Ó Senhor Deus, tu me examinas e me conheces!
24 de junho de 2018Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei também a eles.
26 de junho de 2018Evangelho – Mt 7,1-5
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1’Não julgueis, e não sereis julgados. 2Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes. 3Por que observas o cisco no olho do teu irmão, e não prestas atenção à trave que está no teu próprio olho? 4Ou, como podes dizer ao teu irmão: ‘deixa-me tirar o cisco do teu olho’, quando tu mesmo tens uma trave no teu? 5Hipócrita, tira primeiro a trave do teu próprio olho, e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão.
No texto de hoje, vemos uma postura mais séria de Jesus e, a princípio, estranhamos, pois não estamos acostumados a ver pessoas que são extremamente doces e, ao mesmo tempo, conseguem ser realmente francas quando necessário. Assim se mostra o Mestre. Impossível querer que Ele sempre aprove nossos atos e que seja incapaz de se exaltar quando preciso. O tom de Jesus no texto de hoje se faz necessário, pois o que ele pede que percebamos quanto ao nosso comportamento é realmente importante.
Em nosso dia a dia, assumimos um comportamento, por vezes, de fato, hipócrita ao cobrarmos do outro aquilo que nós não conseguimos fazer ou a querer que o outro evite ações que nós praticamos. A palavra “hipócrita” vem do grego “hypokrités”, que significava “ator”. Dessa forma, quando julgamos as ações do outro, sendo capazes de praticar as mesmas atitudes, estamos representando, estamos assumindo uma identidade que não corresponde ao que verdadeiramente somos. Uma vez que somos marcados pela imperfeição, Jesus nos alerta de que não deveríamos cobrar a perfeição do nosso próximo.
Ao julgarmos o outro, vemos nele, muitas vezes, os defeitos que somos incapazes de ver em nós mesmos. Se fizermos um exercício de analisar o que apontamos de erro nos outros, muito possivelmente encontraremos tal erro em nossas ações e, às vezes, até mais graves. Daí a trave da qual Jesus fala quanto à “trave”. Exigimos do outro o que não temos condições de oferecer.
Quando conseguimos nos colocar no lugar do outro, conseguimos parar de julgar, e o que é melhor: conseguimos aceitar e trabalhar nossos próprios erros. Não é nosso papel julgar e, muitas vezes, fazemos isso sem nem mesmo perceber, pois herdamos por cultura esse hábito e, cada vez que o pomos em prática, contribuímos para sua perpetuação. Talvez tenhamos herdado isso das eras mais remotas, quando a sociedade, em grande parte das vezes, era participante das punições dadas aos culpados pela “justiça” – como espectadores (como na crucificação) ou como agentes mesmo (no caso das mulheres apedrejadas, por exemplo).
Construímos o Estado de Direito, dentre outros motivos, para que houvesse igualdade entre as pessoas. Temos o poder judicial para, por meio de parâmetros claros, punir aqueles que se desviam do que combinamos previamente por meio de leis. Por outro lado, ainda temos o poder divino e a confiança de que somos acompanhados por uma Força Maior que tudo vê e a quem cabe direcionar-nos conforme nossas ações.
Supostas essas duas questões – o poder temporal e o espiritual – podemos nos livrar desse fardo de constante observação e opinião sobre os atos dos demais e, assim, ir rompendo esse hábito milenar, instituindo a compreensão como ponto de partida de nossa fala.
Nosso Deus de Amor, em sua ternura infinita, é capaz de receber em Seu coração todas as misérias da humanidade. Por conseguinte, pensemos: se Deus, que tem o poder de julgar, é capaz de se compadecer de nossas fraquezas e diante de nossos maiores erros, como nós poderíamos nos outorgar esse papel? Por qualquer prisma que analisemos a questão, não encontraremos em nós nenhum elemento que justifique a ação julgadora.
Pensando nisso, lembro-me de um fato acontecido há alguns anos. Um homem invadiu a casa de uma conhecida e destruiu a sala-de-estar nova dela e a agrediu com de modo que ela ficou internada no hospital e de licença por alguns dias. Pior: ela tinha acabado de se recuperar de uma cirurgia plástica. Todos nós, próximos a ela, ficamos indignados e fizemos os comentários mais absurdos. Porém, uma amiga nos chamou a atenção e nos contou que a atitude dela, quando os policiais chegaram, foi de pedir insistentemente que eles “não agredissem o rapaz, pois “ele não sabia o que estava fazendo.” Ela percebeu, mesmo em meio à violência, que o homem tinha problemas mentais e, por algum motivo (falta de medicação talvez, ou uso de drogas) não tinha ciência de suas ações. Ficamos todos mudos diante da capacidade de visão de nossa conhecida. Ela não julgou.
Peçamos a Jesus que nos dê serenidade diante das imperfeições do outro. (faça seu pedido específico, coloque na oração aquela pessoa cujos erros mais lhe incomodam).
Jesus, silencie nossas palavras quando abrirmos a boca para julgar, para falar mal do outro. Impeça-nos de alimentar o rancor, de propagar frases ditas de modo impensado. Dê-nos o dom de ver nossos próprios defeitos naquilo que cobramos do outro e, antes de cobrar, que aprendamos a melhorar o que somos e a tirar a trave de nossos olhos, a cuidar da ferida causa para que, assim, nossa visão seja guiada pelo Seu Amor infinito.
Ana Paula Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte