Humildade e hospitalidade
5 de novembro de 2018As condições para ser seguidor de Jesus (LC 14,25-33)
7 de novembro de 2018Leitura: Lucas 14, 15-24
Um dos que estavam à mesa ouviu isso e disse para Jesus:
— Felizes os que irão sentar-se à mesa no Reino de Deus!
Então Jesus lhe disse:
— Certo homem convidou muita gente para uma festa que ia dar. Quando chegou a hora, mandou o seu empregado dizer aos convidados: “Venham, que tudo já está pronto!”
— Mas eles, um por um, começaram a dar desculpas. O primeiro disse ao empregado: “Comprei um terreno e tenho de dar uma olhada nele. Peço que me desculpe.”
— Outro disse: “Comprei cinco juntas de bois e preciso ver se trabalham bem. Peço que me desculpe.”
— E outro disse: “Acabei de casar e por isso não posso ir.”
— O empregado voltou e contou tudo ao patrão. Ele ficou com muita raiva e disse: “Vá depressa pelas ruas e pelos becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.”
— Mais tarde o empregado disse: “Patrão, já fiz o que o senhor mandou, mas ainda está sobrando lugar.”
— Aí o patrão respondeu: “Então vá pelas estradas e pelos caminhos e obrigue os que você encontrar ali a virem, a fim de que a minha casa fique cheia. Pois eu afirmo a vocês que nenhum dos que foram convidados provará o meu jantar!”
Oração:
Neste capítulo do evangelho de Lucas, Jesus está na casa de um fariseu para ter uma refeição. Jesus havia curado um homem – e era sábado! –, havia falado da beleza de escolher os últimos lugares e da verdadeira bondade, consistente em convidar para o banquete os aleijados, os coxos, os cegos e os pobres, que não podem retribuir o favor. Depois de ouvir atento, um dos que estavam à mesa exclama:
“Felizes os que irão sentar-se à mesa no Reino de Deus!”
O Reino de Deus, que é descrito por diversas imagens ao longo dos evangelhos, aqui é apresentado como uma mesa ao redor da qual se sentam os filhos e filhas do Pai. Felizes aqueles e aquelas que têm assento ao redor dessa mesa!
Ao ouvir isso, Jesus continua o papo a respeito do Reino, a respeito dessa mesa, desse banquete. Jesus diz que os convidados, cada hora e cada qual com uma desculpa, rejeitam o convite. No início da oração, posso me perguntar: ao convite para a amizade com Deus, ao convite para a relação de filho e filha com o Pai, como eu reajo? Aceito ou recuso?
“Comprei um terreno e tenho de dar uma olhada nele. Peço que me desculpe.” Quais terrenos, locais físicos ou mentais, eu não me disponho a abandonar, que seja por alguns momentos, para ocupar meu lugar à mesa como filho, como filha? “Comprei cinco juntas de bois e preciso ver se trabalham bem. Peço que me desculpe.” Quais bens – objetos, riquezas, cargos, teorias, pensamentos – têm minha exclusiva ou preponderante atenção, a ponto de impedir que eu tenha intimidade com Deus, a ponto de impossibilitar que eu me coloque à mesa para ouvi-Lo e comer do alimento que Ele pode me dar? “Acabei de casar e por isso não posso ir.” Quais são as pessoas, afetos, amores e paixões que me impedem de ouvir o chamado para a plenitude, de aceitar o convite para estar à mesa com o Amor que cria e recria?
Após o silêncio que permite responder com sinceridade a essas perguntas, talvez eu me sinta perdido(a), como se não houvesse mais tempo para aceitar o convite que Deus me faz, como se fosse tarde demais para dizer que sim, que quero me sentar à mesa com o Amor. Talvez eu pense que não sou mais digno(a) de ter com Deus a intimidade que têm aqueles que com Ele estão como que à mesa dum lar. Se me vier um tal sentimento, devo ouvir o que diz o anfitrião da imagem que Jesus traz.
Diz o patrão ao empregado: “Vá depressa pelas ruas e pelos becos da cidade e traga os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos.” E ainda: “Então vá pelas estradas e pelos caminhos e obrigue os que você encontrar ali a virem, a fim de que a minha casa fique cheia”.
O amor do Pai é desejoso de se dar, de se derramar. Não se contenta em convidar e esperar… deseja alcançar-nos pelo caminho. O Pai não quer que pensemos que à sua mesa se sentam só os primeiros convidados, os inteiros, os que já se encontram no caminho para sua casa… Não! “Traga os pobres, os aleijados, os cegos e os coxos!” Ele não se importa se eu hoje tenho nada a oferecer, se hoje me faltam pedaços, se não posso ver, se mal posso caminhar… “Vá pelas estradas e pelos caminhos!” Ele não se importa se eu não estou perto da casa onde Ele serve o banquete, se faz tempo que ando por outros caminhos, outras estradas, becos distantes do seu amor…
No silêncio da oração, demore-se na contemplação da busca que Deus faz por você, do tanto que Ele caminha para encontrar você pelo caminho, em estrada distante, mesmo que – e ainda mais quando – você caminha mal, com dificuldade, sem ver, desprovido(a) da percepção de sua dignidade incontestável. Depois de ter sentido que Ele o(a) alcançou, vá com Ele se sentar ao redor da mesa, degustar Sua presença ao longo do dia e da vida toda!
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte