Por que tendes dúvidas no coração? (Lc 24,35-48)
24 de abril de 2014“Naquele mesmo dia, o primeiro da semana, dois dos discípulos de Jesus iam para um povoado chamado Emaús, distante onze quilômetros de Jerusalém. Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido.
Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles. Os discípulos, porém, estavam como cegos, e não o reconheceram. Então Jesus perguntou: “Que ides conversando pelo caminho?” Eles pararam, com o rosto triste, e um deles chamado Cléofas, lhe disse: “Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que lá aconteceu nestes últimos dias?”
Ele perguntou: “Que foi?” Os discípulos responderam: “O que aconteceu com Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e diante de todo o povo. Nossos sumos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que ele fosse libertar Israel, mas, apesar de tudo isso, já faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Então voltaram, dizendo que tinham visto anjos e que estes afirmaram que Jesus está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas como as mulheres tinham dito. A ele, porém, ninguém o viu”.
Então Jesus lhes disse: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Será que o Cristo não devia sofrer tudo isso para entrar na sua glória?” E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele.
Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram com Jesus, dizendo: “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” Jesus entrou para ficar com eles. Quando se sentou à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e lhes distribuía.
Nisso os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus. Jesus, porém, desapareceu da frente deles. Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras?” Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros. E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” Então os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão.”
Uma das primeiras coisas que me chamou muita atenção neste texto é Jesus, uma vez questionado pelos discípulos se não sabia o que havia acontecido, perguntar para eles “Que foi?”.
Por que Jesus faz essa pergunta? Se Ele, mais do que ninguém, sabe muito bem tudo o que acontecera.
Sinto a delicadeza de Jesus, que respeita profundamente a condição do discípulo e deseja, a partir de sua compreensão, de suas capacidades, conduzi-lo a uma profunda experiência de encontro com Ele. A falta de inteligência, a dificuldade de acreditar, não impediram que aqueles discípulos fizessem uma íntima experiência de encontro com Jesus.
Observando o texto, eu destaco duas condições que foram decisivas para que a experiência pudesse acontecer. Primeiro, o fato de os discípulos permitirem que Jesus se unisse a eles no caminho: “Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e começou a caminhar com eles”. Depois, o fato de eles terem abertura de coração para ouvir as explicações de Jesus: “E, começando por Moisés e passando pelos Profetas, explicava aos discípulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele.”
Hoje o convite para a oração poderia ser este: expor para Jesus nossa condição, nossas dificuldades de compreensão e de aceitação, tudo aquilo que nos impede de acreditar plenamente na sua ressurreição, e nos colocarmos abertos para permitir que Ele entre em nossa vida e fale ao nosso coração.
O convite para a oração de hoje se renova sempre, até que possamos sentir nosso coração arder com o conhecimento de sua palavra e desejemos, de todo nosso coração, que Ele fique conosco. Então, já não será necessário um convite para a oração, pois ela será constante em nossa vida.
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG