Segundo Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia – Ano B
12 de abril de 2015Coisas do céu (Jo 3,7b-15)
14 de abril de 2015Havia um chefe judaico, membro do grupo dos fariseus, chamado Nicodemos, que foi ter com Jesus, de noite, e lhe disse: “Rabi, sabemos que vieste como mestre da parte de Deus. De fato, ninguém pode realizar os sinais que tu fazes, a não ser que Deus esteja com ele”.
Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce do alto, não pode ver o Reino de Deus”. Nicodemos disse: “Como é que alguém pode nascer, se já é velho? Poderá entrar outra vez no ventre de sua mãe?”
Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, te digo, se alguém não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus. Quem nasce da carne é carne; quem nasce do Espírito é espírito. Não te admires por eu haver dito: Vós deveis nascer do alto. O vento sopra onde quer e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”.
“Quem não nasce da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”.
Eu sou muito ligado à água, pratico natação e, para mim, é uma verdadeira alegria estar na água. Então, quando rezo esta passagem do evangelho, sou invadido por muitas sensações de enorme bem estar.
A fluidez da água descansa meus olhos, seja olhando o vaivém das ondas do mar, seja fixando o olhar na correnteza de um rio ou me deliciando com o visual e o som da queda das inúmeras cachoeiras de minha querida Minas Gerais.
E o Espírito? Pneuma! O vento que sopra e faz balançar a copa das árvores num bailar mágico. Às vezes, fico muito tempo olhando a mata e me delicio com o movimento das folhas.
Nicodemos era um chefe judaico. Devia estar acostumado com as obrigações rígidas de seguimento às leis e às diversas normas impostas pela doutrina religiosa daquela época. Neste encontro com Jesus, meio às escondidas, à noite, querendo se proteger para evitar explicações a seus pares, é surpreendido com a proposta do Mestre.
E nós, hoje, também precisamos nos dar conta de que a proposta de Jesus a Nicodemos é muito atual e nos é apresentada continuamente.
Somos, comumente, muito rígidos. Queremos logo separar o joio do trigo, dizer o que está certo e o que está errado, condenar rapidamente o que não está conforme nossas convicções e, frequentemente, temos dificuldade para mudar nosso curso e sofremos muito ao fazê-lo.
A água e o vento são fluidos, mudam seus cursos com frequência e se adaptam às realidades que se apresentam. Não obstante, mantêm-se fiéis às suas características genuínas, àquilo para o qual foram constituídos.
Penso que Jesus quer nos apresentar o modo com que devemos perceber a vivência do amor, a dinâmica do reino de Deus e como fazer para entrar nele. O amor necessita que sejamos leves e fluidos. Exige de nós, sempre, a disposição de nos reinventarmos, de sairmos de nossos esquemas de segurança, de acomodação e de nos colocarmos em movimento, porém sem nunca perdermos o que é genuíno do amor: fazermo-nos o menor de todos e a serviço da comunidade.
Nesse movimento, provocamos nos outros sensações que se assemelham às sensações que temos com o vaivém das ondas do mar, a correnteza de um rio, a queda de uma cachoeira ou o balançar das folhas na copa das árvores: uma experiência de profunda paz. O sinal do reino de Deus se faz presente já, neste mundo.
Gostaria de terminar esta oração com o pedido de perdão do Ato Penitencial que rezei na missa ontem: “Perdão, Jesus, quando vossa luz ofuscamos, fazendo de vossa doutrina apenas lei”. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte