Jamais alguém falou assim! (Jo 7, 40-53)
17 de março de 2018O começo de uma nova história (MT 1, 16.18-21.24ª)
19 de março de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e abre-me o ouvido
para escutar a Palavra.
Vem, Espírito Santo, e impele-me a viver a Palavra.
Vem, Espírito Santo, neste caminho de preparação para a Páscoa,
para que junto a outros, possa crer e anunciar a Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 12.20-33
Alguns não judeus vão ver Jesus
20Entre o povo que tinha ido a Jerusalém para tomar parte na festa, estavam alguns não judeus. 21Eles foram falar com Filipe, que era da cidade de Betsaida, na Galileia, e pediram:
— Senhor, queremos ver Jesus.
22Filipe foi dizer isso a André, e os dois foram falar com Jesus. 23Então ele respondeu:
— Chegou a hora de ser revelada a natureza divina do Filho do Homem. 24Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo. 25Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira. 26Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver, ali também estará esse meu servo. E o meu Pai honrará todos os que me servem.
Jesus anuncia a sua morte
27Jesus continuou:
— Agora estou sentindo uma grande aflição. O que é que vou dizer? Será que vou dizer: Pai, livra-me desta hora de sofrimento? Não! Pois foi para passar por esta hora que eu vim. 28Pai, revela a tua presença gloriosa!
Então do céu veio uma voz, que dizia:
— Eu já a revelei e a revelarei de novo.
29A multidão que estava ali ouviu a voz e dizia que era um trovão. Outros afirmavam que um anjo tinha falado com Jesus. 30Mas ele disse:
— Não foi por minha causa que veio esta voz, mas por causa de vocês. 31Chegou a hora de este mundo ser julgado, e aquele que manda nele será expulso. 32E, quando eu for levantado da terra, atrairei todas as pessoas para mim.
33Ele dizia isso para indicar de que maneira ia morrer.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Em que festa judaica importante o texto nos situa?
- · O que os gregos pedem a Filipe?
- · A que “hora” Jesus se refere em sua resposta?
- · Que relação Jesus estabelece entre um grão de trigo e sua morte e ressurreição?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
O episódio narrado por este evangelho situa-se precisamente antes da entrada messiânica de Jesus em Jerusalém, durante uma festa de Páscoa, razão por que havia em Jerusalém judeus vindos de todos os lugares. Diante do pedido de alguns gregos que querem vê-lo, Jesus responde com um discurso que expressa seu estado de ânimo, sua disposição interior antes da Paixão. Este texto pode ser considerado como o Getsâmani do evangelho de João, visto que cinco dias antes de sua Paixão, Jesus anuncia que chegara sua hora, e sente grande aflição (Jo 12.27).
Trata-se da hora de passar deste mundo para o Pai, que é, ao mesmo tempo, a hora do amor extremo (Jo 13.1) e da dor suprema, das dores do parto (16.21); hora do abandono dos discípulos e da presença permanente do Pai (16.32). Ao mesmo tempo, é a hora da glorificação do Filho pelo Pai (12.23).
Em seguida, Jesus conta uma breve parábola: “Eu afirmo a vocês que isto é verdade: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo”. Sabemos que se o grão apodrece, morre; dele, porém, surge uma planta que dará mais grãos. Por outro lado, se não morre, fica estéril, não dá nem planta nem frutos. Assim, Jesus recorre ao ciclo vital da semente a fim de ensinar-nos o sentido de sua morte como uma passagem fecunda para a vida, para o frutificar e glorificar o Pai. Sua morte será um fracasso somente aparentemente, pois graças a ela, imediatamente passará à glória do Pai. Ao mesmo tempo, ensina-nos que o amor manifestado em sua entrega é o que dá sentido aos sofrimentos de sua paixão, pois os orienta em favor dos outros, tornando-os redentores. A dor e a morte são transformadas em meios de vida e de fecundidade. A semente é Cristo mesmo que, através de sua morte, dará a vida aos demais. A um só tempo, no entanto, visto que no texto esta frase é dita aos apóstolos, converte-se em lei geral do discipulado, dos que escolhem seguir o caminho de Cristo.
O que o Senhor me diz no texto?
Nada é mais importante e fundamental na vida cristã do que deixar que Deus aja em nós. Toda a Quaresma quer educar-nos para isto. O evangelho fala-nos da “passagem” necessária de Jesus através do sofrimento e da morte para obter-nos a vida eterna. Trata-se do processo ou dinamismo próprio do mistério pascal, a passagem necessária pela destruição, obediência e morte, de onde Deus fará surgir novamente a vida. Jesus morre para ressuscitar; dá a vida pela salvação dos homens para, em seguida, recuperá-la transfigurada. E também nos é dito que Deus quer agir em nós como agiu em seu Filho Jesus. E isto não é nada fácil de aceitar e assumir.
Todos nós sentimos mais prazer com a saúde, o triunfo, o êxito e as honras do que com a renúncia, o sacrifício, o fracasso. Cristo ensinou-nos que o mundo é salvo não com exibição de poder, mas mediante a cruz, que neste mundo não tem certamente nem boa reputação nem popularidade (J. Aldazábal).
É claro que Deus toma a iniciativa em nossa redenção; portanto, é preciso deixar que ele aja, a seu modo e com seus tempos. Jesus ensina-nos que quando orarmos, deveremos sempre deixar que Deus escolha a solução da situação em que nos encontrarmos. A solução que Deus der será sempre melhor do que a que possamos pensar com nossas mentes limitadas […]. A paixão de Jesus é um acontecimento extraordinário, que mudou a situação religiosa dos homens. É um acontecimento de amor. Jesus amou-nos a ponto de dar sua própria vida por nós. Seu amor é universal, quer transformar nossas mentes e nossos corações de maneira radical, concedendo-nos uma união efetiva com Deus e com todos os nossos irmãos (Card. A. Vanhoye).
O Papa Francisco dá sua contribuição para nosso trabalho pastoral em EG nº 279: “Como nem sempre vemos estes rebentos, precisamos de uma certeza interior, ou seja, da convicção de que Deus pode atuar em qualquer circunstância, mesmo no meio de aparentes fracassos, porque «trazemos este tesouro em vasos de barro» (2Cor 4.7). Esta certeza é o que se chama «sentido de mistério», que consiste em saber, com certeza, que a pessoa que se oferece e entrega a Deus por amor, seguramente será fecunda (cf. Jo 15.5). Muitas vezes esta fecundidade é invisível, incontrolável, não pode ser contabilizada. A pessoa sabe com certeza que a sua vida dará frutos, mas sem pretender conhecer como, onde ou quando; está segura de que não se perde nenhuma das suas obras feitas com amor, não se perde nenhuma das suas preocupações sinceras com os outros, não se perde nenhum ato de amor a Deus, não se perde nenhuma das suas generosas fadigas, não se perde nenhuma dolorosa paciência. Tudo isto circula pelo mundo como uma força de vida. Às vezes invade-nos a sensação de não termos obtido resultado algum com os nossos esforços, mas a missão não é um negócio nem um projeto empresarial, nem mesmo uma organização humanitária, não é um espetáculo para que se possa contar quantas pessoas assistiram devido à nossa propaganda. É algo de muito mais profundo, que escapa a toda e qualquer medida. Talvez o Senhor se sirva da nossa entrega para derramar bênçãos noutro lugar do mundo, aonde nunca iremos. O Espírito Santo trabalha como quer, quando quer e onde quer; e nós gastamo-nos com grande dedicação, mas sem pretender ver resultados espetaculares. Sabemos apenas que o dom de nós mesmos é necessário. No meio da nossa entrega criativa e generosa, aprendamos a descansar na ternura dos braços do Pai. Continuemos para diante, empenhemo-nos totalmente, mas deixemos que seja Ele a tornar fecundos, como melhor lhe parecer, os nossos esforços”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Já tive alguma experiência de morte e de ressurreição em minha vida?
- · A beleza do fruto que virá consegue ajudar-me a vencer o medo de renunciar ao que não é bom em minha vida?
- · Tenho o olhar posto na vida eterna, ou apenas me conformo com levar uma vida boa na terra?
- · Estou consciente de que minha entrega cotidiana é fecunda somente se unida à de Jesus?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Hoje também pergunto por ti, Jesus, como aqueles gregos.
Chega a hora de tua entrega, e quero acompanhar-te.
Liberta-me da ideia de uma salvação que se expõe em uma vitrine.
Liberta-me de querer controlar e de ver os resultados de minhas entregas.
Quero dar-te o lugar justo, Jesus.
Contigo desejo ser semente que morre para dar fruto,
como e onde quiseres.
Confio no poder da Vida Nova que trazes com tua Ressurreição.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, dá-me a graça de morrer ao que não me ajuda a dar frutos para teu Reino”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Escolho um dia da semana para oferecer um esforço ou sacrifício por alguém próximo.
“A morte do grão de trigo sob a terra é para que possa despontar a espiga dando fruto abundante. Sua morte é garantia de vida, é a fonte da vida para todos nós”.
São João Paulo II