PREPARAÇÃO ESPIRITUAL

Jesus:

Hoje quero escutar tua voz,

mas falta silêncio ao meu redor.

Ensina-me a ficar calado

e a escutar atento tua voz.

Que tua palavra ilumine minha vida,

que tua palavra me comprometa

e me faça viver em tua presença,

mesmo que eu não te conheça

e saiba quase nada do Evangelho.

Quero ser teu amigo,

mas me preocupo tão pouco contigo!

Hoje vens visitar-me

e me convidas a abrir a porta

do meu coração.

Do fundo de meu ser,

Te espero e grito a Ti:

Vem, Senhor Jesus![1]

Jesus aparece aos discípulos

Mateus 28.16-20; Marcos 16.14-18; Lucas 24.36-49

¹⁹Naquele mesmo domingo, à tarde, os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo dos líderes judeus. Então Jesus chegou, ficou no meio deles e disse:

— Que a paz esteja com vocês!

²⁰Em seguida lhes mostrou as suas mãos e o seu lado. E eles ficaram muito alegres ao verem o Senhor. ²¹Então Jesus disse de novo:

— Que a paz esteja com vocês! Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês.

²²Depois soprou sobre eles e disse:

—Recebam o Espírito Santo. ²³Se vocês perdoarem os pecados de alguém, esses pecados são perdoados; mas, se não perdoarem, eles não são perdoados.

Diácono Orlando Fernández.[2]

ü  Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…

Quando e em que condições os discípulos estavam reunidos? Que lhes disse Jesus em sua saudação? Com que palavras completou a saudação? O que os discípulos sentiram ao ver Jesus? O que fazia Jesus enquanto lhes dizia: “Recebam o Espírito Santo”? Qua foi a outra missão que Jesus lhes confiou nesse momento?

Algumas pistas para compreender o texto:

Na manhã do primeiro dia da semana, a que a Igreja em seguida chamou “Dominicum”, “Dia do Senhor”, Jesus entra na casa onde os discípulos estão reunidos, e por duas vezes se dirige a eles com a expressão: “Que a paz esteja com vocês!”. Na língua hebraica, Shalom significa muito mais do quem em português. Desejar a paz ao chegar a uma casa é desejar aos que ali vivem ou se encontram todo o bem-estar, alegria e harmonia. Por isso, mais do que uma simples saudação, supõe uma grande bênção vinda da parte de Deus.

Quando Jesus deseja a paz a seus discípulos, juntamente com todo esse significado tradicional, está a perdoar-lhes a infidelidade durante sua paixão, dando-lhes forças para superar a incredulidade e infundindo-lhes ânimo para vencer o medo. Tudo isso com um simples sinal: mostra-lhes as mãos feridas e o lado chagado, para que vejam como as feridas da paixão não puderam deter a ressurreição. Isto os enche de alegria, e compreendem que esta é a paz que devem transmitir como parte de sua missão. A morte, com todo o sofrimento que produz, não prevalece sobre a vida eterna, que vem de Deus. Com este gesto, solidifica-se a esperança na ressurreição em que alguns setores de Israel vêm acreditando desde o século II a. C.

“Depois, soprou sobre eles e disse: ‘Recebam o Espírito Santo…’”.

No Novo Testamento grego, a palavra “Pneuma” traduz, por sua vez, a palavra hebraica “Ruach”, que tem o sentido de “sopro”, “vento” ou “alento”, mas também de “alma” e “espírito”. Jesus, ao soprar sobre eles o Espírito Santo, está repetindo um gesto que somente Deus fazia, o qual revela sua natureza divina. Este termo aparece muitas vezes na Bíblia. No relato da criação, diz-se que o Espírito de Deus “se movia por cima da água” (Gn 1.1), e que ao formar o homem, “o Senhor soprou no nariz dele uma respiração de vida” (Gn 2.7), ou seja, seu Espírito. Para os antigos hebreus, a vida provinha do alento de Deus. viver é receber seu alento, e morrer, significa a retirada desse alento.

Ao entregar aos discípulos, com esse gesto, o Espírito Santo (“Ruach Haqodesh”, em hebraico), Jesus dá-lhes também o poder de perdoar ou reter os pecados como sinais de uma nova Aliança selada com seu sangue e expressa com um gesto de amor sem igual. A partir de agora, agirão em nome de Deus, sendo instrumentos dóceis da ação desse mesmo Espírito em sua vida e missão.

O Espírito de Deus, de Jesus, está conosco e nos impele a uma nova vida, cheia de verdade e de amor. Com ele, renovar-se-ão os dons recebidos no batismo. Preparemos nossos corações para que o Espírito Santo venha de novo a nós e seja o impulsionador de uma nova vida.

Reflitamos com o Papa Francisco sobre este dia de Pentecostes: “À luz deste texto dos Atos, quereria refletir sobre três palavras relacionadas com a ação do Espírito: novidade, harmonia e missão.

“1. A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projetar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. E isto verifica-se também quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-lo e acolhemo-lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda a história da salvação, quando Deus Se revela traz novidade…

“2. Segundo pensamento: à primeira vista o Espírito Santo parece criar desordem na Igreja, porque traz a diversidade dos carismas, dos dons. Mas não; sob a sua ação, tudo isso é uma grande riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidade, que não significa uniformidade, mas a recondução do todo à harmonia. Quem faz a harmonia na Igreja é o Espírito Santo. […] O caminhar juntos na Igreja, guiados pelos Pastores – que para isso têm um carisma e ministério especial – é sinal da ação do Espírito Santo; uma característica fundamental para cada cristão, cada comunidade, cada movimento é a eclesialidade. É a Igreja que me traz Cristo e me leva a Cristo; os caminhos paralelos são muito perigosos!

“3. O último ponto. Diziam os teólogos antigos: a alma é uma espécie de barca à vela; o Espírito Santo é o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento são os dons do Espírito. Sem o seu incentivo, sem a sua graça, não vamos para a frente. O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão. […]O Espírito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existência a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo. Perguntemo-nos, se tendemos a fechar-nos em nós mesmos, no nosso grupo, ou se deixamos que o Espírito Santo nos abra à missão. Recordemos hoje estas três palavras: novidade, harmonia, missão.”[3]

Continuemos nossa meditação com estas perguntas:

Quando sinto medo de falar de Jesus, o Espírito Santo me dá coragem para fazê-lo? Reconheço os dons que o Espírito Santo deu a meus irmãos de comunidade? Sinto no coração o impulso missionário e confio que, por meio do Espírito Santo, descobrirei a missão que Deus tem para mim?

Espírito de Deus, tornai-nos disponíveis à Vossa visita,

fazei crescer em nós a fé na Palavra que salva.

Sede a fonte viva da esperança que germina nas nossas vidas.

Sede em nós o sopro de amor que nos transforma

e o fogo de caridade que nos impele a darmo-nos a nós mesmos,

através do serviço aos nossos irmãos.

Vós, que o Pai nos enviou,

ensinai-nos todas as coisas e fazei com que compreendamos a riqueza da Palavra de Cristo.

Afirmai em nós o homem interior, fazei com que passemos do temor à confiança, a fim de que brote em nós o louvor da Vossa glória.

Sede a luz que vem colmar o coração dos homens e dar-lhe a coragem de Vos buscar incansavelmente.

Vós, Espírito de verdade, introduzi-nos na Verdade completa,

a fim de proclamarmos com determinação o mistério de Deus vivo

que age na nossa história.[4]

Jesus, sopra teu Espírito Santo sobre mim

e envia-me para ser testemunha de teu amor

Durante esta semana, pedirei ao Espírito Santo que se faça presente em minha comunidade, para que juntos, como Igreja, sejamos testemunhas de Jesus vivo.

“Não estamos sozinhos na terra. Existe alguém que nos acompanha

e nos oferece sua incomparável ajuda: o Espírito Santo”

São João XXIII