Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros (Mc 10, 28-31)
28 de fevereiro de 2017Pelas trilhas do amor e da entrega (Lucas 9,22-25)
2 de março de 2017Leitura: Mateus 6, 1-6.16-18
Naquele tempo, disse Jesus:
— Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu. Quando você der alguma coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa. Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como fazem os hipócritas, pois eles fazem isso para todos saberem que eles estão jejuando. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando jejuar, lave o rosto e penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E somente o seu Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.
Oração:
Iniciamos o tempo quaresmal com alguns conselhos de Jesus. O texto, bastante conhecido dos cristãos, é cheio de dicas e parece contradizer outros pensamentos de Jesus, que tinha falado que a luz de seus discípulos deveria ser vista por todos (Mt 5, 14-16). Aqui, Jesus julga bom um comportamento discreto, sigiloso, que não se pode notar. Afinal, que quer Jesus?
A aparente ambiguidade se desfaz na oração. A própria palavra traz luz. Jesus afirma que não se devem fazer as boas obras “para serem vistos pelos outros”, mas não condena toda a publicidade das boas obras. A chave para entender se a notoriedade das boas obras é condenável ou não está no propósito: dou a ver minhas boas obras para ser admirado, para aplacar minhas carências e superar meus vazios com o olhar humano ou o faço para que o Pai seja reconhecido e amado?
O mais bonito do texto está na afirmação de Jesus de que “o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”. Sabemos qual é a recompensa do mundo: admiração, fama, elogios, “amizades”, “amores”. Qual é, no entanto, a recompensa que o Pai nos dá, a qual Jesus promete, mas sem defini-la?
Na oração, vê-se que essa recompensa é o próprio Pai. O próprio Amor, que se dá a conhecer e se entrega. O Pai não pode dar menos que si próprio. O Pai sabe que queremos e merecemos mais que fama, elogios, admiração… Ele deseja dar-se. É da sua amizade que temos falta. É do seu amor que temos sede. É da relação com Ele a nossa fome. Queremos seu abraço.
A quaresma é um tempo favorável para trilhar esse caminho. O caminho de reconhecer que a recompensa do mundo não nos sacia e não nos faz felizes de verdade. O tempo de reconhecer que muitas vezes vivemos de migalhas e numa relação com falsos amores. O tempo de olhar para Ele e ouvir: “não se contente com migalhas, pois isso não o/a faz feliz. Não invista seu tempo na conquista das opiniões dos outros. Dê-me tempo e espaço em sua vida”. Aí o converter-se.
Na oração de hoje, temos o prelúdio da cruz e da ressurreição que a supera. A cruz do ser humano é viver mendigando amor e pensar que o encontrou em cada lugar onde o Amor não está. A ressurreição é experimentar que, apesar desses desencontros, o Amor nos deseja e se entrega como fonte para nossa vida.
Nesta quaresma, façamos o propósito da discrição e do silêncio que nos ajudam a olhar para dentro. E que o Espírito nos guie no caminho até a recompensa, que é a própria vida d’Ele em nós.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte