Ver-crer (João 20,2-8)
27 de dezembro de 2016Luz e esperança (Lucas 2,22-35)
29 de dezembro de 2016“Depois que os visitantes foram embora, um anjo do Senhor apareceu num sonho a José e disse:
— Levante-se, pegue a criança e a sua mãe e fuja para o Egito. Fiquem lá até eu avisar, pois Herodes está procurando a criança para matá-la.
Então José se levantou no meio da noite, pegou a criança e a sua mãe e fugiu para o Egito.E eles ficaram lá até a morte de Herodes. Isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito por meio do profeta: “Eu chamei o meu filho, que estava na terra do Egito.”
Quando Herodes viu que os visitantes do Oriente o haviam enganado, ficou com muita raiva e mandou matar, em Belém e nas suas vizinhanças, todos os meninos de menos de dois anos. Ele fez isso de acordo com a informação que havia recebido sobre o tempo em que a estrela havia aparecido. Assim se cumpriu o que o profeta Jeremias tinha dito:
“Ouviu-se um som em Ramá,
o som de um choro amargo.
Era Raquel chorando pelos seus filhos;
ela não quis ser consolada,
pois todos estavam mortos.””
Os Evangelhos da infância de Jesus são simbólicos e vêm mostrar como no Filho de Deus que nasceu de uma mulher se cumpriram as Escrituras – a Lei e os Profetas. Ele é o Messias esperado, descendente de Davi, e vivencia na própria pele, sinteticamente, a história do Povo de Israel.
Israel se exilou no Egito. Lá, vivenciou a matança dos meninos (hebreus), da qual Moisés foi salvo (seu nome significa “tirado das águas”). Tudo isso por medo de perder o poder por parte dos que o detinham. Jesus precisa ser levado por seus pais para o Egito, para fugir da tirania de Herodes. Vai a tempo porque José responde fiel e prontamente ao chamado. Ficam lá até a morte de Herodes. Realiza-se nele o que o profeta Oseias havia dito: “Do Egito chamei o meu filho” (Os 11,1). Por medo de perder o poder para o “rei” que havia nascido (mal sabia Herodes que o reinado de Jesus era de outra categoria), Herodes manda matar todas as crianças com menos de 2 anos.
A história se repete. A morte de inocentes pela vaidade, ambição e sede de poder de alguns tiranos se repete. Ao celebrar hoje os Santos Inocentes, vamos orar unindo-nos a eles, trazendo à memória os do nosso tempo, como o ambulante Luiz Carlos Ruas, morto brutalmente no metrô de São Paulo na noite do Natal; como tantos civis mortos nos combates da Síria ou no caminho como refugiados; como os que são presos injustamente; e tantos outros. Peçamos a graça de não nos acostumar com isso. Peçamos o dom de nos compadecer e sentir a dor com estas famílias.
Mas peçamos também o dom da fé e da esperança. “Sangue de mártir é semente de novos cristãos.” Esta frase não vem justificar brutalidade alguma, nem suavizar levando a um conformismo tolo como se Deus quisesse essas situações, que são fruto da violência, não do querer de Deus. Mas, com um olhar de fé, vem mostrar como que, de fato, “nem um fio da nossa cabeça cai sem que Ele o perceba”. O Senhor assume nosso pecado, porque o assumiu em sua própria carne. Jesus o sofreu dando um “sim” à vida humana e um “sim” ao Deus da vida. Transformou em si mesmo o derramamento de sangue em oferenda, assim como o Luiz transformou, ao salvar a vida da outra pessoa perseguida, assumindo o risco.
A coragem, a entrega e o amor nos dão força para continuar lutando, para ser cristãos de verdade, não coniventes com a injustiça, mas capazes de denunciá-la, de se definir nas situações que a vida nos apresenta. A isto somos chamados. Não deixar que o sangue inocente se perca, mas ouvir o grito, o “choro amargo de Raquel pelos seus filhos”, o choro amargo das Anas, Marias, Luízas, o grito da Terra e dizer com Jesus: “Eis-me aqui! Eu vim para fazer a tua vontade” “Para que todos tenham vida, e a tenham em abundância.”
Tania Pulier, comunicadora social, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei