Devemos obedecer aos homens ou a Deus? (At 4,13-21)
2 de abril de 2016A anunciação à Maria
4 de abril de 2016“O Senhor me torna forte e poderoso; ele me salvou.” Sl 118.14
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Senhor,
faze com que aprendamos
a escutar-te sempre com todo o nosso ser;
que, à imitação de Maria,
conservemos tuas palavras
para meditá-las em nosso coração
como bons discípulos e seguidores teus.
Concede-nos que, cheios de ti,
consigamos comunicar a nossos irmãos
o que vimos e ouvimos.
Somente assim seremos testemunhas de teu reino
e viveremos com fidelidade
a vocação a que nos chamas cada dia.
TEXTO BÍBLICO: João 20.19-31
Jesus aparece aos discípulos
Mateus 28.16-20; Marcos 16.14-18; Lucas 24.36-49
19Naquele mesmo domingo, à tarde, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus. Então Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:
— Que a paz esteja com vocês!
20Em seguida lhes mostrou as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor. 21Então Jesus disse de novo:
— Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.
22Depois soprou sobre eles e disse:
— Recebam o Espírito Santo. 23Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.
Jesus e Tomé
24Acontece que Tomé, um dos discípulos, que era chamado de “o Gêmeo”, não estava com eles quando Jesus chegou. 25Então os outros discípulos disseram a Tomé:
— Nós vimos o Senhor!
Ele respondeu:
— Se eu não vir o sinal dos pregos nas mãos dele, e não tocar ali com o meu dedo, e também se não puser a minha mão no lado dele, não vou crer!
26Uma semana depois, os discípulos de Jesus estavam outra vez reunidos ali com as portas trancadas, e Tomé estava com eles. Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:
— Que a paz esteja com vocês!
27Em seguida disse a Tomé:
— Veja as minhas mãos e ponha o seu dedo nelas. Estenda a mão e ponha no meu lado. Pare de duvidar e creia!
28Então Tomé exclamou:
— Meu Senhor e meu Deus!
29— Você creu porque me viu? — disse Jesus. — Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!
A finalidade deste Evangelho
30Jesus fez diante dos discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro.
31Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Pe. Daniel Kerber[2]
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Por que os discípulos se reúnem de portas trancadas? Quem os saudou dizendo: “Que a paz esteja com vocês!”? Quando Jesus soprou sobre eles? O que receberam? Que respondeu Tomé quando ficou sabendo que os discípulos tinham visto a Jesus? O que aconteceu oito dias depois? Qual foi a resposta de Jesus quando Tomé acreditou?
Algumas pistas para compreender o texto:
No domingo passado, celebramos a páscoa e lemos os evangelhos do sepulcro vazio. Hoje, a liturgia propõe-nos o encontro de Jesus com seus discípulos.
Podemos perceber duas partes no texto: a primeiranarra o encontro de Jesus na noite do domingo, inicialmente com os discípulos, sem Tomé, e, no domingo seguinte, estando Tomé também presente (vv. 19-29). A segunda parte teria sido, em algum momento ao longo da história, a conclusão de todo o evangelho (vv. 30-31); é muito provável que o capítulo 21 tenha sido um acréscimo posterior.
Jesus invade os temores e as incertezas dos discípulos e vence, com sua presença, a angústia dos corações (simbolizados pelas portas fechadas). Oferece-lhes o dom de sua paz: “Que a paz esteja com vocês!” (v. 19, cf. os vv. 21 e 26). Estas palavras não indicam apenas uma saudação ou um desejo, como a dizer “desejo que vocês tenham paz”, mas são as palavras que manifestam o que está acontecendo com a presença de Jesus no meio deles. Jesus mesmo é a paz (cf. Ef 2.14) e agora ele se apresenta a seus discípulos trazendo consigo o troféu que é o fruto de sua entrega na páscoa: a vitória sobre o pecado e a morte.
O fruto desse encontro é a alegria (v. 20) que dissipa todo temor e obscuridade. Jesus prossegue, sopra sobre eles e lhes dá seu Espírito. Assim como na criação, Deus havia dado vida ao ser humano mediante o sopro (cf. Gn 2.7), também agora, Jesus ressuscitado sopra, dando vida nova, transmitindo a vida ressuscitada, dando início, com este sopro, à nova criação. Tudo é renovado no Ressuscitado.
Os discípulos dão testemunho deste encontro a Tomé, mas este resiste em acreditar. Esta resistência de Tomé é o espelho de tantas resistências em crer no ressuscitado no decorrer da história. Jesus volta a apresentar-se no domingo seguinte (o evangelista já está mostrando que o domingo é o dia em que a comunidade se encontra com o Ressuscitado), chama Tomé e lhe mostra as mãos e o lado. Tomé faz uma das mais altas profissões de fé do evangelho: “Meu Senhor e meu Deus!” (v. 28). Jesus, no entanto, repreende-lhe o não ter acreditado no testemunho dos discípulos, e mostra qual é a verdadeira felicidade: “Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!” (v. 29).
Esta felicidade é destinada a nós, os leitores, que não vimos o Senhor, mas acreditamos nele; nós somos esses “felizes”.
Por fim, a conclusão do evangelho (vv. 30-31) diz qual é a intenção de todo o escrito: “Para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus”, e qual é a consequência dessa fé: “Para que, crendo, tenham vida por meio dele”.
Não se trata de uma fé inicial, como a dizer “Para que os que não creem, creiam”, mas se trata de uma fé mais profunda, mais radical: “Para que vocês aprofundem mais sua fé e vejam que nessa fé vocês têm verdadeira vida nele”.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Hoje, domingo da Misericórdia, a liturgia apresenta-nos Jesus preocupado com a fé de Tomé e fazendo o possível para conseguir que ele creia. Tal como em nossa vida, Jesus busca a forma de aumentar nossa fé. Uma vez tendo acreditado, Tomé uniu-se aos discípulos como missionário, pois, sem estar presente e sem acreditar, recebeu, assim como eles, o Espírito Santo e a tarefa de anunciar a todos a Salvação que nosso Senhor Jesus nos trouxe.
Bento XVI oferece-nos outros elementos importantes para continuar nossa meditação: “Depois, muito conhecida e até proverbial é a cena de Tomé incrédulo, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Num primeiro momento, ele não tinha acreditado em Jesus que apareceu na sua ausência, e dissera: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito” (Jo 20, 25). No fundo, destas palavras sobressai a convicção de que Jesus já é reconhecível não tanto pelo rosto quanto pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou. Nisto o Apóstolo não se engana. […]
“Porque me viste, acreditaste. Felizes os que, sem terem visto, crerão” (cf. Jo 20, 29). Esta frase também se pode conjugar no presente; “Bem-aventurados os que creem sem terem visto”. Contudo, aqui Jesus enuncia um princípio fundamental para os cristãos que virão depois de Tomé, portanto para todos nós. […]
“O caso do Apóstolo Tomé é importante para nós pelo menos por três motivos: primeiro, porque nos conforta nas nossas inseguranças; segundo porque nos demonstra que qualquer dúvida pode levar a um êxito luminoso além de qualquer incerteza; e por fim, porque as palavras dirigidas a ele por Jesus nos recordam o verdadeiro sentido da fé madura e nos encorajam a prosseguir, apesar das dificuldades, pelo nosso caminho de adesão a Ele.”
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Recebi testemunhos de fé? Quanto os valorizei? Peço a Jesus que me ajude quando tenho dúvidas de fé? Mesmo tendo dúvida, minha relação com Jesus se intensifica? Minha vida de fé me convida à missão?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Creio em ti, Senhor, e em tua palavra.
Creio em teu Espírito que dá a vida e a anima.
Creio em teu Pai, meu Pai também,
porque assim ele o quis e me fez seu filho.
Creio, Senhor.
Esta é minha confissão, em meus lábios,
e gostaria que também o fosse em meu coração.
Contudo, minha fé é frágil e fraca: reforça-a!
Vacilante e insegura: consolida-a!
Apagada e receosa: ilumina-a!
Limitada e apoucada: aumenta-a!
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
“Meu Senhor e meu Deus!”
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Neste domingo que nos convida à misericórdia, praticarei um dos atos de misericórdia, que é ensinar ao que não sabe ou não conhece. Durante esta semana, falarei com duas pessoas sobre meu crescimento de fé com Jesus.
“A fé refere-se a coisas que não se veem, e a esperança, a coisas que não estão ao alcance da mão!”
São Tomás de Aquino