Escolhe, pois, a vida (Dt 30,15-20 e Lc 9,22-25)
6 de março de 2014Quer entrar ou ficar de fora? (Lc 5,27-32)
8 de março de 2014“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: ‘Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignoraste, quando nos humilhávamos?’ – É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. É porque ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor?
Acaso o jejum que prefiro não é outro: – quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: ‘Eis-me aqui’.”
Is 58,1-9a
“Os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?’ Disse-lhes Jesus: ‘Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão.”
Mt 9,14-15
O trecho de Isaías, apresentado na primeira leitura, nos traz a inquietação do profeta que, lendo os sinais de contradições de sua época, faz o discernimento da vontade de Deus. Ao povo que rogava ser escutado por Deus, que provavelmente falava, como nós muitas vezes – Aonde Deus está? Por que não nos socorre? -, o profeta acusa as contradições, mostrando que o povo cumpria as práticas, mas não seguia os mandamentos. As práticas de jejum e sacrifícios devem ser meios para alcançar a pureza interior necessária para se sensibilizar com a dor e as carências dos outros e prestar-lhes socorro. Isto não estava acontecendo, havia o simples cumprimento das práticas legais, mas a essência dos mandamentos não era cumprida. O profeta traz a esperança indicando o caminho da conversão: seguindo os mandamentos, mais que cumprindo as práticas legais, Deus se faria presente no meio deles.
No trecho do evangelho segundo Mateus, Jesus se coloca como o noivo. Uma figuração muito apropriada e, penso eu, muito sedutora. Jesus propõe um casamento conosco. Seus amigos, os discípulos que o seguiam, em suas andanças buscando conquistar sua noiva, certamente não precisavam jejuar e oferecer sacrifícios, estavam no êxtase da iminente festa de casamento.
O Deus apresentado pelo profeta, que se faria presente quando invocado por um povo que cumprisse os mandamentos, não se conteve de amores por nós e, mesmo com o povo permanecendo longe de seus caminhos, Ele veio, pessoalmente, nos propor um casamento. Declarou seu amor incondicional.
Jesus tinha consciência de que a novela deste casamento ainda teria muitos capítulos. Sabia que a noiva ainda não estava preparada para aceitá-lo e que ainda haveria muitas traições. Mas Ele é um noivo que não se contém de tanto amor e quer conquistar a noiva a qualquer custo e, assim, paga o preço da morte na cruz e não desiste da noiva, ressuscita e se entrega de novo, prometendo estar com seus amigos para sempre, até que a noiva seja totalmente conquistada e se renda aos seus encantos, aos seus amores. Neste dia participaremos do grande banquete nupcial, carinhosamente preparado para nós.
A nossa leitura da palavra tem esta perspectiva da ressurreição. Estamos deste lado da história da salvação. Tudo olhamos com as luzes que a ressurreição nos dá.
Somos noiva e amigos de Jesus. Noiva porque pertencemos à humanidade que Jesus veio desposar e somos seus amigos, enquanto discípulos que caminham com Ele ao encontro da noiva.
Neste tempo quaresmal, em que somos chamados ao arrependimento e à conversão, somos convidados a fazer uma revisão de nossas atitudes enquanto noiva e enquanto amigos.
O que nos falta para ser a noiva apaixonada, que só tem olhos para o seu amor? Que outros amores têm nos desviado de nosso noivo?
Penso que pode nos ajudar a fazer este exame a contemplação de Jesus que está no outro, conforme Mt 25,35-36: “Pois eu estava com fome, e vocês me deram de comer; eu estava com sede, e me deram de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupa, e me vestiram; eu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”. Olhe à sua volta, às vezes dentro da sua própria casa, uma pessoa que sofre e contemple nela o Jesus que deseja ardentemente o seu amor.
O que nos falta para sermos amigos fiéis de Jesus? Aonde estamos “pisando na bola” com Ele? Como o tenho ajudado a ir ao encontro de sua noiva? Como o tenho ajudado a conquistar, integralmente, sua noiva?
Penso que neste exame pode nos ajudar a contemplação de Jesus na Hóstia Santa. Jesus se entregou completamente por nós e neste pão, além de nos alimentar, ele está pedindo para sermos os braços que acolhem sua noiva, suas pernas para ir conquistá-la aonde ela estiver, sua voz para continuar levando sua boa notícia, sua declaração de amor.
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG