Não conheceis quem me enviou (Jo 7,1-2.10.25-30)
4 de abril de 2014“Ó Senhor Deus, eu te chamei quando estava em profundo desespero. Escuta o meu grito, ó Senhor!”
6 de abril de 2014“Ao ouvirem as palavras de Jesus, algumas pessoas da multidão diziam: “Este é, verdadeiramente, o Profeta”. Outros diziam: “Ele é o Messias”. Mas alguns objetavam: “Porventura o Messias virá da Galileia? Não diz a Escritura que o Messias será da descendência de Davi e virá de Belém, povoado de onde era Davi?”
Assim, houve divisão no meio do povo por causa de Jesus. Alguns queriam prendê-lo, mas ninguém pôs as mãos nele. Então, os guardas do Templo voltaram para os sumos sacerdotes e os fariseus, e estes lhes perguntaram: “Por que não o trouxestes?”
Os guardas responderam: “Ninguém jamais falou como este homem”. Então os fariseus disseram-lhes: “Também vós vos deixastes enganar? Por acaso algum dos chefes ou dos fariseus acreditou nele? Mas esta gente que não conhece a Lei, é maldita!”
Nicodemos, porém, um dos fariseus, aquele que se tinha encontrado com Jesus anteriormente, disse: “Será que a nossa Lei julga alguém, antes de o ouvir e saber o que ele fez?” Eles responderam: “Também tu és galileu, porventura? Vai estudar e verás que da Galileia não surge profeta”. E cada um voltou para sua casa.”
Ao ler o texto me ocorreu que no início do evangelho, João nos apresenta Jesus como o Verbo de Deus que, se fazendo carne, habitou entre nós (Jo 1,14).
Fico, por algum tempo, contemplando Jesus ao falar às multidões, sua forma de se expressar com palavras e gestos.
Verbo é a palavra que determina a ação. Nada mais apropriado para compreender as atitudes das pessoas que ouvem Jesus. Ninguém fica imune às Suas palavras. Suas palavras penetram e agem no interior de cada um. As pessoas se posicionam a favor ou contra, outras ficam incomodadas e não conseguem definir uma posição e muitas outras se sentem ameaçadas.
Jesus está vivendo um momento de grande tensão. Ao final do capítulo 6, João narra que muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com Ele, pois acharam Sua palavra muito dura e se perguntavam: “Quem pode escutá-la?” (Jo 6,60-66). Se o capítulo 6 narra diferentes posições dos mais íntimos, o capítulo 7 nos mostra posições dos menos íntimos.
Se entre os mais íntimos escutamos a posição de Pedro que diz: “Senhor, a quem iremos? Tens palavras de vida eterna e nós cremos e reconhecemos que és o Santo de Deus.” (Jo 6,68-69), entre os menos íntimos, justamente dos guardas que deveriam prendê-lo, escutamos: “Ninguém jamais falou como este homem”.
Hoje nós devemos tomar uma posição. O tempo quaresmal é propício para nos reposicionarmos em relação a Jesus e a respondermos às perguntas: No mais íntimo de mim, o que Suas palavras me dizem? Quem é Ele para mim?
Em nossa oração, vamos colocar diante de Deus, com sinceridade, as dificuldades que temos para assumir nossa posição. Deus as acolherá e nos ajudará a libertarmos delas.
Vamos identificar quando somos mais parecidos com aqueles que queriam eliminar Jesus. Momentos em que preferimos eliminá-lo da nossa vida, pois Sua palavra nos ameaça. Momentos que a decisão por segui-lo pode resultar em perder algum poder ou algum privilégio e decidimos ignorá-lo. As vezes em que utilizamos interpretações duvidosas como subterfúgios, para aquietar nossa consciência e convivermos com posições contrárias às verdades evangélicas.
Vamos, também identificar quando agimos de modo parecido com Nicodemos e hesitamos em defender a Palavra na qual acreditamos. As vezes em que sentimos vergonha de defender nossa posição porque o meio em que estamos nos deixa constrangidos. Os momentos em que os outros nos falam de forma preconceituosa e nos deixamos intimidar.
Como é muito comum nos relatos dos evangelhos, de onde menos se espera vêm as maiores lições. Os guardas que foram enviados para prender Jesus, justamente eles, que são doutrinados para obedecerem cegamente às ordens superiores, após ouvirem o que Jesus falava, tomaram a decisão de não prendê-Lo e a defenderam com coragem, não lhes importando as possíveis represálias.
Peçamos ao Espírito Santo a graça de um coração aberto e puro, para ouvirmos a palavra de Jesus e experimentar sua força libertadora, cuja ação fez surgir nos guardas a coragem de não executar a prisão ordenada e, ainda, expressar a razão da indisciplina de forma tão clara: “Ninguém jamais falou como este homem”.
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG