Tecendo as Escrituras da vida (Lucas 24, 13-35)
19 de abril de 2017“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho” Mc 16,9-15
22 de abril de 2017Depois disso, Jesus apareceu outra vez aos seus discípulos, na beira do lago da Galileia. Foi assim que aconteceu:
Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado “o Gêmeo”; Natanael, que era de Caná da Galileia; os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos. Simão Pedro disse aos outros:
— Eu vou pescar.
— Nós também vamos pescar com você! — disseram eles.
Então foram todos e subiram no barco, mas naquela noite não pescaram nada. De manhã, quando começava a clarear, Jesus estava na praia. Porém eles não sabiam que era ele. Então Jesus perguntou:
— Moços, vocês pescaram alguma coisa?
— Nada! — responderam eles.
— Joguem a rede do lado direito do barco, que vocês acharão peixe! — disse Jesus.
Eles jogaram a rede e logo depois já não conseguiam puxá-la para dentro do barco, por causa da grande quantidade de peixes que havia nela. Aí o discípulo que Jesus amava disse a Pedro:
— É o Senhor Jesus!
Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a capa, pois havia tirado a roupa, e se jogou na água. Os outros discípulos foram no barco, puxando a rede com os peixes, pois estavam somente a uns cem metros da praia. Quando saíram do barco, viram ali uma pequena fogueira, com alguns peixes em cima das brasas. E também havia pão. Então Jesus disse:
— Tragam alguns desses peixes que vocês acabaram de pescar.
Aí Simão Pedro subiu no barco e arrastou a rede para a terra. Ela estava cheia, com cento e cinquenta e três peixes grandes, e mesmo assim não se rebentou. Jesus disse:
— Venham comer!
Nenhum deles tinha coragem de perguntar quem ele era, pois sabiam que era o Senhor. Então Jesus veio, pegou o pão e deu a eles. E fez a mesma coisa com os peixes.
Foi esta a terceira vez que Jesus, depois de ter sido ressuscitado, apareceu aos seus discípulos.
Espírito Santo, que a palavra hoje rezada inunde nosso coração com as luzes da ressurreição e nos permita participar do mistério vivido pelos primeiros discípulos aos quais Jesus se manifestou, alegrando-nos, de tal modo, que continuemos sendo proclamadores e testemunhas da vida que vence a morte.
O contexto do evangelho que nos é apresentado hoje pode, facilmente, ser encaixado em vários momentos de nossas vidas. Vamos entender a situação.
No capítulo 20 do evangelho segundo João, há três manifestações de Jesus ressuscitado. A primeira a Maria Madalena (Jo 20, 14-16), a segunda aos discípulos reunidos (Jo 20, 19) e a terceira, uma semana depois, aos discípulos reunidos e com a presença de Tomé, que não estava presente na manifestação anterior (Jo 20, 26).
No capítulo 20, o evangelista finaliza sua narrativa do evangelho (Jo 20, 30-31), porém, há ainda o capítulo 21, como acréscimo.
Considero este acréscimo de enorme riqueza, pois penso que foi escrito especialmente para nós, as comunidades que viriam depois e precisavam ter o conhecimento de mais esta experiência dos primeiros.
Primeiramente, pensemos naqueles que participaram da experiência. Foram sete discípulos, dos quais cinco nos são apresentados pelo nome e “mais dois” que não foram nominados. Acho que devemos nos fazer participantes dessa experiência no lugar destes dois. Eles são todos aqueles que viriam pela frente e que o evangelista não poderia nominar, pois não os conhecia.
Após apresentar os participantes, o texto diz que Pedro resolveu ir pescar. A pesca era a antiga profissão de Pedro. Representava seu dia a dia antes de conhecer Jesus de Nazaré, antes de segui-lo em suas andanças pela Galileia, até sua morte em Jerusalém. Mesmo tendo sido evangelizado por Jesus, tendo presenciado sua manifestação após a ressurreição por, pelo menos, duas vezes, Pedro resolve desistir de tudo, e os outros o seguem.
Quando Pedro diz “vou pescar”, ele expressa sua decisão de voltar à sua antiga vida de pescador, abandonando a continuidade do projeto de Jesus. Esta é uma das possíveis interpretações da expressão utilizada em grego, no original deste texto, e que me ajuda muito na oração.
Os primeiros seguidores de Jesus, aqueles que tiveram contato com Ele em sua vida terrena e presenciaram coisas maravilhosas que Ele realizou, também sentiram desânimo e quiseram largar tudo. A humildade para relatar esta experiência é uma riqueza muito grande para nós que viemos depois.
Quando estivermos desanimados, com vontade de largar tudo, desiludidos com fracassos em nossas tentativas de evangelizar, vivendo sem intensidade os valores do evangelho, devemos nos lembrar dessa experiência. Escutar, reconectar-se, manter a esperança e mudar a forma de fazer. Este é o conteúdo central da minha oração de hoje.
Inicialmente, quando li o texto, pareceu-me muito estranho que estes pescadores experimentados, depois de uma noite frustrante, sem pescarem nada, estivessem de bom humor para atenderem ao comando de um qualquer que lhes grita da praia. Sim, até aquele momento, eles não haviam reconhecido Jesus. Ele era um qualquer.
Escutar envolve o sentido do ouvir, mas, principalmente, o desejo de atender ao que foi falado, ao que foi dito, e aqueles discípulos escutaram o comando do homem que lhes gritou da praia. Prontamente, lançaram a rede onde lhes fora ordenado. O que vai no coração precede o que está no intelecto. É o coração que reconhece a voz daquele que lhe ordena. Quem está na margem, embora não identificado, não é um estranho. Há uma reconexão das experiências de suas vidas junto ao Mestre, que lhes acende a esperança. Então, os discípulos acreditam e fazem algo diferente: jogam a rede numa hora improvável, de manhã, momento em que deveriam recolher o barco.
Na alegria de comemorar a pesca boa, reconhecem que ela fora alcançada porque é o Senhor quem a comandou.
A desconexão com a causa de Jesus os fez retornar a uma vida frustrante, a escuta atenta lhes trouxe uma esperança renovada, devolveu-lhes a alegria e os reconectou com a vida em Cristo.
No silêncio interior oracional, lembremo-nos de nossas experiências semelhantes a esta e identifiquemos a voz do Mestre. Este é um exercício espiritual importante, pois traz luz às manifestações de Jesus em nossa vida. Muitas vezes elas ocorreram, mas nós não o reconhecemos.
Ele continua nos pedindo para “jogar a rede do lado direito”, mas, sem escutá-lo, podemos estar “jogando a rede do lado errado” e vivendo frustrados.
Maria, mãezinha querida, você que esteve ao pé da cruz até o último suspiro de Jesus, auxilie-nos no aprendizado de escutar seu Filho. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte