A verdadeira vida de uma pessoa não depende das coisas que ela tem. Lc 12,13-21
22 de outubro de 2018Jesus é o fogo novo, uma divisão que liberta!
25 de outubro de 2018Evangelho: Lucas 12,39-48
“Lembrem disto: se o dono da casa soubesse a que hora o ladrão viria, não o deixaria arrombar a sua casa. Vocês, também, fiquem alertas, porque o Filho do Homem vai chegar quando não estiverem esperando.
Então Pedro perguntou:
— Senhor, essa parábola é só para nós ou é para todos?
O Senhor respondeu:
— Quem é, então, o empregado fiel e inteligente? É aquele que o patrão encarrega de tomar conta da casa e de dar comida na hora certa aos outros empregados. Feliz aquele empregado que estiver fazendo isso quando o patrão chegar! Eu afirmo a vocês que, de fato, o patrão vai colocá-lo como encarregado de toda a sua propriedade. Mas imaginem o que acontecerá se aquele empregado pensar que o seu patrão está demorando muito para voltar. E imaginem que esse empregado comece a bater nos outros empregados e empregadas e a comer e a beber até ficar bêbado. Então o patrão voltará no dia em que o empregado menos espera e na hora que ele não sabe. Aí o patrão mandará cortar o empregado em pedaços e o condenará a ir para o lugar aonde os desobedientes vão.
— O empregado que sabe qual é a vontade do patrão, mas não se prepara e não faz o que ele quer, será castigado com muitas chicotadas. Mas o empregado que não sabe o que o patrão quer e faz alguma coisa que merece castigo, esse empregado será castigado com poucas chicotadas. Assim será pedido muito de quem recebe muito; e, daquele a quem muito é dado, muito mais será pedido”.
Reflexão:
Na oração, peçamos a graça de acolher a Palavra e dar o passo de hoje para vivê-la.
Este trecho do Evangelho de Lucas é tão duro que assusta a nossa sensibilidade atual, politicamente correta. No entanto, acho que Jesus quer nos pegar pelo susto mesmo, como uma necessária sacudida.
O primeiro ponto é exatamente que Deus é Deus, se manifesta como quiser e cabe a nós acolher a sua revelação. Com isso, não estou dizendo que há uma revelação a cada dia. A plenitude da revelação já nos foi dada no Filho. Como diz em Hb 1,2-3: “No período final em que estamos, falou a nós por meio do Filho. […] O Filho é a irradiação da sua glória e nele Deus se expressou tal como é em si mesmo”. Por isso, podemos nos aproximar com toda confiança do Pai, que é Amor, como o Cristo nos mostrou, amor até o extremo.
Então, por que tanta dureza? Isso já pode ser tema do nosso diálogo com o Senhor: “Jesus, por que fala desse jeito?”
Ocorrem-me dois pontos:
1) Exatamente testa a nossa confiança no amor do Pai, a nossa fé em Deus como ele é e se manifesta no Filho. Se qualquer dureza a abala, se qualquer apertão me afugenta, como está de fato a minha confiança? Será que Deus tem que provar que me ama? E mais: do jeito que eu quero, passando a mão na minha cabeça, me agradando? (pois, se vem uma exigência ou correção, já não confio mais que continua sendo amor)
2) Aí está o segundo ponto, tão ligado ao primeiro, e relacionado com o que falávamos antes de acolher a Deus como Ele se manifesta. Deus se revelou no Filho como amor. Mas eu sei tudo o que é o amor? É só o que eu penso sobre o amor que é amor de fato? Ou preciso me abrir e deixar que O Amor se mostre? Antigamente (e alguns até hoje), tínhamos falsas imagens de Deus, como um juiz punitivo, vingativo, raivoso, de quem se devia ter medo. Hoje, corremos mais o risco contrário: de virar um vovô tão bonzinho que não vê coisa alguma ou faz vista grossa a tudo. De qualquer forma, são pré-concepções de quem não se deixa de fato ser tocado – até atingido e ferido – pela Palavra.
Hoje, a Palavra, que é Jesus, no fere, quer nos atingir duramente. Até para Pedro e os demais discípulos isso foi difícil, ele quis achar que era apenas para os outros. Mas Jesus chama à responsabilidade: “será pedido muito de quem recebe muito; e, daquele a quem muito é dado, muito mais será pedido”.
Só de estar lendo esta reflexão agora já é sinal do muito que nos foi dado e continua sendo. Quantas pessoas têm a oportunidade de um relacionamento mais próximo com Deus? E o que faço com todos os dons e oportunidades que recebo? É hora da revisão! Pois muitas vezes andamos “bêbados” por aí, inconscientes da nossa missão no mundo, sobretudo quando os campos que clamam por nosso testemunho são os de fora da Igreja – a vida no trabalho, escola, com amigos, na família, na atuação política e social. Nestes campos, continuamos defendendo os interesses do Reino, de uma vida em abundância para todos, ou tomamos partido da violência e dos privilégios de elite?
A linguagem que Jesus usa para falar das consequências de não ser responsáveis com a missão – de não responder com habilidade ao Rosto do irmão –, é simbólica, não literal. No entanto, isso não tira a força de suas Palavras. Não é para pensar: “Então, não vai acontecer nada disso”. Ao contrário, muito mais para, sentindo essa força, se questionar: “Onde, na minha vida, essas consequências já aconteceram ou até estão acontecendo?” Ou será que em momento algum experimentamos açoites da vida? Em nenhum momento nos sentimos cortados em pedaços, fragmentados? Olhar para eles e perceber a própria parcela de responsabilidade – pessoal e social, coletiva.
A partir daí, e em diálogo com Jesus, questionar: Como posso agir diferente para que não ocorram ainda com mais força, numa desintegração total?
Que o Espírito nos ilumine para não fugir à responsabilidade à qual a Palavra nos convoca hoje.
Tania Pulier, esteticista da alma, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei