Aparecida para ser esperança
12 de outubro de 2017Muito mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus. Lc 11,27-28
14 de outubro de 2017Mas alguns disseram:
— É Belzebu, o chefe dos demônios, que dá poder a este homem para expulsar demônios.
Outros, querendo conseguir alguma prova contra Jesus, pediam que ele fizesse um milagre para mostrar que o seu poder vinha de Deus. Mas Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse:
— O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído; a família que se divide em grupos que lutam entre si também será destruída. Se o reino de Satanás tem grupos que lutam entre si, como continuará a existir? Vocês dizem que é Belzebu que me dá poder para expulsar demônios. Mas, se é assim, quem dá aos seguidores de vocês o poder para expulsar demônios? Assim, os seus próprios seguidores provam que vocês estão completamente enganados. Na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês.
— Quando um homem forte e bem armado guarda a sua própria casa, tudo o que ele tem está seguro. Mas, quando um homem mais forte o ataca e vence, leva todas as armas em que o outro confiava e reparte tudo o que tomou dele.
— Quem não é a meu favor é contra mim; e quem não me ajuda a ajuntar está espalhando.
Jesus continuou:
— Quando um espírito mau sai de alguém, anda por lugares sem água, procurando onde descansar, mas não encontra. Então diz: “Vou voltar para a minha casa, de onde saí.” Aí volta e encontra a casa varrida e arrumada. Depois sai e vai buscar outros sete espíritos piores ainda, e todos ficam morando ali. Assim a situação daquela pessoa fica pior do que antes.
Espírito de Amor que procede do Pai e do Filho, ajude-nos a acolher a mensagem que a palavra de hoje nos traz.
Achei este texto muito intenso e com inúmeras possibilidades de aprofundamento na oração. Contudo, duas coisas foram mais marcantes e vou ficar com elas. Incentivo a todos que tiverem outras interpelações mais fortes dedicarem um pouco de tempo no diálogo íntimo com o Espírito, pois Seu toque é sempre individual e Sua mensagem é sempre pessoal.
A primeira coisa que mais chamou a minha atenção foi Jesus escancarar a contradição na atitude de seus adversários: “quem dá aos seguidores de vocês o poder para expulsar demônios? Assim, os seus próprios seguidores provam que vocês estão completamente enganados”.
Faço uma composição de lugar, na qual Jesus está cercado por uma multidão, ensinando, curando e expulsando demônios. A multidão se reuniu em torno de Jesus porque sua fama havia se espalhado. A maioria admirava tudo o que Jesus fazia e falava. Dentro da multidão havia aqueles que, movidos por ciúmes ou medo de perder poder, queriam destruir sua imagem, espalhando dúvidas e disseminando perguntas maliciosas, de tal forma a criar um clima hostil à evangelização.
Tenho sempre dito, em determinadas ocasiões, que a maioria, quase a totalidade das pessoas do meu conhecimento são boníssimas e sempre agem com muito boas intenções. Acredito que este seja o padrão em praticamente toda a sociedade. Porém, percebo também quanto mal se espalha entre essas mesmas pessoas por causa de fofocas e julgamentos levianos, que não consideram a complexidade de determinadas situações, bem como não respeitam o princípio de presunção da inocência, ou da não culpabilidade. Este princípio do direito jurídico, assegurado na Constituição Federal do Brasil de 1988, é muito consistente com os princípios evangélicos: “não julguem os outros, e Deus não julgará vocês. Não condenem os outros, e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros, e Deus perdoará vocês” (Lc 6, 37).
A língua é um instrumento de suma importância para o desenvolvimento humano, pois pelo domínio da linguagem e comunicação, pudemos nos desenvolver e acumular conhecimento, contudo, talvez pela riqueza que lhe é própria, também se faz instrumento privilegiado para o maligno. A carta de São Tiago, da qual destaco o início do capítulo 3, dedica especial atenção aos pecados que cometemos por não colocar um freio em nossa língua: “Meus irmãos, somente poucos de vocês deveriam se tornar mestres na Igreja, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com mais rigor do que os outros. Todos nós sempre cometemos erros. Quem não comete nenhum erro no que diz é uma pessoa madura, capaz de controlar todo o seu corpo”.
A multidão em torno de Jesus e a pressão sobre ele, para que prove ser inocente, faz-me perceber um paralelo com o que temos assistido atualmente no Brasil. Os meios de comunicação levantam suspeitas sobre alguém, estampam manchetes condenatórias e grande parte das pessoas de bom coração condenam todos, sem pestanejar. Compartilho com todos o triste sentimento de que não conseguimos avançar como sociedade por causa de um estado lamentável de corrupção instalado em nossas elites políticas, porém esta condenação sem provas concretas, apenas pela acusação de uns e outros, parece-me com a experiência que Jesus vive nessa passagem e isto me assusta.
Essa passagem do evangelho parece-me ser um momento oportuno e privilegiado de perguntarmos ao Espírito: como tenho me comportado? Meu comportamento tem sido coerente com o evangelho? Como devo agir? Sei que sou uma ovelha no meio de lobos (Mt 10, 16), o que fazer para ser esperto como as serpentes e sem malícia como as pombas?
A segunda coisa que chamou a minha atenção é a afirmação de Jesus: “na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês”.
Esta frase de Jesus fez-me lembrar de uma outra frase de que gostei muitíssimo: “o bem só é bem de verdade, se for bem para todos”. Infelizmente, não me recordo de quem seja essa frase para dar os créditos devidos.
Quando alguma coisa nos incomoda ou incomoda aos outros, devemos nos perguntar, qual é a razão do incômodo? Muitas vezes, o incômodo é consequência de privilégios injustos que nos são retirados, porém isso não representa um mal, pelo contrário, representa um bem, porque teremos a oportunidade de crescer como pessoa, tanto intelectualmente como espiritualmente.
Isso levou-me a fazer uma ligação com a primeira coisa que chamou minha atenção. Como Maria, também somos convidados a trazer todas as coisas para o coração, meditá-las com o auxílio das luzes do Espírito, para depois podermos considerar o que é bem ou não. As reações, muito intempestivas e impensadas, pouco guardadas no coração, são terreno fértil para a propagação do maligno, para o crescimento do joio, afinal, Jesus comparou o Reino de Deus ao grão de mostarda que, pequenino, germina lentamente até tornar-se uma grande árvore ou ao fermento que necessita do descanso da massa para transmitir a ela suas propriedades.
Como estou reagindo àquilo que me incomoda? Apresento-o primeiro a Deus para, julgar bem se se trata de um bem ou um mal, de acordo com Sua vontade?
Muitas coisas que nos acontecem podem ser sinais do Reino e não o percebemos por estarmos fechados em nosso egoísmo.
Maria, mãezinha querida que ontem celebramos como nossa padroeira, exemplo de discípula e primeira missionária, ajude-nos a caminhar e a evangelizar, sempre buscando fazer tudo o que Jesus nos diz. Amém!
***
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte