O fermento dos fariseus (Lc 12,1-7)
19 de outubro de 2018A verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem. Lc 12,13-21
22 de outubro de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, vem e toca meus sentidos para receber a Boa-Nova.
Espírito Santo, vem e faze com que a força da Palavra renove minha vida.
Espírito Santo, vem e sopra para que junto a Jesus Vivo, eu possa encarnar a Palavra em meus gestos, juntamente com minha comunidade.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 10.35-45
O pedido de Tiago e João
Mateus 20.20-28
35Depois Tiago e João, filhos de Zebedeu, chegaram perto de Jesus e disseram:
— Mestre, queremos lhe pedir um favor.
36 — O que vocês querem que eu faça para vocês? — perguntou Jesus.
37Eles responderam:
— Quando o senhor sentar-se no trono do seu Reino glorioso, deixe que um de nós se sente à sua direita, e o outro, à sua esquerda.
38Jesus respondeu:
— Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber e podem ser batizados como eu vou ser batizado?
39Eles disseram:
— Podemos.
Então Jesus disse:
— De fato, vocês beberão o cálice que eu vou beber e receberão o batismo com que vou ser batizado. 40Mas eu não tenho o direito de escolher quem vai sentar à minha direita e à minha esquerda. Pois foi Deus quem preparou esses lugares e ele os dará a quem quiser.
41Quando os outros dez discípulos ouviram isso, começaram a ficar zangados com Tiago e João. 42Então Jesus chamou todos para perto de si e disse:
— Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles e mandam neles. 43Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, 44e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. 45Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. O que João e Tiago pedem a Jesus?
2. O que Jesus lhes responde e que condição lhes impõe? Eles estão dispostos a cumpri-la?
3. No final, Jesus concede-lhes o que pedem?
4. Como reagem os outros dez discípulos quando ficam sabendo?
5. O que Jesus, então, lhes ensina a respeito do exercício do poder?
6. Como vive Jesus o poder?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
No evangelho de hoje podemos identificar duas partes: a) 10.35-40, que contém o diálogo de Jesus com Tiago e João; e b) 10.41-45, que trata do ensinamento de Jesus a seus doze discípulos.
Como nas ocasiões anteriores, também depois do terceiro anúncio da paixão por parte de Jesus (10.33-34), onde lhes fala mui claramente das humilhações e do maltrato que vai padecer, segue-se imediatamente uma “desorientação” por parte dos discípulos. Neste caso, trata-se de dois deles, irmãos entre si, Tiago e João, que se aproximam de Jesus para fazer-lhe um pedido pessoal: “Quando o senhor sentar-se no trono do seu Reino glorioso, deixe que um de nós se sente à sua direita, e o outro, à sua esquerda”.
O que Tiago e João ambicionam são os lugares de honra e de poder ao lado de Jesus. Vê-se que imaginam um destino de glória para Jesus, embora ele tenha acabado de anunciar-lhes o caminho da humilhação e do desprezo.
A resposta de Jesus a este ambicioso pedido hoje nos soaria assim: “Vocês não têm ideia do que estão pedindo”. Ao que parece, a ambição de ter parte na glória de Jesus cegou-os para o caminho que conduz até lá, e que outro não é senão do da paixão. Isto é o que Jesus lhes diz ao falar de beber o cálice que ele beberá e de receber o batismo que ele receberá.
A expressão “beber o cálice” é uma imagem do destino ou sorte, boa ou má, que lhes tocará. De modo particular, fala-se do cálice drogado que se dava ao condenado à morte antes da execução. O tema do cálice
reaparece em Marcos na cena do Getsêmani, onde claramente simboliza a próxima paixão e morte de Jesus, apresentadas como vontade do Pai para a salvação dos homens (cf. Mc 14.36). Quanto ao batizar-se, significa submergir-se, e faria referência ao ver-se submergido, coberto ou saturado de desgraças, como quem está em meio a águas profundas. Em síntese, tanto o cálice que Jesus e seus discípulos devem beber quanto o batismo com que devem ser batizados são uma clara referência à paixão. Portanto, a resposta de Jesus é um convite a partilhar seu destino e a seguir um caminho cuja direção vai em sentido totalmente contrário às ambições ou aspirações de Tiago e de João. Eles pediram os lugares de honra; Jesus oferece-lhes o caminho da cruz, da humilhação, que é seu próprio caminho, tal como lhes anunciou.
E eles aceitam: “Podemos”. Possivelmente, e tal como o demonstra sua conduta durante a paixão de Jesus, tampouco aqui não fazem muita ideia do que estão a aceitar.
Jesus encerra o diálogo assegurando-lhes que terão parte em sua paixão, que terão de beber o cálice e ser batizados como ele, mas lhes nega o direito aos lugares de honra, porquanto estão reservados para aqueles a quem Deus os predispõe.
A segunda parte do evangelho de hoje (10.41-45) começa com a descrição da reação dos outros dez apóstolos diante da “ultrapassagem” de Tiago e João: encheram-se de indignação, de ressentimento. Ao que parece, a ambição dos lugares privilegiados por parte dos irmãos gerou mal-estar e divisão entre os discípulos. Diante deste conflito dentro do grupo, Jesus interpõe-se com um ensinamento sobre o sentido do poder e da autoridade da Igreja.
Em primeiro lugar, o ensinamento de Jesus começa por descrever como se exerce a autoridade no mundo, entre os poderosos e os que governam: impondo sua vontade, abusando do poder. Em segundo lugar, Jesus deixa claro que o exercício do poder e da autoridade na comunidade cristão não pode nem inspirar-se nem parecer-se com o que vigora no “mundo”: “Mas entre vocês não pode ser assim”. Ao contrário, em sua proposta, Jesus coloca em paralelo o desejo de ser grande com o desejo de ser o primeiro, ao que contrapõe as exigências de tornar-se servo e escravo de todos: “Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de todos. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente” (Mc 10.43-45).
Nesta última afirmação Jesus revela qual é a orientação fundamental de sua vida e como ele mesmo exerce a autoridade e o poder que Deus lhe conferiu.
O que o Senhor me diz no texto?
O evangelho de hoje convida-nos a meditar sobre uma questão difícil de assumir, difícil de transformar e viver bem, como é a do poder. Convém começar deixando claro que “por si mesmo, o poder não é nem bom nem mau; só adquire sentido mediante a decisão de quem dele se utiliza. Ainda mais, por si mesmo, não é nem construtivo nem destrutivo, mas apenas uma possibilidade para qualquer coisa, pois é regido essencialmente pela liberdade […]. O poder significa, por conseguinte, tanto a possibilidade de realizar coisas boas e positivas quanto o perigo de produzir efeitos maus e destruidores. Este perigo cresce ao aumentar o poder” (R. Guardini).
Contudo, concordes quanto a este ponto, a Bíblia ensina-nos que Deus confiou ao homem uma parte de seu poder para continuar sua obra na criação. E também nos ensina que o homem quis ter o poder absoluto, sem dependência de Deus, e terminou pecando e transtornando a ordem da criação.
Esta é a condição do homem, ferido pelo pecado, que exerce seu poder no mundo da maneira como o próprio Jesus descreve no evangelho de hoje: como submissão, opressão, domínio.
Esta é nossa própria condição ou situação diante do poder. Desejamo-lo porque é essencial à nossa natureza o querer ser mais para poder fazer mais. Neste sentido, Jesus convida-nos, como fez a seus discípulos no evangelho de hoje, a aceitar nosso desejo de querer ser grande, de querer ser os primeiros. No entanto, imediatamente nos adverte do perigo iminente de cair nas redes da soberba que nos faz desejar o poder absoluto, sem nenhum limite e desvinculado de Deus, o qual termina, cedo ou tarde, em tirania sobre os demais. Por isso, ele nos ensina o remédio para isto, pois o antídoto contra a soberba do poder é a humildade que se expressa no serviço.
Portanto, à tentação do poder como busca de privilégios e de domínio ou posse sobre os demais, Jesus apresenta sua opção de vida como uma renúncia a este modo de poder, não buscando ser servido mas servir; não buscando dominar ou possuir os demais, mas entregando sua vida por eles; não buscando a si mesmos, mas o bem dos outros.
A este respeito, o Papa Francisco, em sua homilia do dia 18 de outubro de 2015, disse: “À vista de tantos que lutam por obter o poder e o sucesso, por dar nas vistas, frente a tantos que querem fazer valer os seus méritos, as suas realizações, os discípulos são chamados a fazer o contrário. Por isso adverte-os: ‘Sabeis como aqueles que são considerados governantes das nações fazem sentir a sua autoridade sobre elas, e como os grandes exercem o seu poder. Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo’ (10.42-43). Com estas palavras, Jesus indica o serviço como estilo da autoridade na comunidade cristã. Quem serve os outros e não goza efetivamente de prestígio, exerce a verdadeira autoridade na Igreja. Jesus convida-nos a mudar a nossa mentalidade e a passar da ambição do poder à alegria de se ocultar e servir; a desarraigar o instinto de domínio sobre os outros e exercer a virtude da humildade”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Que lugar ocupa a ambição do poder em minha vida?
2. Reconheço e aceito que tenho em mim o desejo de ser mais, de poder?
3. Consigo purificar e harmonizar este desejo com o que Jesus me pede?
4. Estou consciente da gravidade que tem qualquer tipo de abuso de poder?
5. Já experimentei alguma vez a alegria de servir anonimamente aos demais?
6. Consigo delegar ou partilhar o poder que tenho com outros, para que eles também cresçam?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, porque me convidas a seguir-te.
Obrigado porque partilhais comigo até o mais profundo: tua paixão.
Ilumina-me para que sempre siga teus passos.
Livra-me de toda ambição, de toda busca de poder,
por mais insignificante que pareça.
Afasta-me dos primeiros lugares, das acomodações.
Mesmo que me custe, que eu saiba, como tu, dar a vida.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, que eu procure servir-te sem ambições, sem poder”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, prestarei um serviço oculto a alguém que necessite e rezarei por essa pessoa em segredo.
“Quaisquer que sejam as misérias ou sofrimentos que aflijam o homem, não será através da violência, dos jogos de poder, dos sistemas políticos, que a humanidade encontrará seu caminho para um futuro melhor, mas somente mediante a verdade sobre o homem…”.
Santo Oscar Romero