Subir e descer o monte (Lucas 6, 12-19)
6 de setembro de 2016Emanuel, Deus conosco!
8 de setembro de 2016Jesus olhou para os seus discípulos e disse:
— Felizes são vocês, os pobres, pois o Reino de Deus é de vocês.
— Felizes são vocês que agora têm fome, pois vão ter fartura.
— Felizes são vocês que agora choram, pois vão rir.
— Felizes são vocês quando os odiarem, rejeitarem, insultarem e disserem que vocês são maus por serem seguidores do Filho do Homem. Fiquem felizes e muito alegres quando isso acontecer, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Pois os antepassados dessas pessoas fizeram essas mesmas coisas com os profetas.
— Mas ai de vocês que agora são ricos, pois já tiveram a sua vida boa.
— Ai de vocês que agora têm tudo, pois vão passar fome.
— Ai de vocês que agora estão rindo, pois vão chorar e se lamentar.
— Ai de vocês quando todos os elogiarem, pois os antepassados dessas pessoas também elogiaram os falsos profetas.
Vinde Espírito Santo e seja nosso auxílio para melhor entendimento do texto proposto para hoje. Que ele nos nos ajude a nos posicionar de acordo com o desejo do Mestre no tempo atual.
Pode ser muito duro de dizer e de ouvir, porém, parece-me que Jesus deixa claro que o Cristo veio para os pobres e necessitados. Para mim, isto é muito claro, tanto pelo texto de hoje, como pela passagem do início de sua vida pública, conforme narrada por Lucas, na qual se diz que Ele procurou e leu este texto de Isaías: “O Senhor me deu o seu Espírito. Ele me escolheu para levar boas notícias aos pobres e me enviou para anunciar a liberdade aos presos, dar vista aos cegos, libertar os que estão sendo oprimidos e anunciar que chegou o tempo em que o Senhor salvará o seu povo”, para depois anunciar: “Hoje se cumpriu o trecho das Escrituras Sagradas que vocês acabam de ouvir” (Lc 4, 16-20).
Poderíamos, então, perguntar, mas Deus não é Deus também dos ricos? Não é Deus das pessoas que estão de bem com a vida e que não passam necessidades? Ele é um Deus apenas dos sofredores? Com certeza Deus também é Deus dos ricos, pois Ele é um único Deus e, portanto, para todos Ele é Deus.
Ora, então poderíamos perguntar, mas Deus favorece alguns em detrimento de outros? Ele não é o Deus do amor e da misericórdia? Sim, Ele é o Deus do amor e da misericórdia. Jamais favoreceria alguns em detrimento de outros e Jesus nos deixou isto bem claro, quando disse: “Vocês ouviram o que foi dito: ‘Ame os seus amigos e odeie os seus inimigos.’ Mas eu lhes digo: amem os seus inimigos e orem pelos que perseguem vocês, para que vocês se tornem filhos do Pai de vocês, que está no céu. Porque ele faz com que o sol brilhe sobre os bons e sobre os maus e dá chuvas tanto para os que fazem o bem como para os que fazem o mal” (Mt 5, 43-45).
Portanto, parece-me, temos de abrir nosso coração e nossa mente para compreender esta aparente contradição.
Na minha oração, entendo que a chave da felicidade para o humano, mulheres e homens, é aceitar e receber Deus em seu coração e torná-lo participante de todas as suas relações. Mas pode acontecer que, mesmo tendo essa consciência, nós não consigamos vivê-la, uma vez que podemos ir construindo um deus próprio, e passemos a viver o engano de achar que estamos com o coração cheio de Deus, quando estaremos, na verdade, com o coração povoado por deuses.
Qualquer riqueza acumulada por nosso esforço próprio exigirá mais esforço para conservá-la. Qualquer pessoa que tenha adquirido um bem passa por esta experiência. No mínimo despenderá o esforço de pagar um imposto ou uma taxa, periodicamente.
Não há dúvida de que temos necessidade de possuir alguns bens. No modelo de sociedade econômica em que vivemos torna-se importante que uma família possua alguns bens, principalmente sua casa própria.
Analogamente, podemos pensar na aquisição de conhecimento, que é outro tipo de riqueza, do qual dependemos para o desenvolvimento de nossos trabalhos, além de nos ajudar a compreender o mundo. Haverá também necessidade, para mantê-lo sempre atualizado, do consumo de nosso tempo.
Outra coisa muito importante em nossa vida é o lazer. Sair, passear, divertir, encontrar os amigos etc. Também consumirá nosso tempo e precisará de nosso esforço para que aconteça.
Por estes caminhos podemos nos distrair e, como alguém que caminha numa trilha, irmos nos desviando e ficarmos perdidos. Receber elogios, por exemplo, é sempre agradável, porém consumir nosso tempo adquirindo conhecimentos, somente para ser elogiado pelos outros, estará enchendo nosso coração com o deus da vaidade.
Quando a aquisição de bens começa a ter uma importância muito grande em nossa vida, quando sentimos o poder que temos ao ficar mais ricos e gostamos disso, quando nosso tempo passa a ser todo dedicado ao acúmulo e o consumo de bens ou a se deleitar com os benefícios que eles nos trazem, quando o desejo de beleza leva à obsessão pela plástica perfeita estamos enchendo nosso coração com o deus dinheiro.
Às vezes não acumulamos nada, mas todo o nosso tempo e os recursos que temos são utilizados para nossa diversão. Sair para a balada, divertir com os amigos, viajar, enfim, curtir a vida, como muitos dizem, pode estar enchendo nosso coração com o deus diversão.
Ora, todas essas coisas são importantes, porém todas podem se tornar perdição. No texto de hoje, percebo Jesus nos alertando para isso.
Quando damos a Deus o espaço que é dele, nosso coração será preenchido com as riquezas que Ele nos dá. E as riquezas que Ele nos dá não acabam, nada pode destruí-las e a felicidade que vem com elas permanece para sempre.
Quando retiramos o espaço que é dele, para ocupá-lo com as nossas riquezas, fatalmente ficaremos frustrados e infelizes, pois nossas riquezas vão-se acabar, sem nenhuma dúvida.
Nossa tarefa para hoje será identificarmos algumas de nossas escolhas que tenham ocupado nosso tempo e nosso coração mais do que o razoável e, então, empenharmo-nos em reduzir nossa ocupação com isso, deixando o espaço vazio para Deus ocupá-lo.
Sejamos pobres para possuir o Reino de Deus. Tenhamos fome para sermos saciados por Ele. Guardemo-nos de muitas badalações para que Ele possa ser nosso regozijo e tenhamos certeza de que, mesmo que os outros não compreendam nossa escolha, o próprio Deus é que nos dará a recompensa.
Senhor Jesus Cristo, nosso único Mestre, ajude-nos a nos libertarmos de tudo que nos amarra às riquezas passageiras e guie-nos no caminho que nos leva às riquezas do Reino de Deus. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte