Jesus: aliança de Deus com o seu povo
31 de maio de 2018Respostas (Mc 11, 27-33)
2 de junho de 2018Jesus entrou em Jerusalém, foi até o Templo e olhou tudo em redor. Mas, como já era tarde, foi para o povoado de Betânia com os doze discípulos.
No dia seguinte, quando eles estavam voltando de Betânia, Jesus teve fome. Viu de longe uma figueira cheia de folhas e foi até lá para ver se havia figos. Quando chegou perto, encontrou somente folhas porque não era tempo de figos. Então disse à figueira:
— Que nunca mais ninguém coma das suas frutas!
E os seus discípulos ouviram isso.
Quando Jesus e os discípulos chegaram a Jerusalém, ele entrou no pátio do Templo e começou a expulsar todos os que compravam e vendiam naquele lugar. Derrubou as mesas dos que trocavam dinheiro e as cadeiras dos que vendiam pombas. E não deixava ninguém atravessar o pátio do Templo carregando coisas. E ele ensinava a todos assim:
— Nas Escrituras Sagradas está escrito que Deus disse o seguinte: “A minha casa será chamada de ‘Casa de Oração’ para todos os povos.” Mas vocês a transformaram num esconderijo de ladrões!
Os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei ouviram isso e começaram a procurar um jeito de matar Jesus. Mas tinham medo dele porque o povo admirava os seus ensinamentos.
De tardinha, Jesus e os discípulos saíram da cidade.
No dia seguinte, de manhã cedo, Jesus e os discípulos passaram perto da figueira e viram que ela estava seca desde a raiz. Então Pedro lembrou do que havia acontecido e disse a Jesus:
— Olhe, Mestre! A figueira que o senhor amaldiçoou ficou seca.
Jesus respondeu:
— Tenham fé em Deus. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vocês poderão dizer a este monte: “Levante-se e jogue-se no mar.” Se não duvidarem no seu coração, mas crerem que vai acontecer o que disseram, então isso será feito. Por isso eu afirmo a vocês: quando vocês orarem e pedirem alguma coisa, creiam que já a receberam, e assim tudo lhes será dado. E, quando estiverem orando, perdoem os que os ofenderam, para que o Pai de vocês, que está no céu, perdoe as ofensas de vocês. [Se não perdoarem os outros, o Pai de vocês, que está no céu, também não perdoará as ofensas de vocês.]
Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a conhecer a razão de nossos sentimentos e saber compreendê-los, de tal forma a perdoar os que não correspondam às nossas expectativas.
O texto do evangelho me deixou boquiaberto. Como diz a expressão popular, Jesus acordou de ovo virado. É muito difícil, para nossa cultura e aprendizado do catecismo, imaginar Jesus com uma carga de insatisfação tão grande.
Mas sabe, Senhor, depois de ficar um pouco assustado, passei a admirá-lo ainda mais. O Senhor realmente encarnou a humanidade inteira e completamente, ao ponto de também passar por estes momentos terríveis pelos quais passamos algumas vezes. Sentir uma insatisfação tão grande que nos leva ao ponto de explodir, ou quase explodir.
Fiquei muito curioso e retornei um pouco a leitura para verificar qual acontecimento o evangelista colocara imediatamente antes. Pois bem, o Senhor havia acabado de entrar triunfalmente em Jerusalém.
“Jesus entrou em Jerusalém, foi até o Templo e olhou tudo em redor”.
Após entrar no Templo e olhar tudo em redor o Senhor foi para Betânia. O que levou em seu coração? Imagino que não gostou do que viu e partiu decepcionado, com uma profunda dor no coração. Por que não fez nada de imediato?
Os sábios não agem por impulso. Sabem se controlar e esperar o tempo adequado à uma boa reflexão e discernimento.
Sabemos, por vários outros textos, que era comum a Jesus passar a noite em oração. Esta noite deve ter sido assim. A situação exigia uma atitude severa. Não era possível compactuar com o que estava acontecendo no Templo. Jesus não iria pecar por omissão, contudo, uma ação severa deixaria as autoridades ainda mais alvoroçadas e determinadas a acabar com sua vida. O que deveria ser feito? Como agir?
Conseguir compreender e saber as razões exatas de suas atitudes parece-me muito difícil, Senhor! Sei que o relato do evangelista nos impressiona e deixa uma marca muito forte de duas coisas que não lhe são nem um pouco agradáveis.
Não era tempo de figos, mas a figueira estava cheia de folhas. Sua aparência era enganosa. Em várias oportunidades, o Senhor deixa bem claro o quanto é importante ser verdadeiro para Deus, abrir o coração e ser sincero. Portanto, mesmo sendo muito estranho para nós que o Senhor tenha amaldiçoado a árvore, fica-nos, uma vez mais, a lição de que não devemos buscar aparentar aquilo que não somos.
O comércio no Templo é, sem sombra de dúvida, o que mais lhe desagrada. Utilizar-se da boa fé dos humildes para se enriquecer é o mais abominável de todos nossos erros.
Em paralelo a estes dois atos, ao final do texto, o Senhor fecha o “episódio” com chave de ouro.
“Quando vocês orarem e pedirem alguma coisa, creiam que já a receberam, e assim tudo lhes será dado”
Depositar confiança total em Deus. Esperar para agir no dia seguinte. Passar uma noite em oração antes de se colocar em ação. Seu agir, Senhor, é um belo exemplo que nos ensina como buscar as quatro virtudes cardeais, aquelas que polarizam todas as outras virtudes humanas: prudência, justiça, fortaleza e temperança.
E, por último, aquilo que é a maior expressão do amor incondicional de Deus e que devemos buscar com todas nossas forças.
“E, quando estiverem orando, perdoem os que os ofenderam, para que o Pai de vocês, que está no céu, perdoe as ofensas de vocês.”
Talvez não exista nada que seja mais adequado para reconhecermos o amor em nós, que a capacidade de perdoar. Jesus, o amor encarnado, morreu perdoando e suplicando ao Pai que perdoasse aqueles que o torturavam. Respondendo ao pedido de seus discípulos, ensinou-nos a rezar pedindo perdão a Deus na mesma medida que conseguimos perdoar a quem nos ofendeu.
Diante de tudo isto, podemos nos perguntar:quando fico decepcionado com alguém ou alguma situação, como tenho agido? Paro? Reflito? Rezo? Deixo Deus oxigenar minha ira? Lembro-me de que também não consigo corresponder às expectativas dos outros? Lembro-me de que, apesar de tudo, estou diante de irmãos e irmãs? De que todos são amados pelo mesmo e único Deus?
Jesus deseja que coloquemos diante dele todas as nossas imperfeições, raivas e dificuldades de perdoar. Para que Ele, como bom médico que é, possa nos curar de tudo isso. Quando entramos em oração, podemos ser acometidos do mal de achar que estamos santificados e deixamos de assumir nossas atitudes mais abjetas. No retiro de carnaval deste ano, quando nos recolhemos para nossos exercícios espirituais, ouvi de uma das palestrantes uma sentença proferida como resultado do Concílio de Constantinopla I: “o que não é assumido não é salvo”. Esta afirmação contradiz uma heresia propagada por Apolinário, que negava a presença de uma mente humana em Jesus. Deixando as questões teológicas mais profundas de lado e simplesmente me atendo à sentença final, vi-a como uma expressão redentora. Afinal, estimula-nos a trazer tudo aquilo que está no profundo de nossos porões fedorentos e escuros à luz libertadora da presença de Cristo.
Que o Espírito Santo nos ilumine e nos fortaleça no dom de amar sem medidas e sem medos, até experimentarmos um amor paciente e bondoso, nem ciumento, nem orgulhoso ou vaidoso, sem grosserias e egoísmos, sem irritação ou mágoas. Um amor que não fica alegre quando alguém faz alguma coisa errada, mas que se alegra quando alguém faz o que é certo. Um amor que nunca desiste e que tudo suporta, com fé, esperança e paciência (cf. 1Cor 13,4-7). Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte