O Amor dá o seu melhor
26 de março de 2018Senhor, será que sou eu?
28 de março de 2018Leitura: João 13, 21-33.36-38
Depois de dizer isso, Jesus ficou muito aflito e declarou abertamente aos discípulos:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: um de vocês vai me trair.
Então eles olharam uns para os outros, sem saber de quem ele estava falando. Ao lado de Jesus estava sentado um deles, a quem Jesus amava. Simão Pedro fez um sinal para ele e disse:
— Pergunte de quem o Mestre está falando.
Então aquele discípulo chegou mais perto de Jesus e perguntou:
— Senhor, quem é ele?
— É aquele a quem vou dar um pedaço de pão passado no molho! — respondeu Jesus.
Em seguida pegou um pedaço de pão, passou no molho e deu a Judas, filho de Simão Iscariotes. E assim que Judas recebeu o pão, Satanás entrou nele. Então Jesus disse a Judas:
— O que você vai fazer faça logo!
Nenhum dos que estavam à mesa entendeu por que Jesus disse isso. Como era Judas que tomava conta da bolsa do dinheiro, alguns pensaram que Jesus tinha mandado que ele comprasse alguma coisa para a festa ou desse alguma ajuda aos pobres.
Judas recebeu o pão e saiu logo. E era noite.
Quando Judas saiu, Jesus disse:
— Agora a natureza divina do Filho do Homem é revelada, e por meio dele é revelada também a natureza gloriosa de Deus. E, se por meio dele a natureza gloriosa de Deus for revelada, então Deus revelará em si mesmo a natureza divina do Filho do Homem. E Deus fará isso agora mesmo. Meus filhos, não vou ficar com vocês por muito tempo. Vocês vão me procurar, mas eu digo agora o que já disse aos líderes judeus: vocês não podem ir para onde eu vou.
Simão Pedro perguntou a Jesus:
— Senhor, para onde é que o senhor vai?
Jesus respondeu:
— Você não pode ir agora para onde eu vou. Um dia você poderá me seguir!
Pedro tornou a perguntar:
— Senhor, por que eu não posso segui-lo agora? Eu estou pronto para morrer pelo senhor!
— Está mesmo? — perguntou Jesus. — Pois eu afirmo a você que isto é verdade: antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece.
Oração:
Jesus acabou de lavar os pés de seus discípulos. Todos devem ter ficado escandalizados com sua posição e postura de servo a lavar-lhes os pés. Pedro é quem verbaliza. Jesus insiste. É preciso que seus amigos, os mais queridos, entendam que o amor do qual ele fala não é abstrato. É um amor que coloca quem ama na posição de servir…
Então tem início a cena que o evangelho de hoje nos dá para a oração. Coloquemo-nos lá. Um de vocês vai me trair. Por que os discípulos ficam tão curiosos para saber de quem Jesus fala? Claro, é uma acusação grave… teriam todos pensado “Qualquer um, menos eu!” ou pensavam, apreensivos, “Ele deve saber que, por dentro, oscilo”? Não sabemos. Mas, quando me coloco na cena, o que eu sinto quando Jesus diz “Um de vocês vai me trair”? Como está hoje minha fidelidade? Estou com Jesus, reunido com seus amigos… mas estou mesmo ali, ao lado, sabendo quem ele é, apostando em sua proposta? Ou vivo a vida de fé, nesse momento, sem entender muito o sentido dessa caminhada, sem saber se é ali onde eu gostaria de estar? Sem ter muita certeza de que o que ele me diz me convence… seja qual for o nosso sentimento, olhemos para ele com calma. Seja qual for o sentimento, estamos à mesa com um amigo.
Ao lado de Jesus estava sentado um deles, a quem Jesus amava. Simão Pedro fez um sinal para ele e disse: — Pergunte de quem o Mestre está falando. A figura do discípulo muito amado pode ser também uma com a qual faremos a oração de hoje. Sinto-me próximo de Jesus? Algumas traduções trazem que esse discípulo, “reclinando-se sobre o peito de Jesus”, fez a pergunta. Sou alguém que chega o ouvido “sobre o peito de Jesus”? Sou um discípulo que faz perguntas ao coração de Deus? Tenho essa proximidade? Quem são as pessoas que desejam saber sobre Ele e que, por medo, precaução ou qualquer razão, em vez de chegarem elas próprias perto d’Ele, pedem a mim que o faça? Percebo o meu papel de intercessor do contato com Ele?
Eu estou pronto para morrer pelo senhor! — Está mesmo? — perguntou Jesus. — Pois eu afirmo a você que isto é verdade: antes que o galo cante, você dirá três vezes que não me conhece. O fim da passagem revela outro discípulo, Pedro, impetuoso. Jura que pode ir a qualquer lugar com Jesus, pois está disposto a morrer se for preciso. Jesus é paciente. Conhece seu amigo. Prevê a traição desse também, que dirá que não o conhece. O medo pesa e as pessoas não conseguem viver segundo o amor que sentem – Jesus sabe disso. Como me vejo com Pedro? Sou também um amigo que não tem medo de expor o amor que sinto, a fidelidade que desejo viver? Na prática, consigo perseverar mais que Pedro ou me encontro com Pedro nos pátios onde negamos que conhecemos Jesus, que somos parte de seu grupo? Jesus prevê a decepção, mas não termina ali a amizade. Ele continua com Pedro, que inclusive tenta defendê-lo mais tarde, violentamente. Jesus sabe que Pedro o ama. Mas sabe também que Pedro não está preparado para expressar esse amor sob o peso do medo, sob a ameaça da morte. Mesmo assim, não o afasta nem se afasta preventivamente. Vive cada momento com seu amigo, disposto a receber o amor que ele consegue dar naquele momento. Saberá que Pedro, um dia, bem mais adiante, dará a vida por esse amor?
Hoje, na oração, peçamos ao Espírito a graça de rezar com os discípulos de Jesus… há em nós quiçá um pouco dos três – Judas, o discípulo amado e Pedro. Ele confia em nós, mas há partes de nós traiçoeiras – não entendemos os planos d’Ele ou não concordamos, daí saímos, vendemos o Amor por preço barato… nos arrependemos, mas nem sempre conseguimos voltar a olhar para o Amor, cometendo então o que talvez tenha sido a maior falta de Judas – a falta de retorno, de olhar para trás, para Ele. Noutros momentos, somos como o discípulo amado: somos tão próximos d’Ele que podemos ouvir-Lhe o coração, o que Ele tem a dizer de mais íntimo… somos, nesses momentos, os que podem levar aos outros o que Ele quer dizer. Noutras vezes, somos Pedro. Juramos que temos amor, e de fato temos, mas estamos dispostos a demonstrá-lo de uma forma inconveniente. Ainda não entendemos que a forma que Ele tem de amar é não violenta, silenciosa, como uma semente que se perde para gerar o Reino. Peçamos ao Espírito então… quando formos Judas, que saibamos olhar, após o arrependimento, para Jesus… quando formos Pedro, que aprendamos o tipo de amor que Ele deseja que vivamos, até que estejamos dispostos a expressá-lo até com a entrega da vida… quando formos o discípulo amado, que escutemos o que há no segredo do coração amoroso de Deus e que encontremos as palavras para dizê-lo a todos.
João Gustavo Henriques de Morais Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte