“Quem removerá a pedra para nós?” (Mc 16, 1-7)
31 de março de 2018Onde encontrar Jesus?
2 de abril de 2018
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e enche-me com a força da Ressurreição.
Vem, Espírito Santo, e renova-me para crer no Ressuscitado.
Vem, Espírito Santo, neste caminho pascal,
para que junto a outros, possa ser testemunha da Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 20.1-9
O túmulo vazio
Mateus 28.1-8; Marcos 16.1-8; Lucas 24.1-12
1Domingo bem cedo, quando ainda estava escuro, Maria Madalena foi até o túmulo e viu que a pedra que tapava a entrada tinha sido tirada. 2Então foi correndo até o lugar onde estavam Simão Pedro e outro discípulo, aquele que Jesus amava, e disse:
— Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o puseram!
3Então Pedro e o outro discípulo foram até o túmulo. 4Os dois saíram correndo juntos, mas o outro correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro. 5Ele se abaixou para olhar lá dentro e viu os lençóis de linho; porém não entrou no túmulo. 6Mas Pedro, que chegou logo depois, entrou. Ele também viu os lençóis colocados ali 7e a faixa que tinham posto em volta da cabeça de Jesus. A faixa não estava junto com os lençóis, mas estava enrolada ali ao lado. 8Aí o outro discípulo, que havia chegado primeiro, também entrou no túmulo. Ele viu e creu. 9(Eles ainda não tinham entendido as Escrituras Sagradas, que dizem que era preciso que Jesus ressuscitasse.)
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Em que dia da semana nos encontramos? O que aconteceu nos dias anteriores?
- · Quem vai ao sepulcro de Jesus e o que encontra ali? A quem narra o que encontrou?
- · Que “anúncio” Maria Madalena faz aos apóstolos?
- · Quem mais vai ao sepulcro, e o que vê cada um deles?
- · Qual dos três que vão ao sepulcro termina crendo e por quê?
ü Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini[1]
Este primeiro relato da ressurreição que nos traz o evangelho de João é um claro convite à fé. O texto apresenta-nos fundamentalmente um sepulcro vazio e a fé do discípulo que Jesus amava. Contudo, há também elementos muito significativos para sugerir ao leitor que o que foi narrado é um acontecimento que se deu no primeiro dia da semana, nosso domingo, e do qual participaram três discípulos muito importantes para Jesus e para a primeira comunidade cristã.
Maria Madalena, a enamorada que vai por primeiro ao sepulcro, bem cedo, e descobre que a pedra havia sido tirada e que o sepulcro está vazio. Em seu desconcerto, ela interpreta este fato como um roubo, e tal é seu “anúncio” aos apóstolos: “Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o puseram!” (Jo 20.2).
O discípulo amado é o primeiro a chegar ao sepulcro: abaixou-se, viu os lençóis de linho, mas não entrou.
Pedro chega depois e vê os lençóis, tal como o discípulo amado, mas descobre também que a faixa que tinham posto em volta da cabeça de Jesus [sudário] está enrolada à parte. Isto indica que se tratou de uma ação deliberada por parte de alguém, o que chama a atenção de Pedro, pois quando se rouba um cadáver, não se deixa tal indício. E justamente este “sinal” faz Pedro “ver” que ali aconteceu algo estranho.
Finalmente, o discípulo amado entra no sepulcro: viu e começou a crer. Trata-se de uma fé inicial, uma vez que o discípulo, neste primeiro momento de seu caminho de fé pascal, toma consciência de que ali aconteceu algo extraordinário, uma misteriosa ação de Deus; no entanto, ainda não compreende que o Senhor ressuscitou. O final do relato confirma esta ideia: “(Eles ainda não tinham entendido as Escrituras Sagradas, que dizem que era preciso que Jesus ressuscitasse)” (20.9).
Este relato representa a Igreja que vai em busca dos sinais do Ressuscitado para acreditar nele. De fato: “A fé, tal como João no-la descreve, não alcança seu objetivo senão por meio de testemunho ou de sinais; por isso, ela realiza, em sua estrutura essencial, duas condições: capacidade de interpretar corretamente os sinais como tais, e capacidade de ir para além dos sinais” (Card. Martini). Neste relato, vemos também como a busca dos sinais para crer no Ressuscitado é diferente conforme os temperamentos ou mentalidades: de um lado, está o afeto de Maria Madalena; do outro, a intuição do discípulo amado e, por fim, a pesada lentidão de Pedro. Todos, porém, se estão verdadeiramente na Igreja, têm em comum o anelo da presença de Jesus; e todos se ajudam reciprocamente para buscar juntos os sinais desta presença e comunicá-los uns aos outros.
Podemos ver Pedro como representante do “ministério eclesial”, e o discípulo amado, do “amor eclesial”. O amor eclesial corre mais rápido e chega primeiro, mas deixa que seja o ministério eclesial a dar o parecer sobre a situação (H. U. von Balthasar).
O que o Senhor me diz no texto?
Com um olhar atento, descobrimos que no mundo bem e mal, graça e pecado, alegria e tristeza, egoísmo e amor, consolação e desolação, vida e morte estão em luta permanente. A Quaresma foi justamente um convite a tomar consciência desta luta e a tomar partido nela; a comprometer-se no combate pelo bem, pela graça, pela vida em Deus. Entretanto, o mais importante nesta luta ou combate pelo bem, pela verdade, pela justiça, pela graça e pela vida em Deus é que já houve um vencedor: Jesus Cristo Ressuscitado!
A essência do que os cristãos cremos pode proclamar-se dizendo que Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa salvação. É o mistério pascal, onde Cristo surge vitorioso sobre o mal, o pecado e a morte.
Na Sexta-Feira Santa ressoava com força em nossos corações a expressão “Cristo morreu por nossos pecados”, quando a fé nos levava a reconhecer que Jesus sofre e morre por nós, e que este “por” abarca os dois sentidos: por causa de nossos pecados e em nosso favor, em nosso lugar.
Se ficássemos apenas nisto, como aconteceu com os discípulos de Emaús, seria melhor que “apagássemos” e voltássemos ao nosso povoado. Porque caso ficássemos apenas com a morte de Cristo na cruz, teríamos de aceitar o triunfo do mal, a vitória do pecado, o reinado da morte.
“Porém Deus ressuscitou Jesus no terceiro dia” – rezam as primeiras confissões de fé dos apóstolos que nos traz o livro dos Atos (At 10.40). Deus fez com que Jesus vencesse a morte, derrotasse o mal e pusesse fim ao pecado e à sua condenação. A ressurreição é, portanto, a vitória de Jesus, seu triunfo final… e também o nosso. Este é o mistério que se deve crer, que se deve contemplar, que se deve viver. Precisamos de uma fé enamorada, como a de Maria Madalena – aquela que, ao amanhecer, estava junto à tumba – para descobrir esta nova presença do Senhor Ressuscitado em meio a nós, em nossa vida. Já não podemos buscar Jesus dentre os mortos, pois está vivo, ressuscitou.
Aqueles que já o encontramos em alguma volta da vida, temos a certeza de que está vivo, que caminha conosco e que de vários modos busca comunicar-se conosco. É algo muito estranho o que nos acontece com a fé em Cristo Ressuscitado. Vista de fora, parece uma loucura; vivida a partir de dentro, é algo maravilhoso, é uma certeza que não podemos explicar totalmente, mas que enche de alegria o coração, de luz a inteligência e de força a vontade.
Do seu lado, o Papa Francisco diz-nos em EG nº 3: “(…) Ele permite-nos levantar a cabeça e recomeçar, com uma ternura que nunca nos defrauda e sempre nos pode restituir a alegria. Não fujamos da ressurreição de Jesus; nunca nos demos por mortos, suceda o que suceder. Que nada possa mais do que a sua vida que nos impele para diante!”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Creio realmente que Jesus ressuscitou, está vivo e, por isso, presente em minha vida?
- · Creio e confesso com minha vida que Cristo venceu o mal, o pecado e a morte?
- · Que sinais da presença de Jesus ressuscitado descubro em minha vida?
- · Peço ao Senhor o dom da fé para poder ir além dos sinais?
- · Escuto aqueles que me indicam os sinais da presença de Jesus?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Jesus, eu também vou ao sepulcro.
Com em tantas madrugadas de minha vida, hoje também te busco.
Não estás ali, e a esperança se acende.
Minha incerteza e minha dúvida ficam para trás.
A morte foi vencida.
Que tua Vida Nova me atravesse.
Corro, Senhor.
Já não posso disfarçá-lo:
Estás vivo! Creio, Senhor.
Esta é a Boa Nova:
Ressuscita para mim, para todos!
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, dá-me o dom da fé para acreditar na força de tua Ressurreição que me dá Vida Nova”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, celebro a ressurreição fazendo um gesto alegre e íntimo com alguém que há muito não vejo.
“A fé dos cristãos é a ressurreição de Cristo”.
Santo Agostinho
[1] Pe. Damián Nannini: sacerdote da Arquidiocese do Rosário (Argentina); Licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma; Diretor da Escola Bíblia do CEBITEPAL – CELAM.