Que certeza queremos ter? (Lc 1,5-25)
19 de dezembro de 2014LECTIO DIVINA – 4º Domingo do Advento – 21 de novembro de 2014
21 de dezembro de 2014No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo então disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”.
Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível”. Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
Ao iniciar a oração de hoje, lembrei-me que Jesus nos propôs a possibilidade de sermos sua mãe: “todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12, 50).
Partindo desta perspectiva, reli algumas vezes o texto contemplando a cena narrada.
Certamente Maria, mãe de Jesus, pode nos ensinar muitas coisas a fim de que nos tornemos parentes do Senhor.
Percebo que o convite para a oração de hoje é seguir a narrativa deste acontecimento único, apreendendo dele aquilo que, também, nos possibilitará ser da família de Jesus.
O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”
Maria está recolhida em algum lugar, pois o anjo “entra” onde ela está.
Aprendamos a nos recolher em algum lugar tranquilo, afastado do tumulto, da agitação do dia a dia, para nos colocarmos diante de Deus, de tal forma que nossa atenção possa se voltar completamente para o que Ele tem a nos dizer. Quantas vezes os anjos podem nos ter falado alguma coisa e não escutamos, pois não estávamos em silêncio e nem com o sentido voltado para Deus? Aproveitemos o silêncio externo para silenciarmo-nos interiormente, acalmar nossos desejos e vontades e abrir espaço para o transcendente. E mesmo que não consigamos um lugar muito tranquilo, vamos nos aquietar e procurar voltar nossa atenção para o Senhor.
Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação.
As palavras que Deus nos dirige, por certo, irão nos perturbar também. Precisamos buscar o significado de Suas mensagens. A oração é um espaço para aumentar a amizade com o Senhor e, portanto, necessitamos compreendê-lo melhor, pois assim agem os amigos. Conhecer o que Ele quer nos dizer e assegurar de que compreendemos bem, parecem-me atitudes agradáveis a Deus. Ele não se recusa a nos esclarecer as dúvidas.
Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus.
O anjo, anteriormente já havia dito que Maria era “cheia de graça”, agora ele reforça que ela encontrou graça diante de Deus. Retomando o versículo de Mt 12,50, ao qual me referi no início da oração, penso na obediência de Maria à vontade do Pai. Saber ouvir a Deus e colocar em prática o que Ele nos propõe, nos faz encontrar graça diante de Deus. Maria, como ninguém, soube escutar a Deus e a colocar em prática a sua palavra. Nossa oração nos tem levado a que tipo de ação? Ela nos tem feito avançar? Estamos encontrando graça diante do Senhor?
Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus.
Maria, de tanto escutar, assimilar, e viver o que escutava, recebeu a honra de gerar a Palavra de Deus. Hoje a contemplamos no mistério de ser, ao mesmo tempo, serva e mãe de Deus..
Somos convidados a participar da mesma dinâmica que gerou a Palavra no seio de Maria. Somos convidados a, continuamente, por força do Espírito Santo, gerar Deus para o mundo. Maria foi a primeira e por isto será lembrada sempre, mas nós, também, participamos deste mistério da encarnação de Deus na humanidade. Como estamos recebendo Deus em nós? Sua palavra tem transformado nossa vida? Como estamos nos conformando com Jesus?
Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?”
Deus nos pede obediência, porém Ele jamais nos deseja a ignorância. Embora a obediência seja necessária, Deus deseja que nós sejamos conscientes de nossas ações. Lembro-me de um encontro com Dom Hélder Câmara, que ele fez com alguns universitários, quando fui muito impactado com uma sentença que pronunciou. Ele, a uma certa altura do debate, disse “Obediência cega nem a Deus” e após um breve intervalo, suficiente para que todos fixassem a atenção nele, completou “porque Deus não pede obediência cega”. Este diálogo de Maria, com o anjo, é muito pedagógico para nos ensinar a buscar a compreensão dos desígnios de Deus.
Temos esclarecido nossas dúvidas com Deus? Perguntamos para Ele como devemos ou podemos fazer as coisas? Temos aberto nosso coração para compreender o que Ele tem para nos dizer?
“Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, porque para Deus nada é impossível.”
Na resposta às nossas dúvidas, Deus também nos enche de esperança. Não devemos duvidar do poder de Deus, e Maria não duvidou. O texto não indica haver dúvida em Maria sobre a possibilidade de acontecer o que o anjo prometeu, porém Deus reforça sua confiança e esperança, ao indicar a graça concedida a Isabel.
Em nossas orações temos dado espaço para Deus esclarecer nossas dúvidas? Percebemos as situações paralelas que Ele nos mostra para nos manter firmes na fé e na esperança?
“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!”
Por fim a entrega total ao plano de Deus. Tudo foi perguntado e tudo foi esclarecido. Não há mais dúvidas. O coração de Maria, completamente aberto à Palavra do Senhor, está em paz e pode aceitar, com suave firmeza, tudo o que lhe foi pedido. Há um caminho a ser percorrido, ela conhece o início, mas não tem domínio do que virá pela frente, contudo sabe que está cheia da graça de Deus e que para Ele nada é impossível, portanto não há com o que se preocupar, de agora em diante basta se ocupar em cuidar do Verbo encarnado em seu ventre.
E nós? Temos aceitado o que Deus nos pede? Como está nossa confiança em responder sim e nos entregarmos completamente ao Seu plano?
Para sermos da família de Jesus precisamos, a exemplo de Maria, responder com sim ao plano de Deus.
Maria Santíssima, rogai por nós para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG