Necessidade de rezar sempre (Lc 18, 1-8)
15 de novembro de 2014Vamos descer da árvore? (Lc 19, 1-10)
18 de novembro de 2014Quando Jesus se aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo. Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. Então o cego gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” As pessoas que iam na frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de Davi, tem piedade de mim!”
Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele. Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: “Que queres que eu faça por ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. Jesus disse: “Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. No mesmo instante, o cego começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o povo deu louvores a Deus.
Este trecho do evangelho é muito estimulante. São vários elementos colocados de forma muito intensa pelo evangelista.
Na oração de hoje, chamou-me a atenção o “enxergar de novo”. O termo é repetido três vezes. O cego pede: “quero enxergar de novo”, Jesus diz: “enxerga, pois, de novo” e o evangelista testemunha: “o cego começou a ver de novo”.
No sentido literal da palavra, eu sempre enxerguei. Meus olhos sempre viram as coisas, as maravilhas que Deus nos concedeu, as pessoas, as árvores, os pássaros, os animais, o céu, o sol, a lua e tantas outras coisas. Fiquei imaginando se eu, de repente, não pudesse enxergar nada disso. Quanta saudade, quanto desejo eu sentiria de poder voltar a ver todas essas belezas.
O cego, conforme descrito neste trecho, deixou de enxergar algum dia e foi parar na “beira do caminho, pedindo esmolas”. Deixar de enxergar retirou-lhe a possibilidade de ter uma vida plena. Ele já não é íntegro, no sentido de que lhe falta aquilo que um dia fez parte do que é. Então, passa por ele Jesus, Aquele que veio para que todos vivam plenamente, que tem o poder de restaurar sua visão, tudo o que ele mais queria. Nada conseguiu deter o cego de se aproximar de Jesus, e fazer seu pedido.
Mas, para além do sentido literal da palavra, quais são as cegueiras que podemos apresentar a Jesus?
Penso que o convite da oração de hoje está dividido em três passos:
Primeiro, tomar consciência de tudo o que perdemos ou estamos perdendo e que nos leva para a beira do caminho, à margem de uma vida plena.
Às vezes, nem sabemos o que é vida plena, não é mesmo? Nesta sociedade consumista em que vivemos, somos, constantemente, levados a pensar que a plenitude está na riqueza e isso, parece-me, nos empurra, ainda mais, para a beira do caminho. No entanto, alguns elementos me ajudam a retomar o rumo de uma vida plena.
Um desses elementos é a paz de Cristo, uma paz que não significa ausência de conflitos. Ela é, essencialmente, conseguida pela integridade e pela coerência. A partir delas, reconhecendo-se filho de Deus, falar e agir como tal, tendo consciência das consequências disso: acolher o outro também como filho de Deus que precisa ser respeitado e cuidado, assim como toda a natureza, dom de Deus, precisa ser respeitada e cuidada.
Um outro elemento são as três virtudes teologais, tão bem apresentadas por São Paulo no capitulo 13 da primeira carta aos coríntios: a fé, a esperança e o amor. Virtudes que nos possibilitam viver, plenamente, como filhos de Deus.
E o outro elemento é a alegria, que não é necessariamente ficar rindo de tudo, mas que se caracteriza por tratar as coisas com leveza, com suavidade, tomando a consciência de que Deus está nos suportando, é Ele que nos conduz e anima, uma vez que a Trindade habita em nós.
Depois de tomar consciência de tudo o que perdi ou estou perdendo, o segundo passo é identificar as forças que estão me impedindo de retomar a vida plena, aquelas que não me deixam levantar e apresentar a Jesus a minha cegueira. O que me tem feito perder a fé e a esperança? O que me tem impedido de viver o amor, a partilha, o cuidado com os outros? O que me tem tornado pesado, rancoroso, medroso, não me permitindo viver com alegria?
E, por fim, o terceiro passo é enfrentar essas forças que me separam da vida plena – como o cego fez com os que o queriam calar – e me colocar diante de Jesus, apresentando a Ele tudo o que recolhi nos passos anteriores.
Peçamos a Maria que nos acompanhe nesta caminhada, a fim de encontrarmos novamente a luz que cure nossas cegueiras. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG