IV Domingo do Tempo comum – Ano C
31 de janeiro de 2016Viva a contradição (Lc 2,22-40)
2 de fevereiro de 2016Jesus e os discípulos chegaram à região de Gerasa, no lado leste do lago da Galileia. Assim que Jesus saiu do barco, foi encontrar-se com ele um homem que estava dominado por um espírito mau. O homem vinha do cemitério, onde estava morando. Ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo usando correntes. Muitas vezes já tinham amarrado as suas mãos e os seus pés com correntes de ferro, mas ele quebrava tudo, e ninguém conseguia dominá-lo. Passava os dias e as noites nos montes e entre os túmulos, gritando e se ferindo de propósito com pedras. Ele viu Jesus de longe, correu, caiu de joelhos diante dele e gritou:
— Jesus, Filho do Deus Altíssimo! O que o senhor quer de mim? Em nome de Deus eu peço: não me castigue!
Ele disse isso porque Jesus havia mandado: “Espírito mau, saia desse homem!”
Jesus perguntou:
— Como é que você se chama?
Ele respondeu:
— O meu nome é Multidão, porque somos muitos.
E pedia com muita insistência a Jesus que não expulsasse os espíritos maus para fora daquela região. Acontece que num morro perto dali havia muitos porcos comendo. Os espíritos pediram a Jesus com insistência:
— Nos mande ficar naqueles porcos; nos deixe entrar neles!
Ele deixou, e os espíritos saíram do homem e entraram nos porcos. E estes, que eram quase dois mil, se atiraram morro abaixo, para dentro do lago, e se afogaram.
Os homens que estavam tomando conta dos porcos fugiram e espalharam a notícia na cidade e nos campos. Muita gente foi ver o que havia acontecido. Quando chegaram perto de Jesus, viram o homem que antes estava dominado por demônios; e ficaram espantados porque ele estava sentado, vestido e no seu perfeito juízo. Os que tinham visto tudo aquilo lhes contaram o que havia acontecido com o homem e com os porcos. Então começaram a pedir com insistência a Jesus que saísse da terra deles. Quando ele estava entrando no barco, o homem curado pediu com insistência:
— Me deixe ir com o senhor!
Mas Jesus não deixou e disse:
— Volte para casa e conte aos seus parentes o que o Senhor lhe fez e como ele foi bom para você.
Então ele foi embora e contava, na região das Dez Cidades, o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.
Três coisas chamam minha atenção na leitura de hoje e gostaria de utilizá-las para aprofundarmos nossa oração. Peçamos ao Espírito Santo que nos conduza e ilumine nosso coração para bem compreendê-las.
A primeira coisa é o fato de que nada segurava aquele homem possuído por demônios. Mesmo tendo suas mãos e seus pés presos por correntes de ferro, ele quebrava tudo.
Muitas vezes, coisa semelhante acontece conosco. Quando nos vemos cercados de problemas e conflitos, buscamos formas de acomodá-los, queremos que eles se aquietem. Usamos de muitos subterfúgios para acorrentá-los em um canto, de tal forma que não nos incomodem, mas não os encaramos verdadeiramente e os resolvemos. Por pouco tempo eles ficam presos nas correntes que os prendemos. Logo se soltam e voltam para nos incomodar com mais força e violência.
Jesus, nosso Mestre e Senhor, vem nos mostrar que esses demônios que nos habitam necessitam de atitude firme para serem expulsos, mas, por outro lado, também é necessário iluminá-los e conhecê-los, para sabermos o tratamento certo a ser dado.
Nesse momento de oração e intimidade com Deus, deixemos que Ele nos ajude a iluminar todos os conflitos que temos vivido, tudo aquilo que nos tem incomodado, reconhecendo que teremos de enfrentar cada um deles, mas com a certeza de que Ele estará ao nosso lado, acompanhando-nos na busca da solução adequada para resolvê-los.
A segunda coisa é o fato de que Jesus permitiu que os demônios, saindo daquele homem, entrassem nos porcos, e que estes atiraram-se ao mar, causando prejuízo financeiro aos seus donos. Por causa disso, não quiseram que Jesus permanecesse por ali.
Muitas vezes, senão quase sempre, é necessário fazermos concessões para resolvermos nossos conflitos e problemas. Eles não desaparecem como num passe de mágica. Há muitos casos em que eles, por nossa intransigência, não são resolvidos.
Quando a solução para algo que nos atormenta nos leva a um prejuízo financeiro, costumamos evitá-la. E quando não encontramos outra maneira de solucionar, ao resolvemos um conflito geramos outro, porque ficamos nos remoendo se não havia uma maneira de solucioná-lo sem ter gastado tanto dinheiro.
Em nossa oração, deixemos que o Senhor aquiete nosso coração, que Ele dê o valor correto de cada coisa e que nos mostre que algumas são úteis para podermos alcançar outras mais importantes. Sejamos humildes para aceitar a correta hierarquia de valores que devem pautar nossas decisões.
A terceira e última coisa é o fato de Jesus não deixar que o homem curado o seguisse, No entanto Ele lhe dá uma missão muito simples e clara: contar a todos de sua região o que o Senhor lhe havia feito e como foi bom para ele.
É muito interessante perceber como Jesus distribui as missões a cada um. A alguns Ele chama para segui-lo mais de perto e a outros Ele dá outras missões, todas para alcançar o objetivo final: que o Reino de Deus seja anunciado. Um único contato com Jesus foi o suficiente para que aquele homem se tornasse seu apóstolo na região de Gerasa.
Nossa missão para hoje é sentir a presença do Senhor em nossa vida, deixar que Ele ilumine tudo aquilo que nos faz sofrer, todos os pecados aos quais estamos acorrentados, aceitar sua ajuda para colocarmos em ordem nossa hierarquia de valores, sentir a paz que brota a partir desta presença transformadora e, por final, contar a todas as pessoas próximas, como o Senhor é bom e tudo que Ele tem feito por nós.
Com a graça de Deus, amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte