Aconteça comigo aquilo que o Senhor diz
25 de março de 2017Jesus, o mestre que também aprendia
27 de março de 2017Certamente a tua bondade e o teu amor
ficarão comigo enquanto eu viver.”
Sl 23.6
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Tu, Espírito, tudo preenches,
e eu vejo apenas aparências,
quando não obstáculos.
Faze-nos sensíveis à tua voz,
a teus sussurros e a teus gemidos,
a teu sorriso e a teu clamor,
para que possamos descobrir
teu rosto, tuas mãos, tua palavra,
aqui, em nossa vida cotidiana,
que tu sustentas e crias cada dia.
TEXTO BÍBLICO: João, 9.1-41
Jesus e um cego
1Jesus ia caminhando quando viu um homem que tinha nascido cego. 2Os seus discípulos perguntaram:
— Mestre, por que este homem nasceu cego? Foi por causa dos pecados dele ou por causa dos pecados dos pais dele?
3Jesus respondeu:
— Ele é cego, sim, mas não por causa dos pecados dele nem por causa dos pecados dos pais dele. É cego para que o poder de Deus se mostre nele. 4Precisamos trabalhar enquanto é dia, para fazer as obras daquele que me enviou. Pois está chegando a noite, quando ninguém pode trabalhar. 5Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo.
6Depois de dizer isso, Jesus cuspiu no chão, fez um pouco de lama com a saliva, passou a lama nos olhos do cego 7e disse:
— Vá lavar o rosto no tanque de Siloé. (Este nome quer dizer “Aquele que Foi Enviado”.)
O cego foi, lavou o rosto e voltou vendo. 8Os seus vizinhos e as pessoas que costumavam vê-lo pedindo esmola perguntavam:
— Não é este o homem que ficava sentado pedindo esmola?
9— É! — diziam alguns.
— Não, não é. Mas é parecido com ele! — afirmavam outros.
Porém ele dizia:
— Sou eu mesmo.
10— Como é que agora você pode ver? — perguntaram.
11Ele respondeu:
— O homem chamado Jesus fez um pouco de lama, passou a lama nos meus olhos e disse: “Vá ao tanque de Siloé e lave o rosto.” Então eu fui, lavei o rosto e fiquei vendo.
12— Onde está esse homem? — perguntaram.
— Não sei! — respondeu ele.
Os fariseus fazem perguntas
13Então levaram aos fariseus o homem que havia sido cego. 14O dia em que Jesus havia feito lama e curado o homem da cegueira era um sábado. 15Aí os fariseus também perguntaram como ele tinha sido curado.
— Ele pôs lama nos meus olhos, eu lavei o rosto e agora estou vendo — respondeu o homem.
16Alguns fariseus disseram:
— O homem que fez isso não é de Deus porque não respeita a lei do sábado.
E outros perguntaram:
— Como pode um pecador fazer milagres tão grandes?
E por causa disso houve divisão entre eles. 17Então os fariseus tornaram a perguntar ao homem:
— Você diz que ele curou você da cegueira. E o que é que você diz dele?
— Ele é um profeta! — respondeu o homem.
18Os líderes judeus não acreditavam que ele tinha sido cego e que agora podia ver. Por isso chamaram os pais dele 19e perguntaram:
— Esse homem é filho de vocês? Vocês dizem que ele nasceu cego. E como é que agora ele está vendo?
20Os pais responderam:
— Sabemos que ele é nosso filho e que nasceu cego. 21Mas não sabemos como é que ele agora pode ver e não sabemos também quem foi que o curou. Ele é maior de idade; perguntem, e ele mesmo poderá explicar.
22Os pais disseram isso porque estavam com medo, pois os líderes judeus tinham combinado expulsar da sinagoga quem afirmasse que Jesus era o Messias. 23Foi por isso que os pais disseram: “Ele é maior de idade; perguntem a ele.”
24Então os líderes judeus chamaram pela segunda vez o homem que tinha sido cego e disseram:
— Jure por Deus que você vai dizer a verdade. Nós sabemos que esse homem é pecador.
25Ele respondeu:
— Se ele é pecador, eu não sei. De uma coisa eu sei: eu era cego e agora vejo!
26— O que foi que ele fez a você? Como curou você da cegueira? — tornaram a perguntar.
27O homem respondeu:
— Eu já disse, e vocês não acreditaram. Por que querem ouvir isso outra vez? Por acaso vocês também querem ser seguidores dele?
28Então eles o xingaram e disseram:
— Você é que é seguidor dele! Nós somos seguidores de Moisés. 29Sabemos que Deus falou com Moisés; mas este homem, nós nem mesmo sabemos de onde ele é.
30Ele respondeu:
— Que coisa esquisita! Vocês não sabem de onde ele é, mas ele me curou. 31Sabemos que Deus não atende pecadores, mas ele atende os que o respeitam e fazem a sua vontade. 32Desde que o mundo existe, nunca se ouviu dizer que alguém tivesse curado um cego de nascença. 33Se esse homem não fosse enviado por Deus, não teria podido fazer nada.
34Eles disseram:
— Você nasceu cheio de pecado e é você que quer nos ensinar?
E o expulsaram da sinagoga.
A cegueira espiritual
35Jesus ficou sabendo que tinham expulsado o homem da sinagoga. Foi procurá-lo e, quando o encontrou, perguntou:
— Você crê no Filho do Homem?
36Ele respondeu:
— Senhor, quem é o Filho do Homem para que eu creia nele?
37Jesus disse:
— Você já o viu! É ele que está falando com você!
38— Eu creio, Senhor! — disse o homem. E se ajoelhou diante dele.
39Então Jesus afirmou:
— Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos vejam e que fiquem cegos os que veem.
40Alguns fariseus que estavam com ele ouviram isso e perguntaram:
— Será que isso quer dizer que nós também somos cegos?
41 — Se vocês fossem cegos, não teriam culpa! — respondeu Jesus. — Mas, como dizem que podem ver, então continuam tendo culpa.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
O que Jesus respondeu à pergunta dos discípulos: “Mestre, por que este homem nasceu cego?” Como o homem explicou o motivo por que já podia enxergar? O que disse o homem curado quando os fariseus lhe falaram de Jesus? Qual foi a resposta de Jesus à pergunta dos fariseus: “Será que isso quer dizer que nós também somos cegos?”
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Mario Montes Moraga[2]
Prosseguimos pelo caminho da Quaresma, e o evangelista são João apresenta-nos o relato do cego de nascença, que foi curado por Jesus para mostrar ao povo judeu que ele é a luz, tema recorrente nos domingos do Natal, da Epifania do Senhor e nos começos do Tempo Comum. “Enquanto estou no mundo, eu sou a luz do mundo” (Jo 9.5), diz Jesus. Esta é a mensagem mais importante, pois quem cura um cego de nascença, demonstra que é a luz, de modo que o cego, mais do que curado, é um homem iluminado.
O texto é toda uma catequese bem estruturada em cinco momentos, que veremos em seguida:
1. Jesus detém-se diante de um cego de nascença, e sua iniciativa provoca a pergunta dos discípulos sobre a condição pecadora do deficiente, mentalidade que Jesus não compartilha.
2. Jesus liberta o cego de sua prostração e marginalização religiosa e social (não pode meditar a lei que dá vida e ensina o caminho que a ela conduz, como canta o salmista no Salmo 119), mas logo se vai e já não aparece (Jo 9,6-7). O gesto de misturar terra com saliva para fazer barro recorda-nos o ato de Deus ao criar o homem do barro e soprar-lhe no nariz uma respiração de vida (cf. Gn 2.7).
3. O sinal provoca diversas reações. Em primeiro lugar, a perplexidade dos vizinhos e conhecidos (Jo 9.8-12), que descobrem uma mudança naquela pessoa, perguntando-se se era ela mesma, ao que o homem iluminado responde apresentando-se, como Jesus, dizendo: “Sou eu mesmo” (Jo 9.9; 18.5,6,8), referindo-se ao Senhor como ao “homem chamado Jesus” (Jo 9.11), pois não conhece sua origem divina (Jo 9.12). Em segundo lugar, reagem os fariseus, que também ficam surpresos, pois, na opinião deles, todo profeta que realiza prodígios e quer ser seguido, viola a lei (cf. Dt 13.1-6) e cria divisões (Jo 9.13-17). O iluminado reconhece Jesus como profeta (Jo 9.17). Os pais desse homem se desentendem com ele, por medo dos judeus (Jo 9.18-23); o iluminado, por sua vez, confessa a fé na origem divina de Jesus (Jo 9.24-34) e dá explicações sobre seu nascimento aos fariseus, que o expulsam.
4. Jesus apresenta-se novamente, perguntando sobre a fé em sua pessoa (Jo 9.35) e começa uma conversa com este homem curado de sua cegueira (Jo 9.36-38): revela-lhe sua identidade, e aquele iluminado confessa sua fé em Jesus, adorando-o como Deus que é (Jo 9.38; cf. Dt 13.5).
5. Por fim, os fariseus, que se haviam convertido em juízes e intérpretes do sinal, são declarados cegos por Jesus (Jo 9.39-41), porque rejeitaram a luz ao não querer renascer do alto.
A frase daquele que havia sido cego: “Eu lavei o rosto e agora estou vendo” (Jo 9.15b) nos recorda inevitavelmente o batismo cristão que, na igreja primitiva, foi chamado de “iluminação”. O paralelismo entre o caso do cego e o batismo cristão aparece com bastante clareza. Inclusive temos indicadas as frases do ritual: “Você crê no Filho do Homem?… Creio, Senhor…” (Jo 9.35-38). A forma de narrar o milagre em Jo 9.7 nos recorda também o rito do batismo: “Vá lavar o rosto no tanque de Siloé. (Este nome quer dizer ‘Aquele que Foi Enviado’.) O cego foi, lavou o rosto e voltou vendo”. Certamente este relato era lido por ocasião da celebração do batismo. Seu ritual pôde influenciar na apresentação do relato deste domingo, que tem uma estrutura catequética e que se pode utilizar na catequese deste sacramento.
O que o Senhor me diz no texto?
Todos, em maior ou menor medida, atravessamos situações de obscuridade, de falta de luz, de dúvidas ou de busca. A resposta é Deus; Jesus Cristo é a luz que dissipa nossas trevas, ilumina-nos e nos conduz à salvação. Há cegos que não podem ver e há cegos que não querem ver e que nem sequer toleram que outros vejam. Diante de todos, Jesus aparece como a luz do mundo (Jo 8.12). Aos primeiros, se humildemente se aproximam dele, Jesus dá-lhes a vista e a fé; quanto aos segundos, desmascara-os.
São João Paulo II convida-nos a meditar com estas palavras: “Antes de mais nada, tenham sempre um profundo sentido de responsabilidade quanto à fé cristã de vocês. O relato evangélico faz-nos compreender quão preciosa é a vista dos olhos, mas quanto mais preciosa ainda é a luz da fé. Sabemos, porém, que esta fé exige firmeza e fortaleza, porque está sempre insidiada. Diante da luz que é Cristo, às vezes existe uma atitude de franca hostilidade, ou de rejeição e de indiferença, ou também de crítica injusta e parcial.
“Sintam-se responsáveis por sua fé na sociedade moderna na qual devem viver, cada um em seu lugar de vida e de trabalho, cada um no âmbito de suas relações de família e de profissão. E, por isso, aprofundem-na cada vez mais, com uma catequese sadia, completa, metódica. (…) Correspondam ao fervor dos Pastores! Conhecer melhor a própria fé significa estimá-la mais, vivê-la mais intensamente, irradiá-la com testemunho eficaz!”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Sou constante, apesar de meu testemunho não ser suficiente para fazer crescer a fé de outras pessoas? Comentários ou notícias sobre a Igreja me fazem, às vezes, duvidar de minha fé? Procuro reafirmá-la em minha oração perseverante? Assumo responsavelmente meu crescimento espiritual?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Converte-nos, Senhor!
Devolve-nos o olhar confiante das crianças,
a transparência que fala do que existe em abundância na alma.
Não permitas que fechemos os olhos e creiamos descobrir-te dentro de nós,
sem buscar-te e encontrar-te por onde andas cotidianamente.
Ajuda-nos, Senhor, a ver e a mudar… a ver-te e a optar…
A utilizar essas lentes maravilhosas que nos deixaste
para olhar o mundo, a realidade, a vida:
o olhar do Evangelho,
para ver com o olhos de Deus.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
“Ao ver-te realmente, outra coisa não posso dizer senão: creio, Senhor!”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Busco um sacerdote amigo, que possa ajudar-me a abrir os olhos de minha fé e, sem medo, apresento-lhe as perguntas que me fazem duvidar da fé católica.
“Um cristão fiel, iluminado pelos raios da graça tal como um cristal, deverá iluminar os outros com suas palavras e ações, com a luz do bom exemplo”.
Santo Antônio de Pádua