Prestai bem atenção (Lc 9,43b-45)
27 de setembro de 2014Aquele que abre o céu (João 1,47-51)
29 de setembro de 2014PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
“Vem, ó Santo Espírito!
Ilumina meu entendimento, para conhecer teus mandatos.
Fortalece meu coração contra as armadilhas do inimigo.
Inflama minha vontade…
Ouvi tua voz e não quero endurecer-me nem resistir, dizendo: ‘depois…, amanhã…’
Agora! Pois pode acontecer que o amanhã me falte.
Oh, Espírito de verdade e de sabedoria, Espírito de entendimento e de conselho,
Espírito de alegria e de paz!
Quero o que quiseres, quero porque o queres
quero como quiseres, quero quando quiseres…”.[1]
TEXTO BÍBLICO: Mateus 21.28-32
Os dois filhos
28Jesus continuou:
— E o que é que vocês acham disto? Certo homem tinha dois filhos. Ele foi falar com o mais velho e disse: “Filho, hoje você vai trabalhar na minha plantação de uvas.”
29— Ele respondeu: “Eu não quero ir.” Mas depois mudou de ideia e foi.
30— O pai foi e deu ao outro filho a mesma ordem. E este disse: “Sim, senhor.” Mas depois não foi.
31— Qual deles fez o que o pai queria? — perguntou Jesus.
E eles responderam:
— O filho mais velho.
Então Jesus disse a eles:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: os cobradores de impostos e as prostitutas estão entrando no Reino de Deus antes de vocês.32Pois João Batista veio para mostrar a vocês o caminho certo, e vocês não creram nele; mas os cobradores de impostos e as prostitutas creram. Porém, mesmo tendo visto isso, vocês não se arrependeram e não creram nele.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Padre Fidel Oñoro CJM
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
O que o pai disse a seus filhos? Qual foi a resposta do primeiro e que ele fez? E o segundo, o que respondeu e fez em seguida? A quem Jesus dirige esta parábola? Por que os cobradores de impostos e as prostitutas entrarão primeiro no Reino dos Céus?
Algumas considerações para uma leitura proveitosa…
A parábola dos trabalhadores da vinha (20.1-16), que lemos no domingo passado, pôs em evidência que o agir de Deus não está determinado pelo mérito humano, mas por sua soberana liberdade e pela bondade de seu coração. Hoje, em outra parábola ambientada na “vinha” – a parábola dos “dois filhos” (20.28-32) –, Jesus ensina-nos que “fazer” a vontade de Deus Pai é um dever irrenunciável.
Na imagem dos dois filhos, a parábola quer personificar o comportamento dos líderes judeus que se opõem à pregação de João Batista e de Jesus.
O fato de que a parábola seja narrada em meio a duas perguntas – E o que é que vocês acham disto? … Qual deles fez o que o pai queria? – (21.28a.31.a), implica que o que se pretende é provocar uma reflexão.
“Certo homem tinha dois filhos”. Desde o início, é significativo o fato de que se fale de um “pai” e não de um patrão. Este início lembra-nos a parábola do “pai misericordioso” (Lc 15.11), embora o termo grego na frase de Mateus se refira a “crianças” (teknon) e não propriamente a “filhos”. Temos um ambiente que nos permite compreender de que modo Deus quer manifestar-nos sua vontade: é o ambiente do amor, não da submissão absurda. “Ele foi falar com…”, “e disse…”, “ele respondeu…”, “foi/não foi”. Já observamos a simetria entre as duas partes da parábola. Continua a chamar a atenção que ambos os filhos são interpelados pelo pai de maneira cordial e são convidados a ir trabalhar na vinha: não são obrigados; fala-lhes com afeto, como a “filhos” (poder-se-ia ouvir este tom: “Meu menino (tekon), vá trabalhar hoje na vinha”).
No entanto, a reação de cada um perante o carinho do pai é dramática:
- O primeiro responde com um brusco e mal-educado “Eu não quero ir!”, mas em seguida reconsidera sua atitude e vai trabalhar na vinha.
- O segundo responde com um elegante e amável “Sim, senhor!”, mas não vai à vinha, não move um dedo sequer.
Ambos os filhos se contradizem a si mesmos entre o que “dizem” e o que “fazem”, mas também se contrapõem entre si.
O caso mais dramático é o primeiro, em que o filho chama ao pai de “Senhor”: apesar de dar-lhe o título de máximo respeito, sua desobediência é total. Uma ironia que nos remete ao ensinamento da Montanha: “Não é toda pessoa que me chama de ‘Senhor, Senhor’ que entrará no Reino do Céu, mas somente quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu” (Mt 7.21).
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Homilia do Papa Bento XVI durante viagem apostólica à Alemanha, em setembro de 2011.
“A mensagem da parábola é clara: Não são as palavras que contam, mas o agir, os atos de conversão e de fé. Jesus, como ouvimos, dirige esta mensagem aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo de Israel, isto é, aos peritos de religião do seu povo. Estes começam por dizer ‘sim’ à vontade de Deus; mas a sua religiosidade torna-se rotineira, e Deus já não os inquieta. Por isso sentem a mensagem de João Baptista e a de Jesus como um incômodo. E assim o Senhor conclui a sua parábola com estas palavras drásticas: ‘Os publicanos e as mulheres de má vida vão antes de vós para o Reino de Deus. João Baptista veio ao vosso encontro pelo caminho que leva à justiça, e não lhe destes crédito, mas os publicanos e as mulheres de má vida acreditaram nele. E vós, que bem o vistes, nem depois vos arrependestes, acreditando nele’ (Mt 21.31-32). Traduzida em linguagem de hoje, a frase poderia soar mais ou menos assim: agnósticos que, por causa da questão de Deus, não encontram paz e pessoas que sofrem por causa dos seus pecados e sentem desejo dum coração puro estão mais perto do Reino de Deus de quanto o estejam os fiéis rotineiros, que na Igreja já só conseguem ver o aparato sem que o seu coração seja tocado por isto: pela fé.
Assim, a palavra deve fazer-nos refletir seriamente; antes, deve abalar a todos nós. Isto, porém, não significa de modo algum que todos quantos vivem na Igreja e trabalham para ela se devam considerar distantes de Jesus e do Reino de Deus. Absolutamente, não! Antes, este é o momento bom para dizer um palavra de profunda gratidão a tantos colaboradores, contratados ou voluntários, sem os quais a vida nas paróquias e na Igreja inteira seria impensável.[2]
Agora perguntemo-nos:
Minhas palavras e ações, ao assumir um compromisso com Deus, são coerentes? Falo demasiado quando assumo alguma responsabilidade ou tarefa e acabo por não finalizá-la ou não realizá-la? Quando Deus me convida a comprometer-me em uma ação concreta, evito assumi-la? Já disse alguma vez não a determinada obra de Deus e findei por fazer mais do que planejava?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Ser discípulo, Senhor,
é aceitar teu chamado, deixar tudo
e colocar-se a caminho, seguindo teus passos.
Ser discípulo,
é pegar a cruz de cada dia,
dar-se conta de que seguir-te gera conflito,
produz enfrentamento e controvérsia…
A fidelidade, Senhor, constrói-se cada dia,
ao tomar-se a cruz da coerência…
Ser discípulo é aprender de ti,
ter a ti como mestre,
buscar-te como referência para nossas decisões.
Ajuda-nos, Senhor, a ser teus discípulos
com alegria e fidelidade.[3]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor,
sei que disse “sim” em várias ocasiões;
hoje, quero fazer de meu “sim” algo concreto
e assumir um compromisso para além das palavras…
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Procurarei saber se em minha comunidade existe algum trabalho com que não quis comprometer-me e farei um plano para realizar essa tarefa, começando por convidar outros a assumirem um compromisso concreto.
“Deus não precisa de nossos trabalhos,
mas de nossa obediência”
São João Crisóstomo
[1] Oração escrita por São José Maria Escrivá, sacerdote espanhol, Fundador do Opus Dei.
[2]http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/homilies/2011/documents/hf_ben-xvi_hom_20110925_freiburg_po.html
[3] Marcelo A. Muría, leigo argentino, trabalha na formação de agentes pastorais através de cursos presenciais e a distância na Argentina e em outros países da América (http://www.buenasnuevas.com/marcelomurua.htm).