Sementes de uma vida verdadeira (Jo 12, 24-26)
10 de agosto de 2016Que ninguém separe o que Deus uniu.
12 de agosto de 2016“Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
— Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
— Não! — respondeu Jesus. — Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor.”
— O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: “Pague o que me deve!”
— Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo.”
— Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: “Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você.”
— O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
E Jesus terminou, dizendo:
— É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.
Depois de dizer isso, Jesus saiu da Galileia e foi para a região da Judeia que fica no lado leste do rio Jordão.”
Hoje, dia de Santa Clara, vamos pedir ao Pai, por sua intercessão, que nos conceda seguir a Cristo com um coração de pobre, que possa contemplar o Reino e vivenciá-lo.
O Evangelho de hoje nos traz o tema do perdão, tão delicado também para nós. Pedro pergunta a Jesus: “Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?” Quão humano é o sentimento de Pedro! Ele nos passa: “Quantas vezes? Até quando?” Pedro coloca um limite, mas um limite até generoso: “Sete vezes?” A literalidade do 7 já não é nada fácil, pois nos ocorre até não perdoar nenhuma vez! Se considerarmos que Pedro o citou como um número símbolo de plenitude, podemos compreender como: perdoar até o meu limite máximo? Perdoar com toda a minha capacidade?
A resposta de Jesus é desconcertante: “Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes.” (outras traduções dizem: “setenta vezes sete”) Perguntar-lhe na oração: Senhor, do que você está falando? Que perdão é este, muito acima das minhas forças e capacidades?
Na parábola que Jesus conta, ele situa nossa relação com o irmão na nossa relação com Deus. Primeiro o empregado recebe o perdão infinito do rei, diante de uma dívida impagável. Depois, cobra de forma implacável do colega o pagamento de uma dívida a qual provavelmente com o tempo poderia ser restituída. Será que ele se deu conta do que havia acabado de acontecer e da graça recebida?
“Porque ele nos amou primeiro”, diz São João em uma de suas cartas. Mas que experiência fazemos desse amor primeiro de Deus que nos oferece seu Filho para nos dar vida plena? Per-dão é fazer-se dom pelo outro. Qual a nossa gratidão diante daquele que se faz dom para nós, nos perdoa infinitamente sem fazer conta de nossos pecados, nos dá a graça de sermos filhos? Será que nossa dificuldade de perdoar o irmão não vem de uma ingratidão com Deus, de uma consciência muito pequena da gratuidade recebida?
“O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.” O problema de não perdoar é que somos nós mesmos que paramos na cadeia. Queremos “prender” o outro, retê-lo, fechar toda a entrada para ele em nossa vida. No entanto, quem acaba preso somos nós mesmos. Presos na mágoa, presos na raiva, presos na dor. Uma prisão da qual só o perdão verdadeiro pode nos libertar.
Jesus nos oferece o seu perdão, por pura compaixão. Ele se dá conta da nossa pequenez e limitações diante da dívida. Abrir-nos a esta experiência é porta de entrada para também começar o olhar o outro com o olhar de compaixão de Jesus. Perceber suas limitações, sua inconsciência e até mesmo as experiências de dor que pode ter vivido – quer saibamos ou não – para agir assim. Perdoar não é nos colocar superiores ao outro, mas dar-nos conta do nosso limite e do limite do outro e, sobretudo, de um enorme amor que nos sustenta e quer nos unir.
De fato, perdoar não é para nós, não está nos nossos limites de no máximo 7. Perdoar é dom divino, dom que o Espírito que habita em nós quer nos dar e pede apenas o nosso “sim” livre para deixá-lo fazer, deixar o perdão de Deus sair através de nós. Peçamos a Ele, então, que nos liberte de todas as amarras que temos devido ao não-perdão e nos ajude a perdoar, nos dê a graça desta experiência libertadora para nós e fraterna para os irmãos.
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner