O Senhor anunciou a sua vitória
6 de maio de 2018“Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer”
9 de maio de 2018Leitura: João 16, 5-11
E Jesus continuou:
— Eu não disse isso antes, porque ainda estava com vocês. Porém agora eu vou para junto daquele que me enviou. E nenhum de vocês me pergunta: “Aonde é que o senhor vai?” Mas, porque eu disse isso, o coração de vocês ficou cheio de tristeza. Eu falo a verdade quando digo que é melhor para vocês que eu vá. Pois, se não for, o Auxiliador não virá; mas, se eu for, eu o enviarei a vocês. Quando o Auxiliador vier, ele convencerá as pessoas do mundo de que elas têm uma ideia errada a respeito do pecado e do que é direito e justo e também do julgamento de Deus. As pessoas do mundo estão erradas a respeito do pecado porque não creem em mim; estão erradas a respeito do que é direito e justo porque eu vou para o Pai, e vocês não vão me ver mais. E também estão erradas a respeito do julgamento porque aquele que manda neste mundo já está julgado.
Oração:
Para a oração de hoje, a Igreja dá-nos trecho de um longo discurso que Jesus, segundo o evangelista João, faz antes de se entregar.
Jesus, com suas palavras, anuncia que, com sua morte iminente, vai para junto daquele que o enviou, o Pai. Jesus, o Filho, adverte os seus amigos porque sabe que eles sentirão sua falta. O Filho não foi invisível, intocável… Ao contrário: Jesus olhava e era olhado, tocava e era tocado. Ele vê a tristeza daqueles de quem já se despedia. Ele estaria presente, mas não seria como antes. Eu imagino se Jesus também não terá sentido profundo pesar… Ele, que gostava de comer com seus amigos, beber com eles, caminhar – que é sentir o peso do corpo e o chão sob os pés –, conversar – que é falar e ouvir, nem sempre com palavras –, tocar… Porque não conhecemos Jesus tal qual o conheceram aqueles amigos, não sabemos como foi a tristeza que sentiram, mas podemos imaginar…
Cada um de nós já se despediu de alguém definitivamente. A tristeza que Jesus antevê encontra no português uma palavra que não se repete em tantos outros idiomas: saudade. Falasse Jesus português, talvez tivesse usado essa palavra. “Porque eu disse isso, o coração de vocês ficou cheio de saudade”. Há saudade amena e saudade profunda, como um buraco por dentro. Esta é a saudade de tempos idos, que não voltam, e de pessoas que se foram para não retornar. É dessa saudade que fala Jesus. Olhando para a saudade que sentimos em relação às pessoas que mais amamos na vida, podemos chegar ao conteúdo da tristeza que Jesus prevê em relação aos seus amigos.
Na oração deste dia, tragamos à conversa com Deus nossas saudades. Comecemos falando da saudade que sentimos das pessoas que mais amamos. Falemos da saudade daquilo que já vivemos e não volta. E então perceberemos que, embora não tenhamos vivido com Jesus como viveram aqueles amigos para quem ele falava, também pode haver por dentro de nós saudade d’Eles, da Trindade. Quem se encontra com essas Pessoas, uma hora, sente saudades. Porque a vida é sempre vicissitude que afasta e aproxima, faz encontrar e desencontrar. Na oração, perguntemo-nos: que momento eu vivo com Eles hoje? Estou com saudades? Sinto-me próximo ou longe? Falemos dessa saudade.
Jesus continua a conversa dizendo que enviaria o Auxiliador. Algumas traduções trazem a palavra “Paráclito”, que significa “aquele que conforta, que consola, que reanima, que encoraja, que revive”. O Paráclito, o Auxiliador… o Filho fala do Espírito. Por que voltaria para o Pai e enviaria o Espírito?
Jesus é precursor do caminho que somos todos chamados a trilhar: a volta para o Lar. Ele vai primeiro, revelando que os filhos voltam sempre para o Pai. E, para auxiliar aqueles seus amigos, que estavam acostumados a segui-lo pelas trilhas da Galileia e da Judeia, e também em nosso auxílio, envia o Espírito.
Depois de termos falado com Deus da saudade que sentimos das pessoas e da saudade que temos d’Ele, peçamos que envie seu Espírito. Assim se mata a saudade enquanto estamos a caminho da Morada para onde voltam os filhos. Percebamos que, mesmo antes de pedirmos, vários dons do Auxiliador já estão distribuídos em nossa vida: o amor, a alegria, a paz, a fidelidade, a bondade… (Gálatas 5, 22-23). Deus está distribuído em nossa vida. E nossa própria vida pode ser, porque cheia d’Ele, um lugar onde outros matam a saudade que sentem…
Para rezar o tema da saudade que às vezes sentimos de Deus, quem gosta de poesia pode ler este poema, da Adélia Prado, publicado no livro “O coração disparado”, que fala dessa espécie de saudade:
Órfã na janela
Estou com saudade de Deus,
uma saudade tão funda que me seca.
Estou como palha e nada me conforta.
O amor hoje está tão pobre, tem gripe,
meu hálito não está para salões.
Fico em casa esperando Deus,
cavacando a unha, fungando meu nariz choroso,
querendo um pôster dele no meu quarto,
gostando igual antigamente
da palavra crepúsculo.
Que o mundo é desterro eu toda vida soube.
Quando o sol vai-se embora é pra casa de Deus que vai,
pra casa onde está meu pai.
No fim da oração, olhemos com alegria para a saudade que porventura sintamos de Deus, pois saudade é sentimento tão humano… só sente quem amou muito e esteve muito próximo do(a) amado(a)… saudade é tristeza que vem da lonjura, misturada à esperança do encontro.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte