No espaço da caverna (Mt 5,27-32)
15 de junho de 2018Misericórdia antes da justiça
18 de junho de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e coloca-me em sintonia contigo.
Vem, Espírito Santo, para que, em comunidade, possamos seguir Jesus.
Vem, Espírito Santo, e faze com que este encontro com a Boa Notícia nos mova e impulsione à missão.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 4.26-34
A semente
26Jesus disse:
— O Reino de Deus é como um homem que joga a semente na terra. 27Quer ele esteja acordado, quer esteja dormindo, ela brota e cresce, sem ele saber como isso acontece. 28É a própria terra que dá o seu fruto: primeiro aparece a planta, depois a espiga, e, mais tarde, os grãos que enchem a espiga. 29Quando as espigas ficam maduras, o homem começa a cortá-las com a foice, pois chegou o tempo da colheita.
A semente de mostarda
Mateus 13.31-32; Lucas 13.18-19
30Jesus continuou:
— Com o que podemos comparar o Reino de Deus? Que parábola podemos usar para isso? 31Ele é como uma semente de mostarda, que é a menor de todas as sementes. 32Mas, depois de semeada, cresce muito até ficar a maior de todas as plantas. E os seus ramos são tão grandes, que os passarinhos fazem ninhos entre as suas folhas.
O uso das parábolas
Mateus 13.34-35
33Assim, usando muitas parábolas como estas, Jesus falava ao povo de um modo que eles podiam entender. 34E só falava com eles usando parábolas, mas explicava tudo em particular aos discípulos.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Como imagino o Reino de Deus? Que relação existe entre Jesus e o Reino de Deus?
· No exemplo do desenvolvimento de uma planta de trigo, quanto depende do semeador e quanto da energia da própria semente e da terra?
· O que aprendo com esta comparação sobre a dinâmica do Reino de Deus?
· O que diz Jesus aos escribas a fim de demonstrar-lhes a equivocada interpretação?
· Como é o início e o final da parábola do grão de mostarda?
· O que aprendo com esta comparação sobre a dinâmica do Reino de Deus?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O início do evangelho de hoje antecipa que o tema sobre o qual Jesus vai fazer uma comparação é o Reino de Deus. Trata-se do capítulo quarto do evangelho de são Marcos, que nos apresenta Jesus sentado num barco a descrever, mediante parábolas, o “desenvolvimento” ou a “dinâmica” própria do Reino de Deus. No total, são três parábolas: a do semeador ou dos terrenos, a da semente que cresce por si mesma, e a do grão de mostarda. Somente as duas últimas são lidas na liturgia de hoje.
Em português, a palavra “reino” sugere-nos, em um primeiro momento, a ideia de um “estado” ou “lugar”, mas quando os evangelhos falam de Reino de Deus se referem antes à situação que surge do governo ou reinado de Deus sobre as pessoas. Reino de Deus é o mesmo que Deus reina entre as pessoas. Portanto, “quando se diz reino de Deus, designa-se um estado de coisas onde somente se faz o que Deus quer e se evita totalmente o que Deus não quer” (L. H. Rivas). Recordemos que no Pai-Nosso, a súplica “venha a nós o vosso Reino” vem seguida de “seja feita a vossa Vontade, assim na terra como no céu”. Ou seja, quando cumprimos a vontade de Deus, estabelece-se o Reino de Deus entre as pessoas.
Na primeira parábola, Jesus diz que o Reino de Deus é como um homem que lança o grão à terra. Observemos que esta é a única atividade “desse homem”, que permanece anônimo e que não simboliza nem Jesus nem Deus. Uma vez lançada a semente, o tempo vai passando, noite e dia, enquanto a semente vai seguindo seu ritmo de desenvolvimento de modo autônomo ou automático em relação à atividade e ao saber humano. De fato, naquele tempo, o crescimento da semente era considerado um mistério que somente Deus conhecia e controlava; e aqui está o centro de atenção da parábola.
Este processo de crescimento “automático” se descreve assim: planta, espiga, grãos. Chegado a este grau de desenvolvimento, temos o grão abundante na espiga e imediatamente vem a colheita com a foice, símbolo do juízo final (cf. Joel 3.13).
Levando-se em conta estas considerações, a mensagem da parábola sobre a dinâmica do Reino de Deus é clara: “O que importa é semear a boa semente do Reino, ou seja, predispor tudo na própria vida para que o
Reino de Deus possa começar a manifestar-se na história. Uma vez realizado o que está ao nosso alcance, resta apenas ter paciência […]. O lavrador que lançou a semente não deve preocupar-se com ela, nem deve esforçar-se por controlar seu crescimento, visto que ameaçaria seus brotos: o tempo da colheita, ou seja, a hora do juízo final chegará irremediavelmente, e não em virtude dos esforços do agricultor, mas como dom de Deus, que faz crescer o Reino e prepara a hora de sua plena manifestação” (E. Bianchi).
Em certo sentido, esta parábola completa a do semeador (cf. Mc 4.1-9), porquanto quem semeou em uma pessoa a semente da Palavra, deve prosseguir com paciência o processo de seu crescimento, deixando que a força da semente se desenvolva por si mesma (Frtizleo Lentzen-Deis).
O relato continua com outra introdução (4.30) para a parábola seguinte. Aqui também se explica que o tema a ser ilustrado é o Reino de Deus.
A parábola centra-se e concentra-se na semente de mostarda, cuja pequenez era proverbial nos tempos de Jesus. A mostarda negra tem um diâmetro de 1,6mm; a branca tem o dobro do diâmetro. E também se sabia de seu grande crescimento, pois no lago de Genesaré, por exemplo, a planta de mostarda crescida pode chegar até três metros de altura. Portanto, supera todas as hortaliças e pode servir de abrigo para os pássaros.
Esta parábola complementa a anterior, pois evidencia, na dinâmica do Reino de Deus, o contraste entre seu início modesto e seu final glorioso. Ou seja, a ênfase está posta no prodigioso crescimento da semente, que assinala o contraste entre a pequenez inicial e a grandeza final.
Em síntese, “o crescimento do reino de Deus sobre a terra não depende do ser humano, mas de Deus” (O. Vena). Por isso, “os cristãos não devem deixar-se seduzir pelo grandioso nem abater-se pelo insignificante: a força do Reino, a força do Evangelho não se mede com critérios do mundo” (E. Bianchi).
O que o Senhor me diz no texto?
No domingo passado, o evangelho fazia-nos tomar consciência de que a vida do cristão é um combate, que temos de envolver-nos nesta luta entre o bem e o mal. O convite de Jesus era para unir-nos à sua família, ao seu grupo, e lutar para que triunfe o Reinado de Deus no mundo, ou seja, a bondade, a justiça, a verdade e o amor.
Acontece que, ao colocar-nos ao lado de Jesus e juntar-nos à sua luta para tornar presente o Reino de Deus entre as pessoas, surge-nos esta pergunta: quanto é que temos de fazer e quanto é o que depende de Deus?
A primeira parábola de hoje nos responde com clareza a esta questão: a nós nos cabe apenas semear; crescimento, desenvolvimento e amadurecimento dependem de Deus. Se recordarmos que Jesus já comparou a semeadura com a proclamação da Palavra (cf. Mc 4.14-15), podemos dizer que nossa tarefa é anunciar a Palavra de Deus às pessoas. O que acontece posteriormente depende da liberdade da pessoa e da potência da Palavra de Deus. Poderíamos falar, com o Papa Francisco, da “potencialidade imprescindível da Palavra de Deus”: “A Palavra possui, em si mesma, uma tal potencialidade, que não a podemos prever. O Evangelho fala da semente que, uma vez lançada à terra, cresce por si mesma, inclusive quando o agricultor dorme (cf. Mc 4.26-29). A Igreja deve aceitar esta liberdade incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas” (EG 22).
No âmbito pastoral, esta parábola fala-nos a respeito da necessidade do tempo para que o Reino cresça e se desenvolva. Fala-se do ritmo natural do tempo, noite e dia, ao qual se adapta o agricultor da parábola, que dorme e levanta-se expressando o ritmo confiante da vida. O crescimento do Reino de Deus em nossa história
comunitária e pessoal não acontece “dando saltos”, mas é um processo que implica seu tempo. Não se podem queimar etapas, nem tampouco pessoas, por uma ansiedade exagerada.
Outra pergunta que podemos fazer-nos enquanto nos envolvemos para que o Reino de Deus triunfe no mundo é: por que somos tão poucos? Por que não conseguirmos convocar muitos e de forma rápida, a fim de que seja evidente que a obra é de Deus?
A parábola da semente do grão de mostarda nos ensina que o Reino de Deus cresce a partir de começos pequenos, quase tão insignificantes como um grão de mostarda. Somente a fé pode descobrir a potência divina que se oculta nessa pequenez que está repleta de um futuro de grandeza. Como diz o Papa Francisco: “A fé significa também acreditar nele, acreditar que nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que tira bem do mal com o seu poder e a sua criatividade infinita. Significa acreditar que Ele caminha vitorioso na história «e, com Ele, estarão os chamados, os escolhidos, os fiéis» (Ap 17.14). Acreditamos no Evangelho que diz que o Reino de Deus já está presente no mundo, e vai-se desenvolvendo aqui e além de várias maneiras: como a pequena semente que pode chegar a transformar-se numa grande árvore (cf. Mt 13.31-32), como o punhado de fermento que leveda uma grande massa (cf. Mt 13.33), e como a boa semente que cresce no meio do joio (cf. Mt 13.24-30) e sempre nos pode surpreender positivamente: ei-la que aparece, vem outra vez, luta para florescer de novo” (EG 278).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Em minha vida cristã pessoal e em minha atividade apostólica, sinto-me o protagonista, como se tudo dependesse de mim, ou reconheço a primazia do agir de Deus?
· Deixo-me dominar pela ansiedade, pela impaciência ou pelo desespero ao ver que a obra de Deus não se manifesta segundo meus tempos, ou sei esperar pacientemente, sabendo que tudo depende de Deus e de sua graça?
· Aceito que o mais importante é deixar que o Senhor aja e que nossa missão é semear a Palavra e esperar com paciência que dê seu fruto?
· Descubro a presença do Senhor e os começos de seu agir nas coisas pequenas e insignificantes de cada dia?
· Já experimentei em minha vida pessoal ou em meu apostolado que algo pequeno findou por ser grande e transcendente, por obra da graça de Deus?
· Percebo que com os critérios mundanos do êxito imediato e da repercussão imediata não se podem medir as obras de Deus?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, tua linguagem e por teu modo de falar-nos do Reino.
Livra-nos de querer manejar e controlar tudo com nossos tempos.
Desperta-nos dessa falsa esperança de esperar sem fazer nada.
Dá-nos a convicção e a firmeza para trabalhar pelo Reino.
Jesus, queremos ser semeadores de alegria, de compromisso e de gestos de ternura.
Que nada nos pareça insignificante, pois em tua companhia,
o menor, sem perceber, recobra forças.
Que a potencialidade de teu Mistério nos envolva, e pela fé,
juntamente com outros, sejamos testemunhas de teu agir apaixonado pelo Reino.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, concede-me o dom de buscar o Reino e de descobri-lo”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Procuro fazer um pequeno gesto com alguém que não conheço: uma saudação cordial, um sorriso, um ceder um lugar em um estabelecimento.
“Não podemos construir o Reino de Deus com nossas forças. O Reino de Deus é um dom e, precisamente por isso, é grande e belo, e constitui a resposta à esperança.”
Bento XVI