Marcos 8,14-21
18 de fevereiro de 2014Quem dizem os homens que eu sou? Marcos 8,27-33
20 de fevereiro de 2014Naquele tempo, 22Jesus e seus discípulos chegaram a Betsaida. Algumas pessoas trouxeram-lhe um cego e pediram a Jesus que tocasse nele. 23Jesus pegou o cego pela mão, levou-o para fora do povoado, cuspiu nos olhos dele, pôs as mãos sobre ele, e perguntou: “Estás vendo alguma coisa?” 24O homem levantou os olhos e disse: “Estou vendo os homens. Eles parecem árvores que andam”. 25Então Jesus voltou a por as mãos sobre os olhos dele e ele passou a enxergar claramente. Ficou curado, e enxergava todas as coisas com nitidez. 26Jesus mandou o homem ir para casa, e lhe disse: “Não entres no povoado!”
Nesste texto relata uma cura de Jesus, feita de forma parcial, incompleta. Diferente de tudo quanto usualmente fazia. Jesus faz uma cura por etapas. No primeiro momento a cura parece não ser efetiva, já que a percepção do cego revela-se profundamente obnubilada e só então, Jesus toca novamente no cego e ele passa a ver claramente.
Este texto provoca uma pergunta imediata: “O que este texto nos quer ensinar?”. Sabemos que parábolas, sinais e milagres, são didáticos; visam não apenas trazer cura e alivio ao que sofre, mas contém ensinamentos que visam ensinar os discípulos sobre a forma como o Mestre agia.
Portanto, este texto sugere como ser o encontro de um homem com Deus. Revela a dura realidade de gente tocada pelas mãos divinas mas que ainda continua com atitudes imperfeitas e visões parciais e obscuras da vida. Este texto nos diz que o encontro parcial com Deus não é suficiente, que é necessário mais; mostra que a cura de nossas angústias pode não ser curada em um contacto único com Deus. É necessário mais.
Agostinho (396-430) se converteu a Cristo numa experiência maravilhosa, mas ainda assim as lutas e tentações continuavam. Por várias vezes sentiu-se muito fragilizado e atraído pelas coisas que praticara na sua vida pregressa. No livro de confissões declara o seguinte: “Oh amor que arde em chamas, incendeia-me! Tu ordenas a moderação. Concede o que ordenas e ordena o que queres!”. Ele sabia que precisava que Deus continuasse operando em sua vida.
Este texto aponta para gente assim, que apesar de ter sido tocada por Deus, ainda continua caminhando com uma visão obscura e uma percepção limitada do que acontece ao redor. Quando as coisas estão desta forma, o resultado reflete numa ética distorcida, em relação à necessidade de amor às pessoas, de agir nos seus negócios, de cuidar de sua família e de tratar sua sexualidade.
O texto diz que aquele homem recobrou sua visão, pois é esta a declaração do texto: “Este, recobrando a vista…” (Mc 8.24). Não se pode dizer que ele é ainda um cego. No entanto, quando fala do que vê, percebemos imediatamente que sua visão é totalmente confusa, já que afirma: “Vejo os homens, como árvores os vejo andando” Não podemos dizer que ele é cego, porque não é, já que possui rasgos da luz e consegue perceber movimentos e interpretar parcialmente as coisas que encontram-se ao redor; não podemos porém, dizer que vê, porque sua visão é completamente fragmentada. Vê com limitações, tem percepções parciais, faz julgamentos errados: “Como árvores os vejo andando”.
Jesus vai nos ensinar neste texto, como muitos podem ter sinais de luz, frestas de visão, e ainda assim, viverem de forma incompleta, imperfeita, enxergando e julgando tudo que acontece de forma equivocada e confusa. Enxergam a luz, mas tal luz ainda não é suficiente para trazer clareza às suas mentes, ainda o fazem de forma limitada e confusa.