Chamados à conversão (Mt 14,1-12)
4 de agosto de 2018“Então os dois subiram no barco, e o vento se acalmou”
7 de agosto de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, toca meu coração
e faze com que nele a Palavra
encontre um lugar para crescer.
Espírito Santo, toca minha vontade, para que minhas ações
sejam impulsionadas pelo Evangelho.
Espírito Santo, toca minha vida,
para que possa encontrar-me com meus irmãos
e formar comunidade, anunciando a vida nova que Jesus nos traz.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 6.24-35
O povo procura Jesus
24Quando viram que Jesus e os seus discípulos não estavam ali, subiram nos barcos e saíram para Cafarnaum a fim de procurá-lo.
Jesus, o pão da vida
25A multidão encontrou Jesus no lado oeste do lago, e perguntaram a ele:
— Mestre, quando foi que o senhor chegou aqui?
26Jesus respondeu:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: vocês estão me procurando porque comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres. 27Não trabalhem a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna. O Filho do Homem dará essa comida a vocês porque Deus, o Pai, deu provas de que ele tem autoridade.
28— O que é que Deus quer que a gente faça? — perguntaram eles.
29 — Ele quer que vocês creiam naquele que ele enviou! — respondeu Jesus.
30Eles disseram:
— Que milagre o senhor vai fazer para a gente ver e crer no senhor? O que é que o senhor pode fazer? 31Os nossos antepassados comeram o maná no deserto, como dizem as Escrituras Sagradas: “Do céu ele deu pão para eles comerem.”
32Jesus disse:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: não foi Moisés quem deu a vocês o pão do céu, pois quem dá o verdadeiro pão do céu é o meu Pai. 33Porque o pão que Deus dá é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34— Queremos que o senhor nos dê sempre desse pão! — pediram eles.
35Jesus respondeu:
— Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· O que fez a multidão quando percebeu que Jesus e seus discípulos já não estavam ali?
· Por que as pessoas buscam Jesus? O que Jesus esperava que as pessoas buscassem?
· Segundo Jesus, o que é que Deus quer que as pessoas façam?
· O que pedem os judeus para poder crer em Jesus?
· Que relação existe entre o maná ou pão do céu que receberam de Moisés no deserto, e o que Jesus oferece?
· O que os judeus pedem a Jesus e por quê?
· Como Jesus se revela no final do relato e que relação existe entre comer e crer?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
Para poder acompanhar o fio da narrativa do evangelho de hoje, é preciso observar que em Jo 6.16-33 (omitido pela leitura litúrgica) se narra que, ao entardecer, os discípulos descem à margem e embarcam rumo
a Cafarnaum, que se encontra na outra margem. Quando anoitece, Jesus vai caminhando sobre as águas e alcança o barco com os discípulos, aproximando-se da outra margem. Na manhã seguinte, “quando viram que Jesus e os seus discípulos não estavam ali, subiram nos barcos e saíram para Cafarnaum a fim de procurá-lo” (Jo 6.24). Portanto, a cena do evangelho de hoje se desenvolve “na outra margem”, em Cafarnaum, onde a multidão finalmente encontrou Jesus. E como não o haviam visto partir no barco com seus discípulos, ao encontrá-lo, a primeira coisa que lhe perguntam é: “Mestre, quando foi que o senhor chegou aqui?” (6.25).
Jesus não responde à pergunta, mas os questiona quanto à motivação pela qual o buscam: não por terem visto o “sinal”, mas porque “comeram os pães e ficaram satisfeitos”, ou seja, porque resolveram o problema da alimentação diária. Conseguintemente, os judeus não interpretaram o sinal nem puderam ir além dele. Fixaram-se no fato externo e no efeito subjetivo favorável que lhes proporcionou: comeram e saciaram-se. E pronto. De fato, é preciso ter fé para ver os atos de Jesus como sinais reveladores de sua pessoa.
Jesus completa o questionamento anterior com uma proposta: trabalhar não a fim de conseguir a comida que se estraga, mas a fim de conseguir a comida que dura para a vida eterna. Aqui aparece algo típico do evangelho de João, como é o falar em dois níveis de realidade e de significação. De um lado, temos o pão ou alimento comum, que se refere tanto ao que se ganha com o trabalho quanto ao que receberam milagrosamente das mãos de Jesus: é perecedouro, destrói-se, não dura para sempre, como a própria vida que alimenta. Contudo, existe outro alimento que não se destrói, que não perece, mas que permanece até a vida eterna. E quem lhes dará esse alimento? O “Filho do Homem”, título que João reserva para referir-se a Jesus em sua condição gloriosa. E podemos confiar nele, porque foi “chancelado” pelo Pai, tem o selo de Deus que o credencia.
Jesus havia-os aconselhado a operar ou trabalhar pela comida que não perece. Agora “eles” lhe perguntam: “O que é que Deus quer que a gente faça?” Se lermos esta pergunta levando em conta o mundo judaico daquele tempo, ela poderia referir-se, como afirma L. H. Rivas, às obras da Lei, ou seja, às obras mandadas por Deus em sua Lei ou Tora. J. Ratzinger pensa também na referência à Lei, mas devido à sua relação simbólica com o pão, pois “no desenvolvimento interno do pensamento judaico, foi-se tornando cada vez mais claro que o verdadeiro pão do céu, que alimentou e alimenta Israel, é justamente a Lei, a palavra de Deus”.
O certo é que a resposta de Jesus nos orienta claramente para a fé nele, pois Deus “quer que vocês creiam naquele que ele enviou!” (6.29).
Prosseguindo com o duplo nível de significação, vemos, então, que há um pão, uma vida e uma obra ou ação humana destinados a perecer, não duráveis; ao passo que há também um pão, uma vida e uma obra ou ação humana perduráveis, não perecedouros. Todos vêm de Deus, mas esta última é o dom superior e definitivo que o Pai nos dá em Jesus.
Jesus pediu aos judeus que cressem nele como “o enviado do Pai”. Eles, porém, querem ver um sinal e uma obra da parte de Jesus, como condição para poder crer nele. (“Que milagre o senhor vai fazer para a gente ver e crer no senhor? O que é que o senhor pode fazer?” Jo 6.30). E apresentam como exemplo de sinal e de obra o maná que Deus deu a comer a seus antepassados por intercessão de Moisés. Com esta pergunta dos judeus, voltamos ao princípio, ao tema do sinal e da obra. De fato, Jesus fez um sinal claro: a multiplicação dos pães. Agora cabe aos judeus realizar a obra: simplesmente crer em Jesus como enviado do Pai. Por sua vez, os judeus pedem para ver um sinal e uma obra de Jesus para crer nele.
Jesus dobra a aposta e responde-lhes que não foi Moisés, mas seu Pai quem dá o verdadeiro pão do céu. De modo indireto, proclamou-se como Filho de Deus, a quem se referiu como “meu Pai”. Ao mesmo tempo, notemos que o verbo “dar” está no presente: o Pai é quem dá, está dando; e o que ele dá é o verdadeiro pão do céu. Portanto, o alimento que receberam no deserto (e na multiplicação dos pães) é somente imagem-sinal do verdadeiro pão de Deus que desce do céu e dá vida ao mundo. Com isso Jesus conseguiu seu objetivo: fazê-los desejar este pão de Deus, pois pedem que lhes seja sempre concedido. A este pedido, segue-se, então, a
proclamação da identidade entre o pão e Jesus: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede” (6.35).
O que o Senhor me diz no texto?
Hoje temos a sensação de que nada dura para sempre. Por exemplo, segundo os especialistas, a duração média de um telefone celular é de vinte meses, e a de um computador, três anos. No entanto, o que nos custa reconhecer é que não somente as coisas passam, mas também a vida mesma se esvai. Quando somos jovens, parece-nos que nunca deixaremos de sê-lo, mas “o tempo passa e vamos ficando velhos”, como diz uma canção (Mercedes Sosa). Se temos uma certeza é a de que a vida nos foi dada com data de validade.
Então, não há nada que dure para sempre, que não passe e não pereça? Certamente existe, e Jesus nos fala disto no evangelho de hoje. Lembremos que o pão é um símbolo da vida, e que a fome é a expressão do desejo de viver. Pois bem, em primeiro lugar, é preciso reconhecer não só a necessidade, mas também a insuficiência do pão material para satisfazer o desejo de viver que mora em todo coração humano. Jesus convida-nos a isto ao dizer que tanto o pão material quanto a vida que este alimenta são perecedouros, ou seja, tendem a desaparecer, tendem à destruição. Segue-se, então, o convite a passar da necessidade do alimento terreno para o desejo profundo de um alimento que dure para sempre, que não pereça. Então Jesus vem ao nosso encontro com a oferta de um pão e de uma vida que nos permitem superar a data de vencimento, que nos abrem à esperança da vida eterna.
Chegados a este nível, falta subir novo degrau, a fim de passar para o mundo da graça e do amor de Deus; porque seria um erro pensar que este pão descido do céu e esta vida eterna podem ser conquistados pelo meu trabalho, com minhas obras, como ganho o pão de cada dia. Não, é puro dom de Deus e só posso pedi-lo na oração e dispor meu coração a recebê-lo. A fé, portanto, é o caminho ou a escada que nos permite ascender da necessidade do material, superando a mentalidade consumista, para reconhecer que tudo é dom de Deus. E mais ainda, a fé em Jesus é que nos abre à possibilidade de ter aquela vida que não passa, que dura para sempre, porque se alimenta com um pão de vida eterna. E o que me garante esta vida para além da morte é o amor de Deus manifestado em Cristo; porque o amor de Deus dura para sempre e pode fazer o mesmo com nossa vida e com nossos vínculos, se nos alimentamos dele.
Por fim, a fé nos leva a reconhecer que Jesus é o pão de vida que pode satisfazer nossos desejos mais profundos, a ponto de que, tendo-o a ele, já não tenhamos mais nem fome nem sede. E este dom é para ser partilhado, pois, como nos diz o Papa Francisco: “Encontrar e receber em nós Jesus, ‘pão da vida’, dá significado e esperança no caminho habitualmente tortuoso da vida. Este ‘pão de vida’, porém, foi-nos dado com uma tarefa: para que possamos saciar ao mesmo tempo a fome espiritual e material de nossos irmãos, anunciando o evangelho por todo lugar”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Por que busco o Senhor? O que lhe peço em minhas orações?
· Admito que todas as realidades humanas são muito valiosas, mas, no fundo, são efêmeras?
· Causa-me desespero aceitar que minha vida tenha fim, tenha data de validade?
· Consegui iluminar esta dimensão obscura do destino humano com a luz da fé e da esperança?
· Aprendi a desejar o eterno, o que não passa e vem de Deus?
· Descobri que Jesus me oferece, em sua pessoa, esta esperança de vida eterna?
· Tenho palavras de esperança para os demais?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, porque teu olhar ultrapassa as necessidades.
Obrigado por me impulsionares a buscar o que jamais tem fim.
Arranca de meu coração todo afã de fixar-me no que é efêmero.
Quem sempre busque o eterno, mesmo que me custe.
Tira-me a sede e o desesperar-me por obter, a qualquer preço,
tudo o que desejo.
Dá-nos sempre teu pão, o Pão da Vida.
Que juntos saibamos partir-nos e repartir-nos
para o bem dos irmãos.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, dá-me o desejo de comer sempre o pão da vida”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Levarei uma palavra de esperança, dita por Jesus, a quem dela necessitar.
“Ele mesmo se fez ‘pão de vida’ a fim de saciar nossa fome com seu amor; em seguida, como se isto não fosse suficiente para ele, converteu-se, ele próprio, em faminto, em indigente, em desabrigado, a fim de que vós e eu pudéssemos satisfazer sua fome com nosso amor humano”.
Madre Teresa de Calcutá