O que será que ele vai ser? (Lucas 1,57-66)
24 de junho de 2016XIII Domingo do Tempo Comum – Ano C
26 de junho de 2016Leitura: Mateus 8, 5-17
Quando Jesus entrou na cidade de Cafarnaum, um oficial romano foi encontrar-se com ele e pediu que curasse o seu empregado. Ele disse:
— Senhor, o meu empregado está na minha casa, tão doente, que não pode nem se mexer na cama. Ele está sofrendo demais.
— Eu vou lá curá-lo! — disse Jesus.
O oficial romano respondeu:
— Não, senhor! Eu não mereço que o senhor entre na minha casa. Dê somente uma ordem, e o meu empregado ficará bom. Eu também estou debaixo da autoridade de oficiais superiores e tenho soldados que obedecem às minhas ordens. Digo para um: “Vá lá”, e ele vai. Digo para outro: “Venha cá”, e ele vem. E digo também para o meu empregado: “Faça isto”, e ele faz.
Quando Jesus ouviu isso, ficou muito admirado e disse aos que o seguiam:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo de Israel! E digo a vocês que muita gente vai chegar do Leste e do Oeste e se sentar à mesa no Reino do Céu com Abraão, Isaque e Jacó. Mas as pessoas que deviam estar no Reino serão jogadas fora, na escuridão. Ali vão chorar e ranger os dentes de desespero.
E Jesus disse ao oficial:
— Vá para casa, pois será feito como você crê.
E naquele momento o empregado do oficial romano ficou curado.
Jesus foi à casa de Pedro e viu a sogra dele de cama, com febre. Jesus tocou na mão dela, e a febre saiu dela. Então ela se levantou e começou a cuidar dele.
Depois do por do sol, o povo levou até Jesus muitas pessoas que estavam dominadas por demônios. E ele, apenas com uma palavra, expulsava os espíritos maus e curava todas as pessoas que estavam doentes. Jesus fez isso para cumprir o que o profeta Isaías tinha dito: “Ele levou as nossas doenças e carregou as nossas enfermidades.”
Oração:
O evangelho de hoje traz uma cena muito bonita para contemplarmos: o encontro de Jesus, judeu, com um oficial romano. De um lado, um andarilho que ficava famoso por aquelas terras, representante do povo que era vigiado e pagava impostos; do outro, um garantidor da dominação. No desenrolar da cena, vejo os passos da oração perfeita.
Em primeiro lugar, a HUMILDADE. Um romano, em apuros, pede ajuda – publicamente – a um judeu. Lucas nos conta que o servo romano até respeitava os judeus daquela região (Lc 7, 4-5), mas mesmo assim me espanto com sua coragem. Vendo a dor do seu empregado, deixa de confiar em seus próprios recursos, corre o risco de ser visto como fraco, diz não à autossuficiência… vai a um judeu e pede.
Se quisermos conversar com Deus, teremos de dar esse primeiro passo cada dia da nossa vida. Teremos de imitar a humildade do romano. Teremos de descalçar as sandálias (Ex 3, 5) e encarar nossa natureza, que nos conta de nossa falibilidade, impotência, fraqueza, pequenez. A vida é às vezes uma luta constante para disfarçar essa realidade, mas quem quiser falar com Deus terá de ter disposição para a verdade, chamemos isso de coragem ou de humildade, assim como o romano do evangelho.
Em segundo lugar, a CONFIANÇA. Quem deu o passo da humildade está preparado para o passo da confiança. Que fez o romano? Seu servo sofria, corria o risco de morrer. Ele deixa o servo em casa e caminha em direção à região onde tinha ouvido dizer que Jesus estava. E se o servo morresse enquanto ele ia? E se não chegasse a Jesus a tempo? E se Jesus fosse uma fraude? Quantos disseram a ele que não valia a pena buscar ajuda? “Ajuda de um judeu?” O romano seria lembrado para sempre por ter abandonado seu servo para buscar a ajuda de um homem de reputação questionável. Ele, apesar de tudo isso, vai.
E nós, como exercemos nossa confiança? Falo da fé e me arrisco apenas até limite mundanamente aceitável? Arrisco-me em direção a um futuro que não toco e a realidades que não posso ver (Hb 11, 1)? Ou caminho apenas até onde a terra sob os pés é firme e em trilhas cujas curvas posso prever?
Em terceiro lugar, a SINCERIDADE. O romano se abre. Conta do seu constrangimento caso fosse visitado e – o mais bonito – conversa com Jesus segundo sua lógica, segundo seus pressupostos, segundo sua forma de ver o mundo. “Eu, que sou oficial romano, dou ordens e elas se cumprem. Se você simplesmente disser para que se faça assim, assim se fará”. Quanta sinceridade e simplicidade para conversar com Jesus. Tão aberto ao diálogo de verdade que até Jesus se espanta com a fé! “Nunca vi tanta fé!”
E minha oração, como é? Ensaio de antemão as conversas que terei com Deus, a fim de esconder o que não deve ser dito a Ele e realçar o que Lhe deve agradar? Ou sou como o romano, sincero no que digo e franco na exposição de minhas preocupações? Consigo falar para Ele sobre as minhas formas de ver a vida, meus medos e dissabores?
A imagem desse encontro venha sempre nos socorrer e nos ensinar o caminho da conversa íntima com o Pai, o Filho e o Espírito!
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte