buscar repouso,
a dedicar-me sem esperar outra recompensa
senão a de que tua vontade está sendo feita.[3]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor,
permite que possa entregar-me à tua Igreja,
sem medida e com absoluta confiança!
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Farei um gesto de generosidade com o pároco ou com as pessoas líderes da paróquia, agradecendo-lhes pelo esforço em seu trabalho, e lhes falarei da generosidade de Deus.
“O amor é que dá valor a todas as nossas obras.
Não é pela grandeza e pela multiplicidade de nossas obras que agradamos a Deus,
mas pelo amor com que as fazemos”
São Francisco de Assis
[1] Oração escrita por São José Maria Escrivá, sacerdote espanhol, Fundador do Opus Dei.
[2]http://noticias.cancaonova.com/discurso-de-bento-xvi-visita-a-penitenciaria-de-rebibbia/
[3] Santo Inácio de Loyola. Religioso espanhol, fundador da Companhia de Jesus (Jerusítas). Exercícios Espirituais, 234. Sua festa é celebrada no dia 31 de julho.