Jesus ressuscitado presente em nosso cotidiano (Jo 21,1-14)
6 de abril de 2018O nascimento de Jesus é anunciado (LC 1,26-38)
9 de abril de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e enche-me com a força da Ressurreição.
Vem, Espírito Santo, e renova-me para crer no Ressuscitado.
Vem, Espírito Santo, neste caminho pascal,
para que junto a outros, possa ser testemunha da Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 20.19-31
Jesus aparece aos discípulos
Mateus 28.16-20; Marcos 16.14-18; Lucas 24.36-49
19Naquele mesmo domingo, à tarde, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus. Então Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:
— Que a paz esteja com vocês!
20Em seguida lhes mostrou as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor. 21Então Jesus disse de novo:
— Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.
22Depois soprou sobre eles e disse:
— Recebam o Espírito Santo. 23Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.
Jesus e Tomé
24Acontece que Tomé, um dos discípulos, que era chamado de “o Gêmeo”, não estava com eles quando Jesus chegou. 25Então os outros discípulos disseram a Tomé:
— Nós vimos o Senhor!
Ele respondeu:
— Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos dele, e não tocar ali com o meu dedo, e também se não puser a minha mão no lado dele, não vou crer!
26Uma semana depois, os discípulos de Jesus estavam outra vez reunidos ali com as portas trancadas, e Tomé estava com eles. Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:
— Que a paz esteja com vocês!
27Em seguida disse a Tomé:
— Veja as minhas mãos e ponha o seu dedo nelas. Estenda a mão e ponha no meu lado. Pare de duvidar e creia!
28Então Tomé exclamou:
— Meu Senhor e meu Deus!
29 Disse Jesus. — Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!
A finalidade deste Evangelho
30 Jesus fez diante dos discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. 31Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele.
1. LEITURA
Que diz o texto?
– Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Em que dia nos encontramos?
· Onde estavam os discípulos e qual era seu estado de ânimo e sua atitude?
· O que faz e o que diz Jesus Ressuscitado e por quê?
· Qual é agora o estado de ânimo dos discípulos?
· O que nos lembra o sopro de Jesus e o que ele transmite aos discípulos mediante tal gesto?
· Qual dos apóstolos estava ausente da reunião e o que lhe dizem os demais?
· Qual é a reação de Tomás diante deste anúncio?
· O que aconteceu oito dias depois? O que Jesus ressuscitado diz a Tomé?
· Qual é a reação de Tomé agora? Que mais Jesus lhe diz e a quem se refere?
– Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
Neste relato, encontram-se duas aparições do Ressuscitado: uma no mesmo dia da ressurreição, com a ausência de Tomé, um dos Onze, e a segunda, oito dias mais tarde, com a presença do grupo completo, incluindo Tomé. Estas aparições se dão “no primeiro dia da semana”, que é nosso domingo, dia do Senhor, e que desde a época apostólica é, pois, o dia da reunião dos cristãos.
Em sua primeira aparição, Jesus Ressuscitado saúda os discípulos dizendo-lhes: “Que a paz esteja com vocês!”. Mais do que um augúrio ou desejo, trata-se aqui da doação efetiva da paz, de uma presença real da paz como dom escatológico, tal como o havia indicado Jesus em seu discurso de despedida: “Deixo com vocês a paz. É a minha paz que eu lhes dou” (Jo 14.27). Esta paz, segundo o pano de fundo do Antigo Testamento, inclui todos os bens necessários para a vida presente e a plenitude de bens na vida futura. Contudo, o que no Antigo Testamento era promessa, pela morte e ressurreição de Cristo torna-se realidade. E esta paz não está ligada à sua presença corporal, mas à sua realidade de ressuscitado, vitorioso sobre a morte.
Em seguida, Jesus mostra-lhes suas feridas a fim de provar-lhes que é o Crucificado que ressuscitou; que é o mesmo, mas em um estado diferente. Esta visão de Jesus Ressuscitado provoca nos discípulos uma plenitude de alegria e, deste modo, Jesus cumpre o que lhes havia anunciado: dar-lhes uma alegria completa (cf. Jo 15.11; 16.22).
Ato contínuo, pronuncia as palavras de envio e faz o gesto de soprar sobre eles. E aqui está o cumprimento do que foi anunciado por João Batista, segundo quem Jesus “teria de batizar no Espírito Santo” (Jo 1.32-33) e também da aliança definitiva, anunciada pelos profetas e caracterizada pela efusão do Espírito (cf. Jr 31.33; Ez 36.26s).
Com esta doação do Espírito Santo aos Apóstolos, é-lhes comunicado também o poder de perdoar ou de reter os pecados e, dessa forma, eles agora são os transmissores da vida nova. Fica claro, pois, que a paz é fruto do perdão dos pecados obtido por Cristo com o dom de sua vida na cruz e que se recebe atualizado pelo dom do Espírito Santo.
O ponto culminante da narrativa encontra-se na segunda cena, onde Tomé, o discípulo ausente na primeira vez, é convidado a crer no testemunho da comunidade que viu o Senhor Ressuscitado. No entanto, Tomé resiste a crer se não pode ver.
Os discípulos viram o Senhor e acreditaram; Tomé, porém, não crê no testemunho deles. Tomé quer verificar a afirmação de seus companheiros comprovando com seus próprios olhos que aquele que lhes apareceu é, de verdade, o Crucificado que foi ressuscitado.
Então Jesus Ressuscitado lhe aparece com os mesmos sinais de sua crucifixão, e repreende Tomé por sua incredulidade. A resposta de Tomé é grandiosa, porquanto pronuncia a profissão de fé mais elevada do Evangelho, aplicando a Jesus os títulos que o Antigo Testamento reservava exclusivamente para Deus: Iahweh e Elohim. De fato, Tomé chama Jesus “Meu Senhor e meu Deus”, que é a manifestação de fé cristológica suprema de todo o evangelho.
As últimas palavras de Jesus são uma bem-aventurança onde declara felizes os que creem sem ter visto. Estas palavras estariam dirigidas aos discípulos da segunda geração cristão que contavam somente com a palavra pregada e que não tinham sido testemunhas oculares da ressurreição de Jesus. São declarados felizes se, pela força do Espírito Santo, chegarem a crer que Jesus está vivo, mesmo que não tenham tido uma aparição sensível, como os Apóstolos.
O que o Senhor me diz no texto?
A quaresma nos impeliu ao exercício, árduo e difícil, às vezes, de olhar para nós mesmos e reconhecer os pecados ou desordens, e empreender um caminho de conversão.
O tempo pascal, por outro lado, convida-nos a exercitar um olhar de fé sobre nossa realidade para descobrirmos ali a presença viva do Ressuscitado. Bem podemos dizer que esta oração de Santo Anselmo expressa claramente a espiritualidade própria deste tempo e que devemos fazer nossa: “Senhor, meu Deus, mostra a meu coração onde e como buscar-te, onde e como encontrar-te”.
O “onde” buscar o Senhor importa, mas o mais importante é “como” buscá-lo: é preciso buscá-lo com fé.
Não há dúvida de que a fé é um dom de Deus para nós. Contudo, também é o dom ou presente que Jesus pede de nós; é o “obséquio da inteligência e da vontade” (DV nº 5) que devemos oferecer, entregar ao Senhor, e para o qual “são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte a Deus o coração, abre os olhos do entendimento, e dá «a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade» (DV nº 5). É necessário pedir ao Senhor o dom da fé.
No entanto, não se trata de crer no ar ou no vazio; fomos chamados a ter uma experiência, na fé, da Presença de Jesus Ressuscitado em nossa vida, semelhante à que os Apóstolos tiveram.
Esta Presença de Jesus foge a nossos sentidos, pois não o podemos ver nem tocar, como o fez Tomé. Podemos, porém, sentir os efeitos de sua Presença, de sua passagem por nossa vida. O evangelho de hoje nos fala principalmente da paz que o Senhor oferece aos seus. Juntamente com a paz, temos a alegria, mencionada também pelo evangelho de hoje. Intimamente unido a estas experiências está o tema do perdão dos pecados, confiado à Igreja e que nos leva a fazer a experiência da misericórdia de Deus. E, por fim, a raiz ou causa de tudo: o dom do Espírito Santo.
Além da fé, a outra condição indispensável para esta experiência de Jesus Ressuscitado é a inserção ou pertença comunitária. Também nisto o exemplo de Tomé é claro. Somente quando se incorporou à comunidade apostólica, a Igreja nascente, pôde encontrar-se com o Senhor. O Senhor faz-se presente na comunidade dos crentes e ali poderemos “vê-lo” com os olhos da fé.
Neste “domingo da misericórdia”, recordamos especialmente que a revelação da misericórdia tem seu ápice no mistério pascal. Cremos e confessamos que Deus Pai teve uma grande misericórdia para conosco ao ressuscitar Jesus dentre os mortos e dar-nos, assim, a possiblidade de uma vida nova em esperança. A este respeito, o Papa Francisco diz-nos: “Este é o momento para dizer a Jesus Cristo: «Senhor, deixei-me enganar, de mil maneiras fugi do vosso amor, mas aqui estou novamente para renovar a minha aliança convosco. Preciso de Vós. Resgatai-me de novo, Senhor; aceitai-me mais uma vez nos vossos braços redentores». Como nos faz bem voltar para Ele, quando nos perdemos! Insisto uma vez mais: Deus nunca se cansa de perdoar, somos nós que nos cansamos de pedir a sua misericórdia.” (EG 3).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Lembro-me de alguma experiência forte de encontro com Jesus Cristo vivo em minha vida?
· O que experimentei naquele momento? Senti uma paz e uma alegria profundas?
· Tenho senso de pertença em relação à minha paróquia ou comunidade? Encontro ali mais facilmente Jesus Ressuscitado?
· Custa-me muito acreditar sem ver?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por tua presença ressuscitada e ressuscitadora.
Bendita seja a Paz que me dás a cada instante.
Que eu saiba encontrá-la e encontrar-te
mesmo nos momentos mais difíceis.
A Páscoa continua, e quero vivê-la junto a outros.
Com a alegria de que ressuscitaste por mim e para mim.
Dá-me uma fé que se apaixone por confiar-te
o que tu mesmo me confiaste.
Creio.
Creio em ti, meu Senhor e meu Deus.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, dá-me o dom da fé para acreditar e crescer na alegria junto a outros irmãos”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, visito um irmão de minha comunidade paroquial para partilhar a alegria da Ressurreição.
“De quem falava, irmãos, senão de nós? Pouco tempo depois de ter-se distanciado dos olhos mortais, para que se reforçasse a fé nos corações, todos os que acreditaram o fizeram sem ver, e sua fé teve um grande mérito. Para ter esta fé, limitaram-se a aproximar de Deus um coração cheio de piedade, mas não a mão para tocar”.
Santo Agostinho