João 5,31-47
15 de março de 2018Jamais alguém falou assim! (Jo 7, 40-53)
17 de março de 2018Depois disso, Jesus começou a andar pela Galileia; ele não queria andar pela Judeia, pois os líderes judeus dali estavam querendo matá-lo. Aconteceu que a festa dos judeus chamada Festa das Barracas estava perto.
Depois que os seus irmãos foram à festa, Jesus também foi, mas fez isso em segredo e não publicamente.
Algumas pessoas que moravam em Jerusalém perguntavam:
— Não é este o homem que estão querendo matar? Vejam! Ele está falando em público, e ninguém diz nada contra ele! Será que as autoridades sabem mesmo que ele é o Messias? No entanto, quando o Messias vier, ninguém saberá de onde ele é; e nós sabemos de onde este homem vem.
Quando estava ensinando no pátio do Templo, Jesus disse bem alto:
— Será que vocês me conhecem mesmo e sabem de onde eu sou? Eu não vim por minha própria conta. Aquele que me enviou é verdadeiro, porém vocês não o conhecem. Mas eu o conheço porque venho dele e fui mandado por ele.
Então quiseram prender Jesus, mas ninguém fez isso porque a sua hora ainda não tinha chegado.
Que o Espírito Santo nos auxilie a penetrar no sentido mais profundo que este texto nos traz.
Jesus está às voltas com a dificuldade de aceitação de sua missão. Não dele em relação a ela, mas dos outros em compreendê-la e aceitá-la. Ele sente, na pele, o preconceito por ser uma pessoa de origem humilde, vinda da periferia do poder. Afinal eles diziam: “nós sabemos de onde este homem vem”. Como poderia um simples carpinteiro, vindo de Nazaré, pequena cidade da Galiléia, de onde não se esperava nada de bom (cf. Jo 1,46), ser o Messias?
Senhor, apesar de tantos anos de sua vida terrena entre nós, sua lição não está completamente entendida. Mesmo a nós, que o proclamamos Messias, o Filho de Deus, e nos rotulamos Cristãos, ainda falta muito a aprender.
Não temos conseguido assimilar a lógica da justiça de seu Reino. Ainda queremos eliminar aquele que é diferente, aquele que incomoda, aquele que diz coisas que não compreendemos bem ou que questiona nossas “verdades”.
O que o Senhor acha? Se você estivesse aqui de novo, eu iria duvidar de você? Ou eu conseguiria aceitar sua mensagem, apesar de sua condição de pessoa marginalizada?
“Aquele que me enviou é verdadeiro, porém vocês não o conhecem”.
O início do texto nos diz que os líderes dos judeus queriam matá-lo. Ora, Senhor, realmente todo aquele que deseja matar não conhece quem o enviou. Sua missão é dar vida plena, portanto quem o enviou e lhe deu esta missão não é conhecido pelos que têm sede de matar.
O Senhor passou a vida ensinando que a justiça do Reino, a primeira coisa que devemos buscar, é o estabelecimento da misericórdia. Não me resta dúvida sobre isto. Também nos ensinou que a misericórdia que deseja é algo muito prático e que consiste em fazer todo o esforço necessário para resgatar aquele que está perdido, mesmo que nos pareça loucura, como abandonar noventa e nove ovelhas no deserto para ir em busca de uma que se perdeu (Mt 15,4) ou se fazer o mais próximo do ferido para curar suas feridas (Mt 10, 25-37), ou, ainda, ser perfeito como o Pai que está nos Céus, porque ele faz nascer o sol sobre os maus e os bons e cair a chuva sobre justos e injustos (Mt 5, 43-48).
Portanto, Senhor, muito temos a fazer ainda, porque, por exemplo, a sociedade em que vivemos, cada vez mais, entende que a solução para resolver problemas de segurança é aumentar a violência contra os marginalizados. Algo muito distante de sua mensagem.
Às vezes podemos pensar que a prática da violência é algo longe de nós e que nada temos a fazer, porém temos muito a fazer sim. Toda prática de uma sociedade é algo que cada um, em alguma medida participa. Como nos foi ensinado no catecismo, pecamos em pensamentos, por palavras, por atos ou omissões.
Se presenciamos violência doméstica de algum vizinho e nada fazemos, porque “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, estamos contribuindo para o aumento da violência.
Se concordamos com uma violência policial, às vezes até com umas palavrinhas, tipo “vamos ver se apanhando aprende”, estamos contribuindo para o aumento da violência e, muitas vezes, educando outros que a perpetuarão.
São muitas situações, às vezes mais sutis que as exemplificadas acima, em que contribuímos para o aumento ou perpetuação da violência. Jesus foi muito taxativo ao nos observar que o pecado de matar começa bem antes da consumação do ato em si, começa quando instalamos ou deixamos que seja instalado, em nosso coração, o rancor por alguém: “vocês ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não mate. Quem matar será julgado.’ Mas eu lhes digo que qualquer um que ficar com raiva do seu irmão será julgado.” (Mt 5,21-22a).
Então, como lição para hoje, devemos identificar os rancores que estamos instalando ou que já estão instalados em nossos corações e apresentá-los ao Senhor, deixando que ele nos cure destes males.
Hoje, rezando com este texto, Senhor, estou impactado com o brutal assassinato de Marielle Franco na cidade do Rio de Janeiro. Uma pessoa que se esforçava para conseguir soluções que trouxessem mais paz para tantos marginalizados encontra o mesmo ódio que o Senhor encontrou entre os líderes judeus que o queriam matar. Receba sua alma, reconforte seus familiares e tenha piedade de nós, Senhor, e nos ajude a construir uma sociedade mais fraterna e humana. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte