Lucas 9,22-25
15 de fevereiro de 2018“Segue-me.” (Lc 5, 27-32)
17 de fevereiro de 2018Então os discípulos de João Batista chegaram perto de Jesus e perguntaram:
— Por que é que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas os discípulos do senhor não jejuam?
Jesus respondeu:
— Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!
Qual é o sentido do jejum? Jejuar para que?
A Igreja propõe para este período quaresmal, três práticas que devem ser utilizadas para nos prepararmos para a celebração mais importante de nossa fé: o Tríduo Pascal – Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor -.
As três práticas são o jejum, a esmola (caridade) e a oração. No texto proposto para hoje, o jejum é o elemento central.
É bonito o direcionamento que Jesus dá para a importância do jejum. Enquanto o noivo está presente, não faz sentido jejuar, porém, quando ele não estiver mais presente, o jejum será necessário.
O noivo é o próprio Jesus, que veio desposar a humanidade. Quando ele está presente, não se faz necessário jejuar, pois tudo é alegria. Mas quando ele nos é tirado, é necessário jejuar.
O jejum, então, é alguma coisa que nos deve tornar fortes para suportar a ausência do noivo. Alguma coisa que nos faça capazes de perseverar no seu amor, mesmo quando ele não está presente e tudo em volta perde o sentido e a razão.
Sempre chamou minha atenção, mesmo quando não era muito ligado à religião, o fato de muitas pessoas cultivarem o hábito de preparar praticamente uma festa na sexta-feira santa, com receitas superincrementadas de bacalhoada. Atualmente, entendo que não faz nenhum sentido, do ponto de vista religioso, trocar a carne por bacalhau, principalmente por uma sofisticada bacalhoada. Naturalmente, nossa cultura consumista aproveita todos os nichos para incrementar as vendas, e a quaresma é uma ótima oportunidade de aumentar o comércio do bacalhau.
O exemplo da troca da carne pelo bacalhau é apenas algo bem evidente, contudo devemos investigar com muita atenção nossas propostas para o jejum que praticaremos neste período, para que não se torne apenas o cumprimento de regras. E é exatamente neste sentido a resposta de Jesus para os discípulos de João. Naquele momento, na presença do noivo, não havia sentido que seus discípulos jejuassem, mas chegaria o momento em que jejuariam, quando o noivo já não estivesse com eles.
O contexto em que o evangelista situa este diálogo de Jesus é exatamente após o chamado de Mateus. Vendo Jesus e seus discípulos sentados à mesa com publicanos e pecadores, na casa de Mateus, os fariseus se põem a criticar essa atitude dele, ao que Jesus lhes responde: “Os que têm saúde não precisam de médico, mas sim os doentes” e ainda aproveita para instigar os fariseus: “procurem entender o que quer dizer este trecho das Escrituras Sagradas: ‘Eu quero que as pessoas sejam bondosas e não que me ofereçam sacrifícios de animais.’ (Mt 9,13)”.
Olhando para todo esse contexto, fica muito evidente a conexão do evangelho com a primeira leitura: “Não! Não é esse o jejum que eu quero. Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os seus parentes.” (Is 58, 6-7).
Um atleta ou um músico, quando estão em treinamento, repetem aquilo que deve ser executado no dia da prova ou do concerto, exaustivamente, até que o movimento seja tão natural que eles não precisem “pensar” para executar com perfeição. Penso que o jejum é um pouco disso também, um treino para retirarmos de nós coisas de que gostamos e doá-las aos outros, de tal forma que, com o passar do tempo, esses atos sejam naturais em nossas vidas.
Os três exercícios quaresmais não são desconectados. O jejum está conectado à caridade, pois é necessário aprender a doar além do que nos sobra. A oração nos dá força, pois nos liga à fonte, afinal: “Eu sou a videira, e vocês são os ramos. Quem está unido comigo e eu com ele, esse dá muito fruto porque sem mim vocês não podem fazer nada.” (Jo 15, 5).
Peça a graça do Espírito para escolher o melhor jejum a fazer nesta quaresma, aquele que mais o possa fortalecer como amigo do noivo. Escolha algo por que tenha muito apego e não se esqueça de converter o desapego em uma ação de amor. Deixe de ver a novela e utilize o tempo para conversar com alguém que necessite de atenção. Não acesse o Facebook e utilize o tempo que gasta na rede para visitar os doentes. Não faça nenhuma fofoca e, a cada vez que tiver vontade de fazê-lo, diga a alguém o quanto ele é importante para você. A cada cerveja que desejar tomar ou chocolate que quiser comer, coloque o dinheiro referente a esses itens em um cofre e depois doe tudo para uma instituição de caridade. Há muitas possibilidades de se fazer um bom jejum. Ouça o que o Espírito está pedindo. Ele sabe, mais que nós mesmos, o que melhor nos convém.
Maria, mãezinha querida, seja nossa companheira e nos ajude a preparar, com muito amor, para viver a grande experiência da páscoa, junto a seu amado filho. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte