Inversão de valores – Lucas 6,1-5
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8 de setembro de 2015Leitura: Lucas 6, 6-11
Num outro sábado Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Estava ali um homem que tinha a mão direita aleijada. Alguns mestres da Lei e alguns fariseus ficaram espiando Jesus para ver se ele ia curar alguém no sábado. Pois queriam arranjar um motivo para o acusar de desobedecer à Lei. Mas Jesus conhecia os pensamentos deles e por isso disse para o homem que tinha a mão aleijada: “Levanta-te e fique em pé aqui na frente”. O homem se levantou e ficou em pé. Então Jesus disse: “Eu pergunto a vocês: o que é que a nossa Lei diz sobre o sábado? O que é permitido fazer nesse dia: o bem ou o mal? Salvar alguém da morte ou deixar morrer?” Jesus olhou para todos os que estavam em volta dele e disse para o homem: “Estenda a mão!”. O homem estendeu a mão, e ela sarou. Aí os mestres da Lei e os fariseus ficaram furiosos e começaram a conversar sobre o que poderiam fazer contra Jesus.
Oração:
Hoje, o evangelista nos apresenta um herege de seu tempo: Jesus. O sábado era dia do repouso completo, pois era o dia do Senhor. Jesus, ao ver o homem com a mão aleijada, não esperou outro dia; curou-o na mesma hora. Também em nossos dias é intenso o conflito entre os que pregam o cumprimento mais estrito das regras e os que as relativizam. Pairam dúvidas… será que podemos ceder aqui? Será que não vamos perder a essência se não observarmos isso? Ou será que observar aquilo é o que nos tira do essencial? As imagens do evangelho ajudam-nos a rezar com essas incertezas…
“Levanta-te e fique em pé aqui na frente”. A ordem de Jesus, totalmente prescindível para que se operasse o milagre, aponta-nos algo muito bonito. De pé; em frente; levantado. Jesus nos convida a ver o homem e a mulher sempre por inteiro. Convida-nos a pensar o que é a dignidade do homem e da mulher. O Pai os fez para estar em pé, à frente. Jesus convida os fariseus – e também nos convida – a olhar o problema do outro – e o nosso – tendo em conta o corpo todo, a pessoa toda, a inserção na sociedade e na comunidade.
“O que é permitido fazer nesse dia: o bem ou o mal? Salvar alguém ou deixar morrer?”. A pergunta é para nós, hoje, e a resposta não é, como não foi para aqueles homens, fácil de dar. Deve-se sempre fazer o bem; deve-se sempre salvar… mas qual bem? Que salvação? A resposta, óbvia para Jesus, não era tão clara para aqueles homens, e hoje as respostas talvez não estejam tão claras para nós também.
Que dá a Jesus a certeza de que não está infringindo a Lei, mas cumprindo o que ela estabelece? Por que ele é tão seguro quando diz, sem esperar a resposta daqueles homens: “Estenda a mão!”? Por ser um com o Pai, Jesus é também senhor do sábado e é quem conhece o íntimo da vontade da Lei. Por isso não tem medo de cometer erro; por isso é claro, direto e cura sem rodeios.
Peçamos a ele que a oração com a Palavra nos guie sempre mais no caminho da configuração com a vida dele, pois só assim poderemos conhecer e fazer com perfeição o que o Pai deseja. Peçamos a ele que entendamos cada vez mais sobre o Amor pelo qual somos amados, pois então saberemos com precisão reconhecer por trás de quais preceitos há sopro desse Amor e quais práticas contrariam esse sopro. Só assim, preenchidos pelo mesmo Espírito, poderemos ser, com segurança, hereges em relação às regras sociais, comunitárias e religiosas e – apesar disso e por isso – realizar, ao mesmo tempo, o mais íntimo do desejo do Pai. Seremos, como Jesus, hereges por amor.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte