Amor de misericórdia (Lucas 15, 1-3. 11-13)
7 de março de 2015Tempo de ser estrangeiro (Lc 4,24-30)
9 de março de 2015LECTIO DIVINA
III Domingo da Quaresma – Ano B
8º de março de 2015
“Senhor, tu tens palavras de vida eterna.”
Salmo 19
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Santo e divino Espírito!
Já não quero viver para mim;
desejo consagrar minha vida
a fazer tua vontade e a amar-te por inteiro.
Suplico-te que me concedas o dom da oração.
Vem, Tu mesmo, ao meu coração,
para ensinar-me a orar
seguindo tua inspiração.
Dá-me fortaleza para ser constante
e superar o cansaço e a aridez.[1]
TEXTO BÍBLICO: João 2.13-25
Jesus vai ao Templo
Mateus 21,12-17; Marcos 11,15-19; Lucas 19.45-48
13Alguns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus foi até a cidade de Jerusalém. 14No pátio do Templo encontrou pessoas vendendo bois, ovelhas e pombas; e viu também os que, sentados às suas mesas, trocavam dinheiro para o povo. 15Então ele fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão.16E disse aos que vendiam pombas:
— Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!
17Então os discípulos dele lembraram das palavras das Escrituras Sagradas que dizem: “O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo.”
18Aí os líderes judeus perguntaram:
— Que milagre você pode fazer para nos provar que tem autoridade para fazer isso?
19Jesus respondeu:
— Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias!
20Eles disseram:
— A construção deste Templo levou quarenta e seis anos, e você diz que vai construí-lo de novo em três dias?
21Porém o templo do qual Jesus estava falando era o seu próprio corpo. 22Quando Jesus foi ressuscitado, os seus discípulos lembraram que ele tinha dito isso e então creram nas Escrituras Sagradas e nas palavras dele.
Jesus sabe o que as pessoas pensam
23Quando Jesus estava em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos creram nele porque viram os milagres que ele fazia. 24Mas Jesus não confiava neles, pois os conhecia muito bem. 25E ninguém precisava falar com ele sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o que cada pessoa pensava.
1. LEITURA
Que diz o texto?
María Cristina Ariztía[2]
ü Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…
Que festa se aproximava? O que Jesus encontrou no templo? Qual foi sua reação? Quem pôs em dúvida o que Jesus dizia? A que templo Jesus se referia? Qual é o acontecimento que suscita e confirma a fé dos discípulos? Por que Jesus não precisava que lhe falassem a respeito de quem quer que seja?
Algumas considerações para uma leitura proveitosa…
Neste domingo e nos dois que se seguem, leremos três passagens do evangelho de João que anunciam e interpretam o Mistério Pascal de Jesus. O relato de hoje tem como cenário o templo de Jerusalém, e é conhecido por mostrar um dos gestos mais violentos de Jesus.
Aproximava-se a festa judia da Páscoa que celebrava a libertação do povo da escravidão do Egito. Todos os judeus deviam peregrinar até Jerusalém para oferecer sacrifícios a Deus no templo. Alguns peregrinos vinham de muito longe e preferiam comprar os animais para o sacrifício no átrio exterior do templo, onde podiam entrar os não-judeus, onde se instalavam comerciantes que vendiam animais e trocavam as moedas estrangeiras; este negócio, porém, prestava-se a grandes vícios.
Jesus subiu também até Jerusalém e ao ver tal situação no templo, reagiu com determinação. Seguindo o estilo dos profetas do Antigo Testamento, expulsou a todos dizendo: “Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!”. O templo era a casa de Deus e não podia está a serviço dos interesses políticos, econômicos e sociais que desvirtuavam seu sentido religioso. A atitude de Jesus fez com que os discípulos recordassem uma passagem do Antigo Testamento (Sl 69.9) que expressava o que Jesus era: um apaixonado pela causa de Deus.
Na cena seguinte, os judeus (esta palavra refere-se aqui às autoridades religiosas do povo) questionam a autoridade de Jesus para expulsar os cambistas e os vendedores, uma vez que eles eram a única autoridade válida para definir os assuntos do templo. Jesus responde com uma frase misteriosa, que não responde diretamente à pergunta deles: “Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias!”. É óbvio que não se pode reconstruir um templo em três dias, mas Jesus se referia ao Templo de seu corpo, que seria destruído pela morte na cruz e levantado pela ressurreição. A frase mostra indiretamente qual é sua autoridade: ele é o Messias esperado.
O Mistério Pascal de Jesus substitui definitivamente o templo de Jerusalém pela pessoa de Jesus ressuscitado, transformando-o no novo lugar do encontro entre Deus e os homens e mulheres de todo o tempo. Esta realidade só pode ser compreendida à luz da ressurreição.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Recordemos aqueles momentos de oração em que, com fé, expressamos os desejos de nosso coração e nos atrevemos a oferecer algo em troca: “Senhor, ajuda-me nessa prova e te prometo estudar de verdade para a próxima”; ou: “Meu Deus, se meus pais não perceberem, te prometo que não volto a fazer isso”. Assim, temos uma fé um tanto calculada. E mesmo que, talvez, pensemos que oramos inofensivamente, na realidade estamos fazendo o mesmo que os mercadores do templo, expulsos por Jesus: se mantivermos este estilo de oração, nossa fé estará condicionada a nossos desejos e não deixaremos a vontade de Deus agir sobre nós. Segundo evangelho de Mateus (6.8), Deus conhece nossos desejos antes mesmo que os manifestemos, e o texto ainda traz as seguintes palavras de Jesus: “Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai de vocês, que está no céu, dará coisas boas aos que lhe pedirem!”. O convite é para entregar-nos, com fé, à sua Providência e começar a mudar nossa oração, fazendo-a como fez Jesus: “Pai, que se faça a tua vontade e não a minha”.
É Jesus quem entra no “templo vivo” de nosso coração e quer destruir aquilo que não corresponde à bondade de Deus em nós. Ele diz que o templo será reconstruído em três dias: nisso é que consiste nossa quaresma, ou seja, permitir que ele entre em nosso templo, desfazê-lo e refazê-lo outra vez. Com certeza, nessa situação, sentiremos dor e chegaremos até às lágrimas, porque é Jesus, irado, zeloso do que pertence a seu Pai, quem veio resgatar-nos e salvar-nos. “A Quaresma é um tempo propício para nos deixarmos servir por Cristo e, deste modo, tornarmo-nos como Ele. Verifica-se isto quando ouvimos a Palavra de Deus e recebemos os sacramentos, nomeadamente a Eucaristia. Nesta, tornamo-nos naquilo que recebemos: o corpo de Cristo”.[3]
Disponhamos esta quaresma para nossa ressurreição com Ele, e em oração sincera, permitamos-lhe agir, limpar-nos e reconstruir-nos, porque ninguém mais do que ele é capaz entender o que há em nosso coração e de ajudar-nos com o de que nossa vida precisa.
Agora perguntemo-nos:
Considero minha oração honesta, ou, às vezes, tento “negociar” com Deus? Confio em que o que Deus me dá é o de que realmente necessito? Sinto que meu corpo é morada de Jesus? Deixar-me-ei reconstruir na ressurreição do Cristo? Quanto avancei em meu compromisso quaresmal?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Senhor,
bendize meu coração
para que seja templo vivo de teu Espírito
e saiba oferecer calor e refúgio;
que seja generoso em perdoar e em compreender,
e aprenda a partilhar dor e alegria com grande amor.
Meu Deus, que possas dispor de mim
com tudo o que sou, com tudo o que tenho.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Jesus,
entra no templo de meu coração e faze dele tua morada,
entra e faze como quiseres!
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Esta semana, receberei o sacramento da reconciliação para que o próprio Jesus, no sacerdote, entre e reconstrua minha vida e meu coração.
“Espírito Santo,
faze de meu coração um templo,
de minha língua um instrumento,
para que fale a todos com o exemplo…”
[1] Santo Alfonso María de Ligorio.
[2] Diretor da Animação Bíblia da Pastoral, Conferência Episcopal do Chile.
[3] Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2015 (http://papa.cancaonova.com/mensagem-do-papa-francisco-para-a-quaresma-2015/).
[4] Oração tirada da Pastoral dos Jesuítas (http://www.pastoralsj.org/index.php?option=com_flexicontent&view=items&id=77:bendice-mis-manos4:oraciones&Itemid=8).