“Para onde eu vou, vocês não podem ir” (João 13,21-33; 36-38)
15 de abril de 2014Acolher e participar do seu dom (João 13,1-15)
17 de abril de 2014“Então um dos Doze, chamado Judas Iscariotes, foi aos chefes dos sacerdotes, e disse: “O que é que vocês me darão para eu entregar Jesus a vocês?” Combinaram, então, trinta moedas de prata. E a partir desse momento, Judas procurava uma boa oportunidade para entregar Jesus.
No primeiro dia dos ázimos, os discípulos se aproximaram de Jesus, e perguntaram: “Onde queres que façamos os preparativos para comermos a Páscoa?”
Jesus respondeu: “Vão à cidade, procurem certo homem, e lhe digam: ‘O Mestre manda dizer: O meu tempo está próximo, eu vou celebrar a Páscoa em sua casa, junto com os meus discípulos.’ “
Os discípulos fizeram como Jesus mandou, e prepararam a Páscoa.
Ao cair da tarde, Jesus se pôs à mesa, com os doze discípulos. Enquanto comiam, Jesus disse: “Eu lhes garanto: um de vocês vai me trair.”
Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?”
Jesus respondeu: “Quem vai me trair, é aquele que comigo põe a mão no prato. O Filho do Homem vai morrer, conforme a Escritura fala a respeito dele. Porém, ai daquele que trair o Filho do Homem. Seria melhor que nunca tivesse nascido!”
Então Judas, o traidor, perguntou: “Mestre, será que sou eu?” Jesus lhe respondeu: “É como você acaba de dizer.””
Nesta semana, somos convidados a preparar dia após dia a Páscoa para Jesus em nossa vida. Entrar no seu coração, pedir a graça de segui-lo até a cruz, de experimentar seus sentimentos. Às vezes nos sentimos tão sozinhos em nossas dores, em situações de traição, de incompreensão… E que pouco nos damos conta (que pouca experiência temos!) de que Ele bebeu até a última gota o cálice para que não houvesse situação humana que Ele não tivesse assumido e pudéssemos viver cada momento da nossa vida unidos a Ele.
Ao sentar à mesa com seus íntimos, Jesus anuncia-lhes a traição de um deles. “E, um por um, começaram a lhe perguntar: “Senhor, será que sou eu?” Nenhum deles estava totalmente isento de ser esta pessoa. Eu estou?
A Semana Santa não é para ser vivida no dilaceramento, com cara de velório. Celebramos o maior amor que alguém poderia experimentar. Mas, diante do amor, vemos nossas ambiguidades. Diante da verdade, vemos nossas mentiras e hipocrisias. Diante do total “sim” de Jesus ao Pai, vemos nosso “não” muitas vezes a Ele. Não estamos isentos. E essa tristeza de contrição experimentada pelos discípulos neste momento é salvífica também para nós. Não tenho ninguém a quem possa julgar. Mas, diante do Amor, tenho muito a dizer: “Tem piedade de mim, Senhor!” E sou convidada a abrir-me ao seu perdão, a recebê-lo.
“Quem vai me trair, é aquele que comigo põe a mão no prato.” Tomar refeição juntos, para o judeu, era algo de extrema intimidade e amizade. Companheiro significa “aquele que come o mesmo pão”. Jesus está dizendo: “Pois é este mesmo o que vai me trair”. Os versículos 13 e 14 do Salmo 55 (54) dizem: “Se um inimigo me insultasse, eu poderia suportar; se meu adversário se erguesse contra mim, eu me esconderia dele. Mas é você, homem igual a mim, meu amigo, meu confidente, a quem me unia uma doce intimidade; andávamos juntos, em meio ao barulho, na casa de Deus”. Entrar no coração de Jesus diante deste amigo que mudou seu coração com relação a Ele e procurava uma boa oportunidade para entregá-lo.
Há dois meses, vivenciamos uma situação de traição em nossa equipe. Alguém em quem todos confiavam, nosso companheiro, a quem tinha sido dada procuração com poderes, parte da sociedade, a responsabilidade pelo financeiro desviou dinheiro da empresa. E não só isso. Deixou de pagar parte do salário de vários colegas e fez toda uma “bagunça” administrativa para encobrir seus atos, que acabou sendo maior e trazendo mais prejuízo do que o próprio valor desviado. O sentimento de todos era de desolação, como se alguém da própria família se tivesse perdido. “Você, nosso amigo”; “você, de quem nunca suspeitamos”. A equipe ficou dilacerada. Havia uma indiganação pelo mal-feito, mas também uma grande dor pela pessoa, que não quis explicar seus motivos. O “por que?” ficou no ar.
Cada um de nós pode ter vivenciado ou ao menos saber de situações de traição que causaram imensa dor. Lembrá-las pode ajudar a entrar no coração de Jesus, ainda que por contraste (nossa raiva e desejo de vingança e a dor dele pelo amigo que se perdia). Ou, ao contrário, entrar no coração dele pode ajudar-nos a experimentar Sua dor e modar nossos sentimentos. Pois, às vezes, acabamos caindo na indiferença com coisas que não deveriam se tornar normais para nós, ainda que comuns (outro dia, escutei um amigo dizer com tanta “normalidade”: “Esta semana mandei três pessoas embora porque roubaram do caixa”).
Que o coração de Jesus transforme o nosso. “Senhor, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso”.
Tania Pulier, comunicadora social – Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner