A anunciação à Maria
4 de abril de 2016Quem crê no Filho tem a vida eterna (Jo 3,31-36)
7 de abril de 2016Porque Deus amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna. Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo.
Começo minha oração de hoje, invocando o Espírito Santo, pedindo sua presença para que a palavra rezada seja acolhida, assimilada e experimentada.
Ponho-me diante de tua presença, Senhor, e a imagem escolhida me ajuda a entrar nas palavras de João.
Nesta passagem, deparo-me com teu amor extremado, um amor que não explico, mas que não me deixa indiferente. Um amor tão intenso que se deu por inteiro, integralmente, sem reservas. Transcende minha estreita compreensão humana, porque não espera nada em troca. Não espera resposta e carrega em si a força e a coragem de uma liberdade genuína: dá a vida por amor. “Liberdade – essa palavra, que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!” (Cecília Meireles).
A liberdade é esse atributo do teu amor que também escapa à minha compreensão humana.
Mera perda de tempo seria tentar explicar um amor assim, tão livre assim, mas posso acolhê-lo em mim. E o que o texto me fala de teu amor é isso: “…amou o mundo tanto, que deu o seu único Filho, para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna“.
Aqui, já percebo que o teu amor não está restrito nem ao tempo do verbo. O pretérito perfeito em amou e deu não é sinal de algo acabado, mas de uma ação anterior, primordial, originária do que segue: “para que todo aquele que nele crer não morra, mas tenha a vida eterna”. A eficácia desse amor faz com que não morra quem, pela fé, acredita em Jesus.
Não me atrevo a dizer, Senhor, o que seja acreditar em teu Filho, como se houvesse uma formulinha, ou como se seus genuínos seguidores tivessem um carimbinho. Opto pela pista de João que me sinaliza o caminho do teu amor de Pai, que oferece o Filho para a salvação de todos e do amor do Filho que, imbuído desse amor, se oferece a si mesmo. Isso, para nos dar o exemplo do que seja o verdadeiro amar. O Verbo Encarnado suprime o tempo. Nele, todos os verbos inexistem ou são atemporais. O Pe. Libanio gostava de dizer que o verbo SER é o único verbo que participa da tua divindade, Senhor: Tu és amor! Existe antes e para além do tempo. Não se restringe a tempo algum, nem a espaço, a crença, a etnia, ou a gênero.
João fala em julgamento, mas teu Filho suprimiu o julgamento, nas próprias palavras do evangelista: “Pois Deus mandou o seu Filho para salvar o mundo e não para julgá-lo”. Essa é uma ideia que não nos pegou ainda. A ideia de que sejas todo poderoso e busques a nossa condenação foi, há muito, suprimida em Jesus. Infelizmente, ainda insistimos nela, pois é por ela que nos tornamos julgadores implacáveis de nós mesmos e dos que vivem à nossa volta.
Foi Jesus que nos revelou o teu rosto, tão desconhecido de nós! Ele nos revelou que tu és todo poderoso no amor. Revelou a tua misericórdia de Paizinho. Misericórdia não se confunde com permissividade. És um Pai que nos educas, na dor e na alegria, ensinas a amar, amando. Crer em Jesus é a possibilidade de vida plena, de experimentar a tua misericórdia de Pai. Há outros caminhos, sabemos, e o caminho de teu Filho não os suprime, desde que sejam trilhados no amor. Mas o que eu sei, por haver experimentado, é a ação transformada da palavra de teu Filho no meu meio e em mim.
Lembro-me do saudoso padre Hugo, tão presente na minha infância! Em meio a gestos vigorosos, braços que subiam e desciam, fazendo parecer asas as mangas largas da batina, ele afirmou algo de ti a nós, pequenos participantes da missa das crianças: “Deus não é justo!” Fiquei completamente atônita! Como assim??? Se Tu não fosses justo, o que seria de nós, pequeninos, condenados à duvidosa “justiça” dos adultos? Tudo se deu muito rápido e eu, com respiração suspensa e boca aberta, olhava fixamente o padre Hugo aguardando uma solução para tamanha tragédia. “Deus é m i s e r i c o r d i o s o!” , completou o padre depois de todo o suspense. Falou assim como tentei mostrar, pausadamente. Isso me deu a ideia de que misericórdia fosse algo muito bom, muito melhor do que a Justiça.
Hoje, ainda não sei o que seja a tua misericórdia. Tento, olhando teu rosto, fazer com que o meu seja semelhante, mas é tão difícil! Minha pretensa misericórdia resvala para um outro caminho e, quando percebo, já estou sendo juíza, com balança e espada na mão. Não, não sei o que é a tua misericórdia, mas experimento-a diariamente na minha vida. Obrigada, Senhor, obrigada!
Que a luz de teu Filho revele a verdade que nos liberta e transforma e nossas ações manifestem a tua presença.
Que possamos, como o salmista do salmo de hoje, proclamar a todos: “Provai e vede quão suave é o Senhor! Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!” Amém.
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Regina Maria – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte