O mundo e o reino. (Jo 15, 18-21)
5 de maio de 2018“O coração de vocês ficou cheio de tristeza”
8 de maio de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e derrama-te com força.
Vem, Espírito Santo, e enche de alegria meu coração.
Vem, Espírito Santo, e inflama-nos.
Vem, Espírito Santo, e faze com que este encontro com a Palavra
seja um novo Pentecostes.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 15.9-17
9Assim como o meu Pai me ama, eu amo vocês; portanto, continuem unidos comigo por meio do meu amor por vocês. 10Se obedecerem aos meus mandamentos, eu continuarei amando vocês, assim como eu obedeço aos mandamentos do meu Pai e ele continua a me amar.
11 — Eu estou dizendo isso para que a minha alegria esteja em vocês, e a alegria de vocês seja completa. 12O meu mandamento é este: amem uns aos outros como eu amo vocês. 13Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles. 14Vocês são meus amigos se fazem o que eu mando. 15Eu não chamo mais vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que o seu patrão faz; mas chamo vocês de amigos, pois tenho dito a vocês tudo o que ouvi do meu Pai. 16Não foram vocês que me escolheram; pelo contrário, fui eu que os escolhi para que vão e deem fruto e que esse fruto não se perca. Isso a fim de que o Pai lhes dê tudo o que pedirem em meu nome. 17O que eu mando a vocês é isto: amem uns aos outros.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · De que modo Jesus ama seus discípulos e o que lhes pede?
- · Existe relação entre o amor e a alegria? Qual é?
- · Qual é o mandamento fundamental que Jesus deixa a seus discípulos?
- · Por que Jesus chama seus discípulos de amigos e que condição lhes impõe?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[1]
Este texto é a continuação do que lemos no domingo passado. Embora desapareça o tema da videira e dos ramos, continua a centralidade do mandato de “permanecer”, que agora se vincula com o tema do “amor/amar”, dominante nestes versículos. Portanto, a seiva, o que dá vida aos ramos ou sarmentos, é o amor que a videira lhes transmite; por isso, permanecer unido à videira, a Jesus, é permanecer em seu amor.
Com efeito, em 15.9, Jesus declara que o amor é o vínculo que o une a seu Pai, e que este mesmo amor é modelo e causa do seu amor por seus discípulos. Em seguida, vem, pois, o mandato de “permanecer neste amor”; e este permanecer é compreendido como uma fidelidade ativa a um vínculo estável, e inclui a observância dos mandamentos de Jesus, assim como Jesus viveu sua permanência no amor do Pai observando seus mandamentos.
Jesus torna seus discípulos partícipes de seu amor e lhes dá o andamento de amar-se uns aos outros com este amor divino. Por isso, os cristãos permanecem no amor do Pai e de Jesus quando se amam uns aos outros com este amor.
O motivo que Jesus tem para comunicar estas palavras é partilhar com seus discípulos sua própria alegria e felicidade de viver no amor, que é uma alegria completa, uma felicidade plena.
Em 15.13-15, este amor vem especificado com a categoria da amizade. O amor de Jesus é o amor maior, porque consiste em dar a vida por seus amigos, por seus discípulos. Utiliza-se a mesma expressão – dar a vida – que caracteriza o bom Pastor (cf. 10.11). Para ser amigos de Jesus e, portanto, receptores deste amor maior, impõe-se como condição a observância do mandamento do amor mútuo (cf. 15.12).
O critério para diferençar o servo/escravo do amigo não é o da liberdade, mas o da comunicação de confidências. Portanto, Jesus faz-se amigo de seus discípulos porque os faz destinatários da Revelação. Trata-se de uma comunicação que cria comunhão, amizade (L. Rivas). Esta iniciativa de Jesus se reforça com o tema da eleição: diferentemente do ambiente judeu, onde os discípulos escolhiam seu mestre, aqui Jesus é quem os escolhe. E tal como para Israel, esta eleição não é um privilégio, mas uma responsabilidade, um compromisso de dar frutos que permaneçam.
Do mesmo evangelho se pode deduzir que o fruto permanente dos amigos de Jesus deve ser o amor mútuo.
O que o Senhor me diz no texto?
Há uma expressão no evangelho de hoje que chega a comover-nos: “Ninguém tem mais amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles… Vocês são meus amigos”.
Jesus declara-nos seu amor, que é o amor maior, porque deu sua vida por nós, seus amigos. Jesus ama-nos como amigos, convida-nos à sua amizade. Ser cristão é, fundamentalmente, ser amigo de Jesus.
Dizia são Tomás de Aquino que “qualquer amigo verdadeiro quer para seu amigo: 1) que exista e viva; 2) todos os bens; 3) fazer-lhe o bem; 4) alegrar-se com sua convivência; e 5) finalmente, partilhar com ele suas alegrias e tristezas, vivendo com ele em um só coração”.
Estes tópicos da verdadeira amizade, Jesus cumpre-os e de modo pleno.
Ele deu sua vida para que nós tenhamos a vida em abundância, a vida eterna.
Revelou-nos seu Pai; mais ainda, partilhou conosco o amor do Pai e sua própria condição de Filho, de modo que somos, de verdade, filhos de Deus, nosso Pai.
Jesus sempre e em todo momento busca nosso bem, procura fazer-nos o bem e quer tornar-nos bons. Amar é fazer o bem ao amado, e Deus, que é Amor, só pode amar, só pode querer nosso bem.
Este amor de amizade é causa de uma profunda alegria para Jesus e para nós. O sentir-se amado de modo tão pleno é a fonte da alegria e da felicidade do cristão. A vida do cristão não é mais fácil por isso e não está livre de problemas e de sofrimentos; no entanto, sempre permanece a alegria profunda pela certeza do amor de Jesus que nos abre ao eterno.
Jesus partilha toda nossa vida e quer estar presente em nossas alegrias e tristezas. Ao mesmo tempo, convida-nos a partilhar sua vida; a participar de seus mistérios, que são gloriosos, gozosos, luminosos, mas também dolorosos. Como nos diz o Papa Francisco em Gaudete et exultate nº 20: “No fundo, a santidade é viver em união com ele os mistérios da sua vida; consiste em associar-se duma maneira única e pessoal à morte e ressurreição do Senhor, em morrer e ressuscitar continuamente com ele. Mas pode também envolver a reprodução na própria existência de diferentes aspetos da vida terrena de Jesus: a vida oculta, a vida comunitária, a proximidade aos últimos, a pobreza e outras manifestações da sua doação por amor. A contemplação destes mistérios, como propunha Santo Inácio de Loyola, leva-nos a encarná-los nas nossas opções e atitudes”.
Diante da realidade de um amor assim, a gente se sente transbordado, e quase até entristecido. Sim, porque nos pesa ser amados de tal modo e não poder corresponder. Porque a única resposta válida parece ser que é preciso amar os demais desta maneira: gratuitamente, tomando sempre a iniciativa, entregando a vida…É o mandamento do amor…, mas não conseguimos amar assim espontaneamente. A consoladora resposta diante deste “beco sem saída” nos é dada pela própria Palavra de Deus, que nos ensina que “nós amamos porque Deus nos amou primeiro” (1Jo 4.19). E esta frase foi explicada magistralmente pelo Papa Bento XVI em “Deus é Amor”: “o ‘mandamento’ do amor só se torna possível porque não é mera exigência: o amor pode ser ‘mandado’, porque antes nos é dado (nº 14) […] Ele amou-nos primeiro, e continua a ser o primeiro a amar-nos; por isso, também nós podemos responder com o amor. Deus não nos ordena um sentimento que não possamos suscitar em nós próprios. Ele ama-nos, faz-nos ver e experimentar o seu amor, e desta ‘antecipação’ de Deus pode, como resposta, despontar também em nós o amor (nº 17) […] Amor a Deus e amor ao próximo são inseparáveis, constituem um único mandamento. Mas, ambos vivem do amor preveniente com que Deus nos amou primeiro. Deste modo, já não se trata de um ‘mandamento’ que do exterior nos impõe o impossível, mas de uma experiência do amor proporcionada do interior, um amor que, por sua natureza, deve ser ulteriormente comunicado aos outros. O amor cresce através do amor” (nº 18).
Dom e tarefa são inseparáveis; ainda mais, a tarefa é um puro dom da graça. Com isto, o evangelho antecipa já, de certo modo, o episódio de Pentecostes: o dom é o Espírito de Deus que nos ajuda a cumprir a tarefa, o mandamento do amor (H. U. von Balthasar).
Portanto, o Evangelho e a própria vida nos orientam necessariamente paro o sequioso pedido do dom do Espírito Santo, pois somente ele pode tornar possível esta permanência no amor de Deus que nos permite dar frutos de amor para o irmão.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Estou consciente da declaração de amor que o Senhor nos faz neste evangelho?
- · O que desperta em mim o saber que sou amado deste modo?
- · Sinto Jesus como meu amigo? Recebo suas confidências e lhe confio as minhas?
- · Tento colocar o amor no centro de minha vida e de meus vínculos?
- · Compreendo que o amor mútuo é o verdadeiro distintivo dos cristãos?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por me declarares teu amor.
Obrigado por não guardares nada de ti
e por transbordares de amor por mim, por cada um de nós.
Que eu saiba amar assim, Jesus,
gratuitamente.
Que não espere algo em troca.
Esta é minha identidade: ser amado.
Que eu mostre teu DNA em cada gesto,
em cada batida de meu coração:
um amor que se dá e que se entrega.
Obrigado por seres meu amigo, por me confiares o mais precioso:
o que recebeste do Pai.
Que eu saiba ser testemunha e viver a verdadeira e autêntica comunhão.
Faze-me permanecer em teu amor para dar frutos
na vida de meus irmãos.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, amigo fiel, dá-me um coração atento, para que escute tuas confidências”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me visitar ou escrever a um/a amigo/a e entregar-lhe este texto do evangelho.
“Se o rosto de um ser amado nos faz felizes, o que não fará a força do Senhor quando vier habitar secretamente na alma purificada! O amor é um abismo de luz, uma fonte de fogo. Quanto mais brota, mais queima o sedento. Por isso, o amor é um eterno progresso”.
Santo Agostinho
[1] Pe. Damián Nannini: sacerdote da Arquidiocese do Rosário (Argentina); Licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; Diretor da Escola Bíblia do CEBITEPAL – CELAM.