O tempo de Deus
15 de julho de 2016XVII Domingo do Tempo Comum – Ano C
17 de julho de 2016Leitura: Mateus 12, 46-50
Quando Jesus ainda estava falando ao povo, a mãe e os irmãos dele chegaram. Ficaram do lado de fora e pediram para falar com ele. Então alguém disse a Jesus:
— Escute! A sua mãe e os seus irmãos estão lá fora e querem falar com o senhor.
Jesus perguntou:
— Quem é a minha mãe? E quem são os meus irmãos?
Então apontou para os seus discípulos e disse:
— Vejam! Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos. Pois quem faz a vontade do meu Pai, que está no céu, é meu irmão, minha irmã e minha mãe.
Oração:
Hoje temos diante de nós um dos vários episódios em que Jesus diz algo desconcertante. Ninguém poderia imaginar que, frente a um cometário tão simples (como é o anúncio de que sua família está lá fora e quer lhe falar), Jesus pudesse começar a tocar num assunto tão sensível. Que terá pensado quem ouviu aquilo? Entenderam que Jesus relativizava sua família? Ficaram à vontade com a possibilidade de serem incluídos na família dele?
A família tem sido sempre um núcleo social bastante debatido. Vê-se que, entre os judeus, a coesão familiar era muito importante, pois o próprio Deus havia inspirado seu profeta a garantir o respeito dos filhos por seus pais. Por que, Jesus, você ousa falar de uma questão tão delicada? Não tem medo de se complicar? Não vai ficar mal falado? Vai correr o risco de ser mal interpretado e perder a fidelidade de seus seguidores?
Jesus se complicou. Ficou mal falado. Correu o risco e foi mal interpretado. Perdeu a fidelidade de alguns seguidores. Isso porque, para ele, em primeiro lugar vinha a transmissão perfeita da vontade do Pai. Todos tinham de entender, antes e acima de tudo, os detalhes do verdadeiro Amor. Um desses pormenores era este: que não há relação mais forte e próxima com Deus senão a escuta à Palavra. Escuta que é se perguntar o que Ele deseja e, depois, viver segundo a resposta. Quem se pergunta pela vontade do Pai e se dispõe a dar ouvidos torna-se parte da família. Jesus amplia, portanto, o conceito familiar. Corre o risco de criar a confusão para deixar claro: todo aquele e toda aquela que gosta de Deus, deseja conhecê-Lo e vive em busca de sua Palavra é parte da minha família. Não é primo distante nem agregado, não é sogra nem cunhado. “É meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Eu sou da família de Jesus? Se sim, quem eu sou nessa família? Talvez eu seja aquele que cuida da vida do Reino, que cresce, frágil, desprotegida… sou a mãe de Jesus talvez. Talvez eu seja aquele que caminha com o Reino e tenta ajudá-lo, às vezes sem compreendê-lo muito bem, às vezes com mal entendidos, mas sempre com amor… sou irmão de Jesus talvez. Quem eu sou na família? Onde me reúno com minha família? Quem são os outros membros dela?
A oração nos dê a coragem de ser desconcertantes como Jesus era quando via que não havia outra forma de revelar as minúcias do Amor do Pai. E que nós saibamos ser família com todos os que buscam ouvir a Voz de quem fala de alegria e ama cada um e cada uma.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte