Alguns fariseus perguntaram a Jesus quando ia chegar o Reino de Deus. Ele respondeu:

— Quando o Reino de Deus chegar, não será uma coisa que se possa ver. Ninguém vai dizer: “Vejam! Está aqui” ou “Está ali”. Porque o Reino de Deus está dentro de vocês.

Então ele disse aos discípulos:

— Chegará o tempo em que vocês vão querer ver um dos dias em que o Filho do Homem já tiver chegado, mas não verão. Alguns vão dizer a vocês: “Olhem aqui” ou “Olhem ali”; porém não saiam para procurá-lo. Porque, assim como o relâmpago brilha de uma ponta do céu até a outra, assim será no dia em que o Filho do Homem vier. Mas primeiro ele precisa sofrer e ser rejeitado pelo povo de hoje.

Quase que invariavelmente somos compelidos a buscar sentido para nossas vidas em coisas externas a nós. Há uma base muito forte, sendo trabalhada por muitos e muitos anos, sobre a qual se sustenta o modelo de vida consumista de nossa sociedade. Não apenas do consumo de coisas materiais, mas também de ideias, de diversão ou lazer, de cultura e tantas outras. Importa para a manutenção deste modelo que sempre busquemos alguma coisa “fora de nós” para alcançarmos a felicidade.

O trecho do evangelho de hoje cutuca diretamente este nosso ledo engano. Em muitas outras passagens do evangelho podemos perceber Jesus chamando nossa atenção para cuidar do que está em nosso interior, contudo, hoje, Ele diz com tanta clareza que não nos permite criar subterfúgios para outras considerações.

Pela pergunta dos fariseus a Jesus, percebe-se que eles esperavam um Reino de Deus nos mesmos modelos dos reinos humanos conhecidos, talvez semelhante ao Império Romano, apenas mudando os atores, ou seja, com os judeus como mandantes, já que eram o povo eleito.

A resposta de Jesus é desconcertante: “Quando o Reino de Deus chegar, não será uma coisa que se possa ver”. Por causa disto ninguém poderá dizer que ele está ali ou aqui. E, no final, Ele acrescenta: “Porque o Reino de Deus está dentro de vocês”. Em algumas outras traduções podemos também ler que o Reino de Deus está entre nós.

Daí que vem nosso ledo engano, pois não importam as nossas mais justas reivindicações de “coisas externas” a nós: uma boa escola, moradia digna, alimentação saudável, trabalho digno, justo salário, justiça competente, governantes honestos, acesso à cultura etc etc etc. O Reino de Deus, aquilo que nos traz a felicidade, a paz, o sentido para a vida, está dentro de nós e se constrói a partir de nossas atitudes e em nossas relações com os que nos cercam.  

Cuidar do nosso interior e das nossas relações são as chaves para percebermos o Reino de Deus. Para isso, necessitamos cultivar nosso relacionamento íntimo com Deus, pois só dele vem a bondade, como destaca Jesus na resposta ao jovem rico: “Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém” (Mc 10, 18).

 E, se não cultivarmos este relacionamento, o que seremos? Jesus, certa vez, disse: “A pessoa boa tira o bem do seu depósito de coisas boas, e a pessoa má tira o mal do seu depósito de coisas más” (Mt 12, 35). Quem pode nos dar coisas boas é somente Deus, que nos dá de Si mesmo, nos dá Seu Espírito Santo. Para recebê-lo, aceitá-lo, segui-lo e ser obediente precisamos nos relacionar intimamente com Ele.

Por tudo isso, tenho muita alegria de poder compartilhar com vocês um pouco do que Deus me traz na Palavra que recebo a cada dia. Esse contato diário com Sua Palavra estabelece a possibilidade de o Reino de Deus estar presente em cada ação e em cada decisão que vamos tomar durante o dia.

 Na oração, podemos perceber quando pensamos como os fariseus e queremos que Deus aja sobre as coisas externas, resolvendo por nós os problemas que são nossos, desejando que a paz seja imposta, ao invés de que ela seja construída a partir de nossas atitudes, de nosso modo de ser e de agir.

Trindade Santa que habita em nós, ajude-nos a perceber Sua presença e a deixarmos ser guiados pela Sua vontade, tornando-nos concidadãos do Reino de Deus que está entre nós. Amém!

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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte