Pelas trilhas do amor e da entrega (Lucas 9,22-25)
2 de março de 2017Jesus e Levi (Lc 5, 27-32)
4 de março de 2017Então os discípulos de João Batista chegaram perto de Jesus e perguntaram:
— Por que é que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas os discípulos do senhor não jejuam?
Jesus respondeu:
— Vocês acham que os convidados de um casamento podem estar tristes enquanto o noivo está com eles? Claro que não! Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar!
Venha Espírito Santo e encha nossos corações com o fogo do seu amor. Ajude-nos a tomar consciência da Trindade que habita em nós e nos conduza na oração com o texto que a liturgia da Igreja propõe para hoje.
O trecho do evangelho de hoje é pequeno, simples e muito tocante.
Jesus se utiliza da representação de uma festa de casamento para explicar aos discípulos de João Batista a diferença de situação entre eles e os seus discípulos.
A presença de Jesus é motivo de celebração, de comemoração, de uma grande festa, portanto, não faz sentido seus discípulos jejuarem enquanto Ele estiver presente.
“Mas chegará o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; então sim eles vão jejuar”!
No contexto do evangelho, Jesus prenuncia sua morte e que, a partir dela, seus discípulos também jejuariam.
Pelo que lemos nos Atos dos Apóstolos, realmente o jejum era praticado após a morte e ressurreição de Jesus: “Então eles jejuaram, e oraram, e puseram as mãos sobre Barnabé e Saulo. E os enviaram na sua missão” (At 13, 3).
Ora, se o jejum deve ser praticado quando o noivo não está presente, mas cremos que a Trindade habita em nós, por que, então, devemos praticar o jejum?
Esta foi a questão que me veio à mente quando comecei a orar.
É verdade que o Senhor sempre está. Nós é que muitas vezes não estamos presentes. Não sintonizamos com nosso ser. Entramos em um ritmo imposto por muita coisa que nos é vendida como “a verdade”, mas que apenas nos desilude vez atrás de vez. E, a cada desilusão, alguma outra coisa nos é vendida como sendo a solução, mas também, ao final, nos frustra.
Lembro-me de um artigo de Frei Betto, no qual ele disse ter advertido os balconistas que o cercavam às portas das lojas, dizendo que estava apenas fazendo um passeio socrático. Diante dos olhares espantados, explicou: “Sócrates, filósofo grego que morreu no ano 399 antes de Cristo, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: ‘Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz’.”
Jesus, certa vez, disse: “Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária” (Lc 10, 41b-42a)
E assim continua sendo. Preocupamo-nos com coisas demais e deixamos o essencial nos escapar. Continuamos deixando que o Cristo seja retirado do meio de nós. Cuidamos de muita coisa que não nos traz a felicidade.
O jejum é um dos exercícios que nos ajuda a reencontrar o Cristo, a Trindade que vive em nós, que já está, mas que não reconhecemos.
Neste sentido, a primeira leitura de hoje (Is 58, 1-9a), além de linda, é muito significativa, e aconselho todos a lerem com muita atenção.
Deus desmascara, pela boca do profeta, o jejum falso que o povo estava fazendo. De que adiantava ficar passando fome, se, enquanto isto, ficavam cuidando dos negócios e explorando os empregados, brigando, discutindo e se agredindo? O jejum desejado por Deus é outro: “Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão. O jejum que me agrada é que vocês repartam a sua comida com os famintos, que recebam em casa os pobres que estão desabrigados, que deem roupas aos que não têm e que nunca deixem de socorrer os seus parentes”.
Ao final, Deus diz que, assim procedendo, eles serão sempre protegidos e que, quando pedirem-lhe ajuda, Ele dirá: “Estou aqui!”.
A tarefa para hoje é pensar em tudo aquilo que tem nos afastado de nosso ser, da possibilidade de encontrar a Trindade que habita em nós e fazer um firme propósito de praticar o jejum destas coisas, para conseguir ouvir a voz lá de dentro dizendo: “Estou aqui!”.
Maria, mãezinha querida e sempre presente, ajude-nos no caminho da humildade para encontrarmos o que realmente somos: filhos de Deus. Amém!
***
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte