Ser grande (Lucas 13,18-21)
25 de outubro de 2016Deus abençoe aquele que vem em nome do Senhor!
27 de outubro de 2016Leitura: Lucas 13, 22-30
Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando na sua viagem para Jerusalém. Alguém perguntou:
— Senhor, são poucos os que vão ser salvos?
Jesus respondeu:
— Façam tudo para entrar pela porta estreita. Pois eu afirmo a vocês que muitos vão querer entrar, mas não poderão.
— O dono da casa vai se levantar e fechar a porta. Então vocês ficarão do lado de fora, batendo na porta e dizendo: “Senhor, nos deixe entrar!” E ele responderá: “Não sei de onde são vocês.” Aí vocês dirão: “Nós comemos e bebemos com o senhor. O senhor ensinou na nossa cidade.” Mas ele responderá: “Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal.” Quando vocês virem Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no Reino de Deus e vocês estiverem do lado de fora, então haverá choro e ranger de dentes de desespero. Muitos virão do Leste e do Oeste, do Norte e do Sul e vão sentar-se à mesa no Reino de Deus. E os que agora são os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos.
Oração:
Há um descompasso entre a pergunta que se faz a Jesus e a resposta que ele dá: alguém pergunta fazendo alusão ao número dos que serão salvos, mas Jesus responde com referência ao caminho que se deve trilhar para que alguém se salve.
Na fala de Jesus, percebo o carinho do convite: “não pense em números… depende de você… tente passar pela porta estreita“. A imagem da porta estreita parece ameaçadora, como se fosse impossível passar por ela, mas, na oração, Jesus diz: “É estreita, mas é uma porta. Não se entra numa casa pela janela, pela chaminé… eu o convido a entrar pela porta, caminhando, como alguém que foi convidado ou mora naquele lar”.
Imagino-me passando por uma porta estreita. De longe, ao avistar a porta, ela parece apenas uma fenda na parede, intransponível. Quanto mais me aproximo dela, mais percebo que essa abertura, de longe impossível de atravessar, é apenas estreita. Enfio meu braço, meu ombro… quando vou passar o tronco, percebo que minha barriga e minhas costas roçam os limites da porta, e o mesmo acontece quando vou passar a minha cabeça. Às vezes, espremer-me dói um pouco, mas, ao final, passo.
À minha mente e ao meu coração, Jesus fala: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo” (Jo 10, 9). Começo a entender que ele é a porta estreita. De longe, julgo que não posso entrar nessa relação, mas, quando me aproximo, percebo que a passagem é mais ampla. A estreiteza que eu sinto não é a porta que deseja barrar-me; é, antes, a experiência de sentir minhas limitações, meus contornos, minhas formas, meus pensamentos… passar por essa porta, da forma como me modelei, é impossível… tenho de me esforçar, de me espremer, e isso incomoda… e, às vezes, causa dor. Confrontar-me com meus limites, meus formatos e meus ângulos é doloroso.
A oração me faz ver as paisagens além da porta, essa sala e essa cozinha tão aconchegantes que estão lá dentro, onde se sentam tantas pessoas que, alegres, comem e conversam. De imediato, sinto o desejo de estar lá dentro e a disposição para tentar atravessar a porta que, de perto, é menos estreita do que parecia quando de longe eu olhava.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte