No caminho de Emaús (LC24, 13-35)
30 de março de 2016Devemos obedecer aos homens ou a Deus? (At 4,13-21)
2 de abril de 2016Depois disso, Jesus apareceu outra vez aos seus discípulos, na beira do lago da Galileia. Foi assim que aconteceu:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado “o Gêmeo”; Natanael, que era de Caná da Galileia; os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos. Simão Pedro disse aos outros:
— Eu vou pescar.
— Nós também vamos pescar com você! — disseram eles.
Então foram todos e subiram no barco, mas naquela noite não pescaram nada. De manhã, quando começava a clarear, Jesus estava na praia. Porém eles não sabiam que era ele. Então Jesus perguntou:
— Moços, vocês pescaram alguma coisa?
— Nada! — responderam eles.
— Joguem a rede do lado direito do barco, que vocês acharão peixe! — disse Jesus.
Eles jogaram a rede e logo depois já não conseguiam puxá-la para dentro do barco, por causa da grande quantidade de peixes que havia nela. Aí o discípulo que Jesus amava disse a Pedro:
— É o Senhor Jesus!
Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a capa, pois havia tirado a roupa, e se jogou na água. Os outros discípulos foram no barco, puxando a rede com os peixes, pois estavam somente a uns cem metros da praia. Quando saíram do barco, viram ali uma pequena fogueira, com alguns peixes em cima das brasas. E também havia pão. Então Jesus disse:
— Tragam alguns desses peixes que vocês acabaram de pescar.
Aí Simão Pedro subiu no barco e arrastou a rede para a terra. Ela estava cheia, com cento e cinquenta e três peixes grandes, e mesmo assim não se rebentou. Jesus disse:
— Venham comer!
Nenhum deles tinha coragem de perguntar quem ele era, pois sabiam que era o Senhor. Então Jesus veio, pegou o pão e deu a eles. E fez a mesma coisa com os peixes.
Foi esta a terceira vez que Jesus, depois de ter sido ressuscitado, apareceu aos seus discípulos.
Espírito Santo, que a palavra hoje rezada inunde nosso coração com as luzes da ressurreição e nos permita participar do mistério vivido pelos primeiros discípulos aos quais Jesus se manifestou, alegrando-nos, de tal modo, que continuemos sendo proclamadores e testemunhas de que a vida vence a morte.
O contexto do trecho do evangelho que nos é apresentado para hoje, pode, facilmente, ser encaixado em vários momentos de nossas vidas. Vamos entender a situação.
No capítulo 20 do evangelho segundo João, há três manifestações de Jesus ressuscitado. A primeira à Maria Madalena (Jo 20, 14-16), a segunda aos discípulos reunidos (Jo 20, 19) e a terceira, uma semana depois, aos discípulos reunidos e com a presença de Tomé, que não estava presente na manifestação anterior (Jo 20, 26).
No capítulo 20, o evangelista termina então sua narrativa do evangelho (Jo 20, 30-31), porém depois há o acréscimo do capítulo 21.
Considero este acréscimo uma enorme riqueza, pois penso que foi escrito especialmente para nós, as comunidades que viriam depois e precisavam ter o conhecimento de mais esta experiência dos primeiros.
Primeiramente pensemos naqueles que participaram da experiência, foram sete, dos quais cinco nos são apresentados pelo nome e “mais dois”, que não foram nominados. Acho que devemos nos fazer participantes desta experiência no lugar destes dois. Eles são todos aqueles que viriam pela frente e que o evangelista não poderia nominar, pois não os conhecia.
Após apresentar os participantes, o texto diz que Pedro resolveu ir pescar. A pesca era a antiga profissão de Pedro. Representava seu dia-a-dia antes de conhecer Jesus de Nazaré, antes de segui-lo em suas andanças pela Galiléia, até sua morte em Jerusalém. Mesmo tendo sido evangelizado por Jesus, tendo presenciado sua manifestação após a ressurreição por, pelo menos, duas vezes, Pedro resolve desistir de tudo, e os outros o seguem.
Quando Pedro diz “vou pescar”, ele expressa sua decisão de voltar à sua antiga vida de pescador, abandonando a continuidade do projeto de Jesus. Esta é uma das possíveis interpretações da expressão utilizada em grego, no original deste texto, e que me ajuda muito na oração.
Os primeiros seguidores de Jesus, aqueles que tiveram contato com Ele em sua vida terrena e presenciaram coisas maravilhosas que Ele realizou, também sentiram desânimo e quiseram largar tudo. A humildade para relatar esta experiência é uma riqueza muito grande para nós que viemos depois.
Quando estivermos desanimados, com vontade de largar tudo, desiludidos com fracassos em nossas tentativas de evangelizar, vivendo sem intensidade os valores do evangelho, devemos nos lembrar desta experiência.
Escutar, reconectar-se, manter a esperança e mudar a forma de fazer. Este é o conteúdo central da minha oração de hoje.
Quando li o texto inicialmente, pareceu-me muito estranho que estes pescadores experimentados, depois de uma noite frustrante, sem pescarem nada, estivessem de bom humor para atenderem ao comando de um qualquer que lhes grita da praia. Sim, até aquele momento era um qualquer, pois ainda não tinham reconhecido Jesus.
Escutar envolve o sentido de ouvir, mas, principalmente, o desejo de atender ao que foi falado, ao que foi dito. Portanto aqueles discípulos escutaram o comando do homem que lhes gritou da praia. Pois efetivamente eles lançaram a rede aonde lhes fora ordenado. Há também uma reconexão com as experiências de suas vidas junto ao Mestre, que lhes acende a esperança de que algo novo podia acontecer e, aí, fazem algo diferente e novo. Sim, eles inovam, pois no momento de recolherem o barco vazio, jogam a rede do lado direito.
Na alegria de comemorar a novidade, reconhecem que ela fora alcançada porque é o Senhor quem a comandou.
A desconexão com a causa de Jesus os levaram de volta a uma vida frustrante, a escuta, a reconexão, a esperança renovada e o mudar a forma de fazer, lhes devolveram a alegria.
No silêncio interior oracional, mediante a luz que este relato nos traz, lembremos das nossas experiências de vida que se assemelham a esta e identifiquemos a voz do Mestre. Este é um exercício espiritual importante, pois traz à luz as manifestações de Jesus em nossa vida. Muitas vezes elas ocorreram, mas nós não O reconhecemos.
Habituar a identificar a voz de Jesus nas experiências que já vivemos, nos ajudará a reconhecê-Lo mais facilmente nas futuras experiências. Ele continua nos pedindo para “jogarmos a rede do lado direito”, mas sem escutá-Lo podemos estar “jogando a rede do lado errado” e vivendo frustrados.
Maria, mãezinha querida, você que esteve ao pé da cruz até o último suspiro de Jesus, nos auxilie no aprendizado de escutar seu Filho. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte