Perfeitos como o Pai (Mateus 5,43-48)
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22 de fevereiro de 2016LECTIO DIVINA
II Domingo da Quaresma – Ano C
21 de fevereiro de 2016
“Confie no Senhor. Tenha fé e coragem.
Confie em Deus, o Senhor.
Sl 27.14
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo,
para ensinar-nos a rezar
e a saber dizer “Jesus”;
proclamar seu testemunho
com a palavra e com a vida,
e para que graves em nós
a imagem viva de Cristo.
Vem, Espírito Santo,
sê nosso melhor perfume,
nossa alegria secreta,
nossa fonte inesgotável,
nosso sol e nossa fogueira,
nosso alento e nosso vento,
nosso hóspede e conselheiro.
Vem, Espírito Santo.
Vem, Espírito amigo.[1]
TEXTO BÍBLICO: Lucas 4.1-13
Jesus, Moisés e Elias
Mateus 17.1-13; Marcos 9.2-13
28Mais ou menos uma semana depois de ter dito essas coisas, Jesus levou Pedro, João e Tiago e subiu o monte para orar. 29Enquanto orava, o seu rosto mudou de aparência, e a sua roupa ficou muito branca e brilhante. 30De repente, dois homens apareceram ali e começaram a falar com ele. Eram Moisés e Elias, 31que estavam cercados por um brilho celestial. Eles falavam com Jesus a respeito da morte que, de acordo com a vontade de Deus, ele ia sofrer em Jerusalém. 32Pedro e os seus companheiros estavam dormindo profundamente, mas acordaram e viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. 33Quando esses dois homens estavam se afastando de Jesus, Pedro disse:
— Mestre, como é bom estarmos aqui! Vamos armar três barracas: uma para o senhor, outra para Moisés e outra para Elias.
Pedro não sabia o que estava dizendo. 34Ele ainda estava falando, quando apareceu uma nuvem e os cobriu. Os discípulos ficaram com medo quando a nuvem desceu sobre eles. 35E da nuvem veio uma voz, que disse:
— Este é o meu Filho, o meu escolhido. Escutem o que ele diz!
36Quando a voz parou, eles viram que Jesus estava sozinho. Os discípulos ficaram calados e naquela ocasião não disseram nada a ninguém sobre o que tinham visto.
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. Daniel Kerber [2]
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Para que Jesus subiu o monte? O que aconteceu com seu rosto e com sua roupa enquanto rezava? Com quem conversava? O que Pedro e seus companheiros viram? O que Pedro disse a Jesus? Sobre quem pousou a nuvem? O que disse a voz que saiu da nuvem?
Algumas pistas para compreender o texto:
O texto da Transfiguração vem depois do anúncio que Jesus faz de sua páscoa, e do ensinamento de que, para ser seu discípulo, é necessário negar-se a si mesmo, carregar a cruz cada dia e segui-lo (Lc 9.21ss).
Podemos distinguir duas partes no texto: a primeira narra a transfiguração de Jesus e sua conversa com Moisés e Elias (vv. 28-32); na segunda parte, dá-se a intervenção de Pedro, escuta-se a voz do Pai, e o último versículo conclui o relato (vv. 33-36).
Jesus já anunciou a seus discípulo sua próxima páscoa em Jerusalém (Lc 9.21s); os discípulos, por sua vez, veem que o caminho do Senhor passa pela cruz e que segui-lo é exigente. Nesta passagem, Jesus toma consigo os discípulos mais próximos – Pedro, Tiago e João – e, com eles, sobe o monte para orar; neste contato com Deus, transforma-se, transfigura-se. E ali aparecem Moisés e Elias (que representam a Lei e os Profetas, toda a tradição do Antigo Testamento), que falam com ele sobre sua partida, sua morte e ressurreição.
Jesus, em oração transformadora com o Pai, recolhe toda a tradição bíblica e se encaminha para sua partida (literalmente, seu “êxodo”), que se realizará em sua páscoa, em Jerusalém. A Lei e os Profetas apontavam para tal realização: Moisés e Elias confirmam o fato.
Os discípulos estão ali, mas não compreendem totalmente. Estão com sono, ainda que se esforcem para ficar acordados (v. 32). Pedro quer ficar ali, no alto do monte, com Jesus transfigurado, Moisés e Elias, embora não saiba o que diz (v. 34). Depois se vê a nuvem (que é símbolo da presença divina), e a voz do Pai intervém, dirigindo-se não a Jesus, como no Batismo (cf. 3.22), mas aos discípulos: “Este é o meu Filho, o meu Escolhido. Escutem o que ele diz!” (v. 35).
Assim como o Pai se compraz no Filho quando se identifica com os pecadores no Batismo (3.21s), agora também se compraz quando já se encaminha para Jerusalém (cf. 9.51) a fim de salvá-los por sua cruz e ressurreição. Por isso, além de “contemplar” e “permanecer”, como diz Pedro, o Pai fala aos discípulos desde a nuvem. É necessário escutar e assim aprender a seguir Jesus em seu caminho até a Páscoa.
Depois disto, descem do monte (v. 37) e, mais uma vez, Jesus anuncia-lhes sua páscoa (9.43-45), mesmo que ainda lhes fosse difícil compreender. No entanto, Jesus não diz: “Venham e compreendam-me”, mas “venham e sigam-me”.
2. MEDITAÇÃO
O que o Senhor me diz no texto?
Chegamos ao segundo domingo da Quaresma, e o Evangelho mostra Jesus partilhando sua glória. Com seu exemplo de oração constante, ele pede-nos que vivamos esse tempo em oração, esforçando-nos por deixar-nos transformar por ele. Sejamos como Pedro e os outros discípulos: perseveremos, apesar do esgotamento físico ou espiritual, e veremos como o Senhor transforma nossas vidas.
O Papa Francisco ressalta a graça da oração, de viver em intimidade com Deus; assim nos tornamos irmãos com Cristo e nosso interior é transformado por Deus Pai, que nos faz superar os obstáculos e sair de nossas resignações: “A este Pai nosso é que rezamos com insistência todos os dias, e uma das coisas que lhe pedimos é que não nos deixe cair em tentação. O próprio Jesus o fez: ele rezou para que seus discípulos – de ontem e de hoje – não caiam em tentação. Que tentações nos podem assediar? Qual a tentação que brota não somente do contemplar a realidade, mas do percorrê-la? Que tentação nos pode vir de ambientes muitas vezes dominados pela violência, corrupção, tráfico de drogas, desprezo pela dignidade da pessoa, indiferença perante o sofrimento e a precariedade? Que tentação podemos ter de quando em vez?
Creio que poderíamos resumi-la em uma só palavra: resignação. Diante dessa realidade, podemos ser vencidos por uma das armas preferidas pelo demônio: a resignação. ‘O que se pode fazer? A vida é assim’. Uma resignação que nos paralisa e nos impede não só de caminhar, mas também de abrir caminho; uma resignação que não apenas nos atemoriza, mas também nos impede de louvar; tira-nos a alegria, o júbilo do louvor. Uma resignação que não só nos impede de planejar, mas que não nos deixa arriscar e transformar.[3]
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Busco momentos de oração para encontrar-me com Jesus? A resignação é minha tentação ou sou agente de transformação para minha comunidade? Estou consciente de que para ressuscitar é necessário passar pelo sacrifício da cruz? Como aplico isto à minha vida? Deixo-me guiar pelas palavras de Jesus como me ordenou o Pai? Percebo que a oração contínua me transforma e faz com que eu reflita a glória de Deus?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Senhor, como é bom está aqui, em tua presença,
que nos transfigura e enamora!
Tu és presença de amizade,
a alegria transbordante do encontro,
a brancura da neve do amor.
Tu, Senhor ressuscitado e transfigurado,
és nosso “êxtase”,
nos fazes sair de nós mesmos
para encontrar-nos no Tu de teu amor.
Senhor, como é bom está aqui!
E tu não és um lugar,
nem um espaço, nem um tempo.
Tu és tudo e sempre presente
na montanha da vida.
Senhor, que bom! Tu sempre aqui,
na altura e na baixura de minha vida,
aproximas-te para ficar comigo.[4]
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Mestre, como é bom estar em tua presença!
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Em minha oração diária, apresento ao Senhor as atitudes que devem ser transformadas por sua presença, e faço o firme propósito de mudá-las.
“Um cristão fiel, iluminado pelos raios da graça, tal como um cristal, deverá iluminar os outros com suas palavras e ações, com a luz do bom exemplo”.
Santo Antônio de Pádua
[2] É sacerdote da Arquidiocese de Montevidéu (Uruguai) e administrador paroquial da Paróquia de são Alexandre de são Pedro Claver. Colabora também com as Sociedades Bíblicas Unidas no trabalho de tradução da Bíblia para as línguas indígenas e prestou serviço como “auditor” para o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja (2008). É membro da equipe de apoio da escola bíblica do Cebipal (Centro Bíblico para a América Latina, do CELAM).
[3] Viaje Apostólico del Papa Francisco a México. Febrero 16 de 2016